sexta-feira, 23 de dezembro de 2011



23 cromossomos da mamãe, 23 do papai. Alice a caminho :-)
Um Natal cheio de vida a todos!!!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pesadelo aborrecente

Foi numa quinta-feira. Não que fizesse diferença. Ir ao supermercado é um suplício a qualquer dia da semana. No final de semana nem sei como é, porque prefiro passar fome ou ficar sem cotonetes. Mas naquela quinta-feira tudo mudou. Agora, além de detestar ir ao supermercado por motivos óbvios, também tenho motivos reais para evitá-los. Sofri bullying de duas adolescentes em pleno Mundial.

Tudo começou com um corredor apertado e dois carrinhos. Um deles era o meu. O outro era das duas meliantes menores de idade, que o lotaram com pacotes de fralda por pura diversão. Esperei para que elas liberassem a passagem, o que elas fizeram sem chantagens. O problema foi que não ouviram o meu agradecimento. “Diga obrigada!”, disse uma das pivetinhas louras. “Mas eu disse”, respondi, já distraída, seguindo o meu caminho.

Eu ainda não sabia, mas falara a senha mágica que iniciaria uma longa perseguição pelas gôndolas. Durante quarenta minutos, as diabas me seguiram por todos os corredores, se escondendo em seguida para gritarem “Mas eu disse obrigadaa!”, e, quando eu largava o carrinho por um segundo, tratavam de jogar nele objetos os mais variados: tive que deixar em prateleiras erradas um biscoito japonês, uma espécie de volante de plástico que até hoje não sei pra que serve, uma lata de leite em pó e, por último, um quilo de farinha.

Na hora desse último ataque, avistei a mãe da criaturinhas demoníacas, que já passava suas compras no caixa. Peguei o quilo de farinha e fui até ela, sendo precedida pelas loucas mirins aos gritinhos. “Oi, é que elas colocaram várias coisas no meu carrinho, vim devolver uma delas”, disse, tentando ser educada o suficiente para não mandar aquela mãe colocar aqueles seres malignos de castigo até as Olimpíadas. “Ah, desculpe”, ela disse, como quem pede desculpas por um leve esbarrão. Voltei devagar para as minhas compras, tentando escutar alguma bronca em direção às gremlins, mas nada. Só o que eu ouvia eram os arremedos histéricos de antes, agora em decibéis mais altos e com direito a imitações da minha fala, daquelas bem irritantes e esticadas: “Eu vim devolver-êr!”

No final das compras, confesso, já estava com medo das aborrecentes e corri para que não nos encontrássemos na garagem. Temia ser perseguida e já antevia os pesadelos da noite. “Diga obrigada, diga obriga-daa!”, ecoava na minha cabeça, na voz estridente das assombrações precoces.

E eu esperando uma menina. Pega leve, Alice.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

De entrevistadora a entrevistada

Matéria Agexcom Unisinos

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sai da frente que eu quero descer!

Seminário, que seminário? Lembro vagamente de ter falado alguma coisa sobre entrevista jornalística em São Leopoldo, Porto Alegre, na simpática Unisinos, mas as cenas que continuam na minha cabeça são as de um avião chacoalhando, pessoas apavoradas se segurando nas poltronas da frente, outras esverdeadas ignorando o aviso para permanecerem sentadas e afiveladas e correndo para o banheiro, que logo ficaria interditado. Também lembro muito das minhas próprias mãos, suadas e trêmulas, que eu esfregava uma na outra na tentativa de manter algum fiapo de calma.

Eu não tinha medo de voar. Até terça-feira. Nosso avião estava tentando pousar no Galeão exatamente na hora da tempestade, nem um minuto a mais nem outro a menos.

A primeira vez em que um avião arremete, chegando perto da pista e, em fração de segundos, desistindo de aterrissar e levantando vôo de novo, você até agüenta. Sua frio e reza um Pai Nosso, o que surpreende seus neurônios que imaginavam a oração esquecida em algum canto do baú católico, mas agüenta firme. Já na segunda, meus caros, não há monge budista que segure. Principalmente se as duas tentativas forem divididas por um curto intervalo de cerca de dez minutos. Na segunda vez, turbulência a toda, quando o avião sobe de novo você começa a pensar na vida e em onde foram parar os saquinhos de vômito que ficavam nas costas das poltronas antigamente. Então você chega à rápida conclusão de que não pode vomitar e também de que não fez nem metade do que queria fazer na vida. A essa altura as mãos, além de suadas, também ficam dormentes como a ponta do seu nariz.

Depois da segunda tentativa fracassada, o chefe de cabine avisou que estávamos indo para o aeroporto de Confins, em BH. Lá a aeronave seria reabastecida e, se as condições climáticas do Rio tivessem melhorado, ela retornaria.

O quê? Mas nem morta, santa! Eu não ficaria nem mais um minuto naquela lataria balouçante e indecisa. Chamei o comissário, disse que estava muito nervosa e que queria ficar em BH. Adoro BH. Saudades de BH. São ótimos os barezinhos de BH, gente! Perguntei se eu não ficaria presa no avião e ele me garantiu que não, imagina, se um passageiro quiser descer, ele tem todo o direito de fazê-lo. Ufa. Mas não foi bem o que ele anunciou quando finalmente pousamos. O aviso era, simplesmente, de que a aeronave seria reabastecida e que retornaríamos em seguida.

Levei menos de dois segundos para levantar e começar um motim, o que fez a pobre da minha colega de seminário me seguir e, inclusive, me acompanhar. Levei seis amotinados comigo, o que obviamente atrasou a volta de muita gente que ainda era capaz de dar dois passos sem tremer da cabeça aos pés. O meu primo, que é comandante, morreria de vergonha. Disseram até que todos os hotéis da região estavam lotados, o que, percebemos horas depois, era verdade. Mas nada que um motel de beira de estrada, daqueles bem deprimentes, não resolvesse.

Voltamos no dia seguinte depois que o meu primo, aquele que é comandante, que teria vergonha de mim e voltaria de POA naquele dia, me convencer de que seus radares meteorológicos on line previam apenas chuva fina. Titubeei até o último segundo enquanto tentava disfarçar o perigo de novo motim para a minha colega, que provavelmente, dessa vez, me largaria lá sozinha porque paciência tem limites.

Quando chegamos ao Santos Dumont, depois de um pouso perfeito, bateu o cansaço. Estafa fulminante. Estou arrasada até agora. Exausta. Nem sei mais o que vem a ser um seminário, muito menos uma entrevista centrada. Quando eu conseguir raciocinar de novo conto pra vocês como foi o evento. Por enquanto, só sei que não quero andar de avião tão cedo. Mas não contem para o meu primo.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"Não há como a criatura viva evitar a vida e a morte, e talvez haja uma justiça poética no fato de que, se ela se esforçar demais para evitá-las, destrói a si mesma"

Ernest Becker

terça-feira, 8 de novembro de 2011



Foi ao Jardim Botânico e
em frente ao chafariz
quis tirar foto
como se estivesse
em Paris.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Mais um




Parece que virou moda, meninos. Depois da desafiadora experiência na USP, fui convidada para outro seminário, desta vez no Sul, em São Leopoldo. O Seminário Aberto de Jornalismo da Unisinos pretende pensar a entrevista nas suas práticas e nos estudos em jornalismo. Bingo. Meu livro Por trás da Entrevista parece mesmo, nesse caso, muito pertinente.

Graças a esse novo convite, fui empurrada para a releitura de mais um dos meus livros. Acabo de relê-lo nas férias, entre um espirro e outro, e posso dizer que não deu vergonha. Adorei relembrar as conversas e ler por exemplo que, para Sergio Cabral, entrevistar é tirar o melhor das pessoas, ou que a escuta é a chave da entrevista, gênero, segundo Zuenir, muito rico porque envolve dimensões psicológicas, relação, simpatia, afeto. “Cada entrevista é um encontro”, diz.

Estou ansiosa pelo meu encontro com o time da pesada de pesquisadores e jornalistas que se reunirá na pequena e pensante cidade de São Leopoldo. A entrevista, em todas as suas ramificações, é sempre uma surpresa.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Férias estranhas, gente esquisita




Tive férias estranhas. Marido, pra começar, precisou usar a sagrada quinzena de descanso anual para terminar de escrever um roteiro de longa. Decidimos então que ele escreveria em Búzios, pulando de café em café na Rua das Pedras, dinâmica que funciona perfeitamente para ele. Euzinha, acostumada a escrever apenas na minha bat caverna, até hoje acho isso meio estranho, algo como escrever sendo vigiado. De qualquer forma, enfiamos o laptop na mala e nos mandamos para a Via Lagos.

No balneário, que visito desde que me conheço por gente, me deparei com uma ventania inédita, daquelas que embaraçam os cabelos para sempre e te deixam meio surdo. Dentro de casa, janelas fechadas, ela ainda fazia um barulho assustador. Estava frio também, o que numa casa de praia é sempre meio esquisito, por mais que existam cobertas nos armários e casacos na mala. Ah, gente, não é o que se espera da praia, convenhamos, mesmo no inverno. Nossa meteorologia interna é muito temperamental. E eis que a tal ventania macabra fez ressuscitar a minha alma alérgica, que há muito não sabia o que era uma crise tão cheia de espirros que as costas chegam a doer. Quando a coisa toda evoluiu para uma febre, decidimos voltar. Seria ótimo voltar para casa, afinal nada melhor do que ficar doente em casa, certo?

Isso se ela não tiver sido toda pintada nesse meio tempo. O pintor atendeu aos meus apelos e encerrou o trabalho mais cedo, no entanto o cheiro da tinta, aquela que dizem que não deixa cheiro, estava lá, triunfante, rindo dos meus espirros seguidos de lágrimas que não eram bem de alergia. Então tínhamos malas de roupas sujas, um roteiro para escrever, uma alergia bissexta para curar e... nenhum lugar para ficar. Cogitamos amigos e parentes, é claro, mas a logística parecia cada vez mais complicada para um casal que queria ao menos tentar passar o resto das férias (férias?) junto.

Decidimos pela extravagância. Já que estávamos de férias, faríamos check in num hotel. Quem sabe assim a sensação de descanso não seria preservada, pensamos. Pela primeira vez na vida, então, pesquisei hotéis no meu bairro, pedindo inclusive para ver os quartos. Descobri que ou são exorbitantes ou simplesmente ruins. Ficamos em um dos últimos, na Av. do Pepê. Tropical Barra Hotel, pertinho do Quebra Mar e do nosso apartamento semi pintado.
Parecia um bom hotel, inclusive pela diária, mas não posso dizer que adorei ver cabelo no banheiro nem dormir num colchão de mais de 30 anos, daqueles que afundam no meio do quadril e te fazem levantar rapidamente pela manhã, na esperança de ainda conseguir andar. Ah, sim, e também vimos uma baratinha no salão do café da manhã, mas aí já estávamos resignados. Foram quatro diárias (a tinta era mais persistente do que vocês imaginam), e depois de quatro dias num hotel desses, você não reclama de mais nada, nem do cartão que toda hora desmagnetiza e te faz descer até a recepção antes de conseguir, finalmente, entrar no quarto tão aconchegante, tão agradável, tão Relais & Chateaux. E muito menos lamenta o quadro rapidamente eleito o mais feio do mundo, numa imitação misturada e funesta de Kandinsky com Miró. Desculpem, meninos, mas eu precisava mostrá-lo a vocês. Tirem as crianças da sala.

Moral das férias, cambada: não há mesmo nada como a casa da gente, mesmo com a porta da sala pintada só pela metade: dentro de casa ela está linda; do lado de fora, amarelada e descascada. Esqueci de deixar a chave com o pintor.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

sábado, 1 de outubro de 2011

VIP, eu?



Totia Meirelles. Bruno Mazzeo. Marcius Melhem. Maria Paula. Claudio Manoel. Ingrid Guimarães. Helena Ranaldi. Jorge Espírito Santo. Claude Troigros. Sidney Resende (ahá, peguei vocês, esse não é mas devia ser celebridade, porque estamos falando do melhor radialista do país, inacreditavelmente destronado na CBN pela Lucia Hipólito, que pode ser ótima comentarista política, mas como âncora é uma tristeza). Continuemos: Carla Mühlhaus. Leandro Assis. Sim, meninos, vipamos. Fui convidada para o camarote por um dos produtores do festival e cheguei lá excrusiva, com adesivo no carro, pulseirinha e um guarda-costas que também ando chamando às vezes de marido.

Andamos pra lá e pra cá, tomamos coca-cola (estávamos de carro, crianças), experimentamos o Buffet do Aquim, fomos e voltamos do varandão seletivo várias vezes. Numa dessas, aliás, tive a certeza de que o elitismo não tem limites. Dentro de uma área VIP, onde a pulseira é presa com uma máquina que parece querer checar a elegância da nossa pressão arterial, existia uma área...mais VIP ainda! Procurando por poltronas, fiz menção de entrar num curralzinho cheio delas, brancas, gordas e convidativas, mas bastou um olhar gelado do segurança em minha direção para eu gingar o quadril e fingir que errara o caminho em direção ao simpático gramadinho sintético ali adiante – onde sentei de pernas cruzadas, bem blasé. Eu, hein.

Decidimos então ver o povo, a galera, a crowd. Fomos até a ultra patrocinada Rock Street, passeamos, vimos as famílias espalhadas pelo gramado, desta vez comunitário, e o clima alto astral do mundo lá fora. Perto do show do Jamiroquai, trocamos de universo de novo, tentando formar uma opinião sobre qual seria o mundo melhor. Bom, descobri que os VIPS não se dão muito ao trabalho de bater palmas. Também dançam mais discretamente, que deve ser para não chamar a atenção dos jornalistas. Bebem bastante como os mortais, e mais não pude saber porque já estava vidrada no Stevie Wonder e seu show incrível, cheio de interação com platéia, com direito a Garota de Ipanema e tudo. Eu mesma interagi muito, já sentada no sofá de casa, com os pés pra cima e livres do engarrafamento, televisão animadíssima e sanduichinho no colo. Achei super VIP.

sábado, 24 de setembro de 2011

A época-fera

“Não apenas a época-fera tem as vértebras fraturadas, mas vek, o século recém-nascido, com um gesto impossível para quem tem o dorso quebrado, quer virar-se para trás, contemplar as próprias pegadas e, desse modo, mostra o seu rosto demente.”

Não é bárbaro, crianças? Esse é o filósofo italiano Giorgio Agambem falando sobre o contemporâneo, sugerindo que a poesia hoje é um caminhar, sim, mas não um simples marchar pra frente: é um passo em suspenso.

Pensem nisso enquanto estiverem engarrafados no caminho para o Rock in Rio.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Índia, lá e aqui



Acabo de ler A mão morta, de Paul Theroux, lançado aqui pela Alfaguara. Como A suíte Elefanta, que li antes desse, os livros dele me seguram não pelas tramas, um tanto previsíveis, mas pela Índia decrépita que ele é capaz de descrever. A cada livro que passa ela fica pior: mais inchada, miserável, imunda e barulhenta. Mais hipócrita, também, com indianos materialistas e gurus contraditórios. Querem mais? Tomem então crimes hediondos nunca investigados, trabalho escravo infantil e pedaços de corpos boiando no Ganges, o rio mais poluído do mundo e, no entanto, sagrado. Os indianos vão até Varanasi para banharem-se nele e ficarem limpos espiritualmente. O que acontece é que, se ninguém morre depois de se molhar naquela água capaz de contaminar elefantes, provavelmente não morrerá mesmo, nunca mais. É a chancela da poluição química abrindo caminhos mais elevados.

A minha Índia, no entanto, por mais que eu leia esses livros que parecem feitos para varrer pra sempre os estrangeiros de Calcutá, continua mágica. Penso nos ashrams sérios, respiro fundo enquanto recito um mantra sagrado em algum lugar do meu inconsciente e vejo as cores dos sáris, amarelo, roxo, vermelho, e as pinturas de henna das dançarinas, os incensos, e até as samosas e o dhal que eu, é claro, jamais teria coragem de experimentar.
Lembro o que dizem outros livros, como Planeta India, de Mira Kamdar, e o ar vai ficando mais respirável.
O que Paul Theroux não conta, para não estragar suas investidas na ficção, é que a India ultrapassou os EUA e se tornou o segundo destino preferido para investimento direto depois da China, por exemplo, e que, aliás, a essa altura, já deve ter duas vezes mais profissionais com curso superior do que a China. Que abriga a maior população jovem do mundo e que se transforma, rápido, numa potência global que afetará profundamente nosso futuro, provavelmente produzindo energia renovável.

Essa, apesar do Theroux, ainda é a minha Índia. Ao menos enquanto eu não puser meus pés lá.

Abaixo, de brinde, um trechinho do livro de Mira Kamdar pra vocês. O do Theroux não dá para colocar aqui. Assustaria os meus seis leitores.

“Muita gente acha que já é hora de a Índia, um das maiores civilizações do mundo, se recuperar dos terríveis danos da colonização e reivindicar seu lugar de direito entre as grandes nações do mundo. (...) A pobreza do país é sentida por muitos indianos como a suprema humilhação, tirando dela seu status legítimo de potência global, um lembrete permanente da injustiça colonial que pilhou a Índia durante o domínio britânico. Os indianos tem profunda convicção de que, num campo equitativo, eles poderão bater o Ocidente em seu próprio jogo.”

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Good news

Felicidade é terminar de escrever um livro, enviar o original para o contratante e receber um email assim: "AAADDDOOORRREEEIIIIIIIIIIIIII !!!!!!!!!!!!!!!"
Não é uma delícia toda essa inflação de letras maiúsculas, seguida de um superávit de pontos de exclamação?
É isso o que faz a minha economia interna feliz. O resto ela releva.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Histórias do Brasil

Começa segunda, sempre às 22h, na TV Brasil, a série Histórias do Brasil. Produzida pela Conspiração Filmes e com consultoria da Revista de História da Biblioteca Nacional, a série de dez docudramas mostra o brasileiro que está por trás do clichê. Entrevista gente da pesada como Ronaldo Vainfas e Mary Del Priore e, sob o prisma da chamada “história das mentalidades”, conta a história do nosso país desde antes do descobrimento até os dias atuais, mostrando comportamentos, hábitos e costumes do povo brasileiro. São dez entrevistas costuradas a dez narrativas dramáticas. Ou seja, dez histórias bem contadas, uma por dia, por dez dias. Melhor que isso só as mil e uma noites de Sherazade.

Bom, né? Ah, se as minhas aulas de História tivessem sido assim. E o melhor, é claro, conto agora: o roteiro, adivinhem, é do maridão, Leandro Assis. E não é porque o santo é de casa não, mas os episódios, além de interessantíssimos, são lindos.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Tempos modernos

Estou cada vez mais moderna, meninos, e acabei de aprender a usar o Dropbox, recurso que permite o compartilhamento de arquivos pela internet. Graças a ele pude colocar aí embaixo, à distância de um clique, o conteúdo da minha apresentação na USP. Como aos participantes da mesa foi pedido um texto para futura publicação, acabei escrevendo as páginas milagrosamente "anexadas" aqui. Eu não li o texto na hora, mas ele conduziu a minha fala, precavidamente organizada por tópicos.

Sim, as mãos tremeram no começo e achei prudente não tentar levar à boca o copo d’água, no entanto não gaguejei, não perdi o rebolado nem o raciocínio e fiz até as pessoas rirem – não de mim, gente, das minhas piadinhas. Que delícia, aliás, fazer as pessoas rirem. Não me admira mais que a stand up comedy ganhe novos adeptos a cada dia. O prazer de ouvir a risada de uma platéia deve causar até dependência.
Como vocês podem perceber, estou tentando me tornar versátil, falante, tecnológica e engraçada. Ouvi dizer que só assim os escritores sobreviverão.

Apresentação USP

domingo, 21 de agosto de 2011

De Sampa


A pessoa vai a São Paulo participar de um evento importante na USP, faz uma apresentação digna de nota azul no boletim e volta com vontade de comentar certamente as coisas mais bobas da viagem. Deve ter sido o ar seco e poluído respirado por três dias e que dava a impressão de ainda se estar no avião, com tontura, um pouco de náusea e uma pressão esquisita na cabeça. Escritores são seres muito sensíveis, portadores, inclusive, de pulmões e narizes.

Respeitemos então os impulsos, porque é pra isso que serve um blog, e falemos sobre as bobagens: a primeira é que, no banheiro do aeroporto Santos Dumont, há uma cabine com a seguinte inscrição na porta: “Para pessoas de baixa estatura”.

Parei. Olhei de novo para ver se não tinha confundido com um banheirinho infantil. Não, crianças são crianças, e, apesar de pequenas, não costumam ser chamadas de “pessoas de baixa estatura”. Poderiam, até, e devia ser assim na Idade Média, quando as crianças eram apenas adultos pequenos e devia-se economizar muito em brinquedos, mas hoje é diferente. Concluí então que aquele era um eufemismo torto para a palavra anãs. Convenhamos, ficaria estranha mesmo a placa “Para anãs” na porta do banheiro que, imagino, deve lembrar o banheiro da Minnie na Disney. Usar a palavra “anãs” seria, no mínimo, como tudo na vida hoje para a turma dos sem humor, politicamente incorreto. Mas me peguei pensando se uma amiga minha, com pouco mais de metro e meio de altura, não poderia também se sentir ofendida com a placa. E isso, então, não seria politicamente incorreto para com as baixinhas?

A segunda reflexão totalmente dispensável, porém irresistível, aconteceu no avião. Estava assistindo ao canal da TAM, pensando em como a comunicação é privatizável, e li na legenda, depois de uma matéria sobre um destino turístico imediatamente esquecido: “Se você vier com o seu avião, a latitude é...” A frase terminava com coordenadas provavelmente muito úteis para quem tem o seu próprio avião. Agora me expliquem, meus amores, quem tem um avião estaria fazendo o quê apertado num Fokker 100 lotado da ponte aérea?

Fazer o quê. Escrever é estranhar.

No próximo post, refeita da poluição paulista, conto como foi a apresentação na USP. Antes preciso respirar um pouco de maresia.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Vendi o passe

Agora sou chique, meninos, e estou representada pela Shahid.
Quem achar lá a Wally aqui ganha um exemplar do livro Por trás da Entrevista, cujo lançamento foi organizado pela Valéria Martins, hoje minha agente incansável.
Aproveitem. A promoção vale apenas por essa semana. Ou vocês acham que tenho muitos livros sobrando numa caixa de papelão pesada que ocupa um espaço enorme na casa?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Releituras





Uma das maiores fobias de um escritor, geralmente, é reler seu texto depois de publicado. Porque, pensem comigo, se ele já está nas ruas, já e-ra. É melhor não ler para não encontrar algum deslize imperdoável e, agora, indelével. Também é melhor não perceber que, hoje, você escreveria aquele parágrafo com um ritmo diferente, e economizaria um ou dois adjetivos ali na página 15. É duro reler um livro que saiu das nossas mãos, mas que, como filho crescido, já fugiu de casa e aprendeu a fazer uma macarronada sozinho. Parece outro, esse livro, e talvez por isso ele assuste tanto. Sim, escritores podem ser muito dramáticos também.

Fato é que ainda não havia relido A bela menina desde o seu lançamento, em 2008. Principalmente depois de ter levado algumas voltas do revisor, que mexeu no que não tinha que mexer. Livro-testemunho, espécie de desabafo literário, a biografia pedia o tom coloquial da oralidade e não podia correr o risco de certas revisões cegas, como aquela que mudou a frase “Pô, tô fudido” para “Pô, estou fudido”. Gente, quem é que se dá ao trabalho de dizer “estou fudido”? “Você sabe, meu caro, é que me parece que estou fudido...” Não dá, certo?

É claro que foi um descuido do revisor, e neguei educadamente a correção, explicando o que acabei de explicar acima. Mas ela, a revisão cega, acabou passando num fechamento feito às pressas porque as editoras estão sempre com pressa, sei lá porque. E belo dia, quando eu ainda vivia feliz e faceira no desconhecimento de tais problemas, ouvi de um amigo que acabara de ler o livro, no café da Argumento: “Por que você escreveu ‘estou fudido’?”

Faltou-me o ar e logo veio aquela leve taquicardia que também responde pelo nome de raiva. Merda, pensei, querendo matar o revisor, meu mais novo arquiinimigo. Enquanto eu respondia ao meu amigo, deprimida e derrotada, que não havia escrito assim, eu afundava em mais um ano a minha coragem de reler o livro. Só pode ter sido de propósito, bufei em pensamento, imaginando logo outros descuidos do tipo. O revisor deve ter ficado irritado comigo, que não deixava colocar mais vírgulas em algumas frases longas e meio encaracoladas de propósito, que era para dar mesmo a sensação de que aquela vida de viciada era uma corrida sem fôlego. Mas ele haveria de se vingar de mim. Eu que esperasse. Há.

Esperei, e a hora dele chegou. Por causa do seminário da USP, finalmente reli o livro. No entanto, surpresa: fora o caso acima, que qualquer dia resolvo numa terapia qualquer sem precisar matar o revisor, não achei muita coisa para me descabelar ou dizer que estou fudida. Mas também não tive coragem de marcar os tropeços que encontrei, o que seria muito útil numa eventual segunda edição.
Melhor deixar isso para uma terceira leitura, se a coragem for grande. Vai que pinta mais um seminário, nunca se sabe. atenta.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Azulzinho



“Inspira e imagina uma luz azul clara envolvendo todas as vértebras da sua coluna.” Imaginei. “Inspira e agora deixa essa luz harmonizar todo o seu corpo e todos os seus chakras.” Deixei, mesmo sem saber exatamente onde eles ficam, os tais chakras. “Usa essa luz para harmonizar todos os seus corpos: físico, mental e espiritual”. Usei um céu de azul lavado e de fato arrumei a casa depois de uma noite difícil. “Inspira, abre o peito, coração pra frente”. Ok. “Agora vamos fazer três séries de saudação ao sol”.
E aí veio a pauleira. Flexão de braço, sustentação do tronco, alongamento das pernas e do quadril, força no abdômen. Penei como sempre, e como sempre tive os insights que costumo ter duas vezes por semana e depois esqueço. Enquanto estava lá, ralando e argumentando com os meus músculos que eles podem, sim, cumprir aquela rotina de exercícios, de novo me dei conta do óbvio: é muito tentador, sempre, fugir das dificuldades. Seria muito mais fácil acordar com preguiça e simplesmente matar a aula. Ou desistir logo de realizar sonhos que insistem em não se concretizarem. Mas yoga, de certa forma, também é luta e disciplina. E desafio. Como na vida.

sábado, 16 de julho de 2011

Começo a entender: no FB todo mundo quer parecer cool e engraçadinho. No twitter, antenado e bem informado. No Instagram, artisssta. E eu ainda querendo parecer apenas humana. Bobinha.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um tal de Santuário do Vampiro começa a me seguir no twitter. Compro alho?

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A bela menina na (gasp) USP




E a bela menina ainda dá o que falar. Literalmente. Acabo de ser convidada para o IX Encontro Regional Sudeste de História Oral, que acontecerá de 16 a 18 de agosto, na USP. Participarei da mesa "História oral, depoimentos e mídia", que pretende discutir as várias possibilidades de difusão de histórias orais por meio de recursos como arquivos, sites, filmes, livros. Por enquanto, tenho como colegas de debate Ana Maria Mauad (UFF) e Karen Worcman (Museu da Pessoa). A partir da minha experiência com a biografia da Ana Karina, falarei sobre a história oral sob o ponto de vista do mercado editorial.

Quer dizer, ao menos é isso o que espero. O que não lembrei, antes de aceitar impulsivamente o convite, é que tenho certo pânico de falar em público. Da última vez que colocaram um microfone na minha frente e me pediram para falar sobre o mesmo livro, meu coração quis escapulir pela boca e minha voz ficou falha e covarde. Enquanto tentava falar de maneira mais ou menos inteligível, ouvi uma mulher comentar, do outro lado do auditório: “Nossa, ela tá roxa!”

E agora, gente, o que faço? Tenho pouco tempo, portanto não adianta sugerirem terapia. Só se for de choque. Hipnose também não me anima. Tenho medo de não voltar. Ou voltar tagarela. Odeio tagarelas. Pensei em três soluções:

1)Pedir as gotinhas de Rivotril da Ana emprestadas
2)Pedir as gotinhas de Rivotril da Ana emprestadas
3)Pedir as gotinhas de Rivotril da Ana emprestadas

Sim, o desespero mina a minha criatividade na mesma proporção que uma platéia derruba o meu raciocínio.
Acudam. Aceito sugestões, conselhos, curandeiros e simpatias. Mas sejam discretos e não contem sobre esse apelo para o organizador do evento, o jornalista, pesquisador e produtor cultural Ricardo Santhiago. Foi ele quem me convidou para a mesa, dois anos depois de ter escrito, para a Revista Oralidades, a melhor análise sobre o meu trabalho que já li até hoje. Falei sobre o ensaio aqui, no post Deus e a bela menina. Até então, nunca alguém havia me explicado tão bem o que eu faço. Aprendi várias coisas sobre o meu processo criativo, sobre o meu texto e sobre mim mesma. Só não aprendi a falar sobre tudo isso. So-cor-ro.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sigam-me no twitterrrrrrrr

Agora também estou no twitter, cambada. Para quem está acostumada ao escreve escreve diário, lançar lá uma frase só é uma delícia, principalmente quando ainda não há seguidores e, portanto, nenhuma responsabilidade. Dá até medo de ficar adicta e perder as frases para o vício.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Quem não assistiu Mulher Invisível ontem... Já para o youtube!

sábado, 2 de julho de 2011

Facebook V

Não é por nada não, mas ficar dando bom dia e boa tarde no FB não é um pouco demais? Afe.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Facebook IV

Acabei de encontrar dois erros inacreditáveis nos meus textos. Não que eu não erre nunca, mas costumo passar com nota 9 no corretor ortográfico. Será efeito colateral da terra sem gramática do FB?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Scott Lindenbaum e McLuhan: seremos elétricos


Em tempos de mudernidade, escreverei mais ou menos como se tuíta, em pequenos tópicos (com mais de 150 caracteres, é claro, porque não sou tão moderna assim) e aspas para o cara da vez, Scott Lindenbaum. Falemos sobre o Oi Cabeça, que repensa os rumos da narrativa diante da tecnologia e recebeu ontem o cofundador da revista americana Electric Literature. É uma revista literária como outras, que publica trimestralmente cinco contos. A diferença é que ela joga nas 11 (ou 5, por enquanto): formato impresso, ebook, iPad, iPhone e PDF por e-mail. Já é um sucesso e incomoda editoras tradicionais. Criada em 2009, já publicou autores de peso como Michael Cunningham, Rick Moody e Lydia Davis.

O evento, realizado no Oi Futuro, teve tanta audiência que jogaram almofadas no chão para o povo dos sem senha, do qual eu fazia parte. Saí de lá três horas depois com uma dor lancinante no quadril e nos joelhos iogues, mas feliz, antenada e esperançosa. O livro pode até acabar, mas os escritores sobreviverão como as baratas do apocalipse.

Em seguida, o que consegui anotar no escuro enquanto perdia a sensibilidade das pernas:

- Tudo o que Scott Lindenbaum tinha em mãos, depois da faculdade e antes de criar a revista, que já amealhou mais público do que muitas editoras tradicionais americanas (já são 150 mil seguidores só no twitter), era um “otimismo insano”. Anotem esse ingrediente.

- “Percepção é realidade”, e tudo o que eles queriam, a princípio, era tornar a literatura interessante e divertida para outros públicos, e se divertirem enquanto faziam isso. A julgar pela animação do rapaz, piadista como todo bom americano e muito interessado em experimentar a nossa caipirinha, conseguiram.

- Talvez McLuhan não estivesse tão certo assim ao dizer que as novas tecnologias trazem, junto com a comodidade, a capacidade de minar nossos sentidos. Com o projeto BROADCASTr, Scott conseguiu recuperar a força da história oral, “linkando” os lugares com suas vozes. “Toda voz precisa de um espaço”, e, com a ajuda da tecnologia do GPS e do andróide Broadcast Receiver, 500 histórias podem ser ouvidas pelo celular em Manhattan, cada uma delas relacionada ao local onde se encontra o leitor/ouvinte. Então pode-se caminhar pelo quarteirão do WTC e, tocando no mapa através da tela do telefone, ouvir os relatos de um bombeiro que trabalhou nos resgates do atentado terrorista. Wow: isso é como dar um ouvido para um olho, desentortando a frase do guru canadense, interessado em explicar que o órgão dominante dos sentidos e da orientação social nas sociedades pré-alfabeto era o ouvido, e que o alfabeto fonético forçou o mundo mágico do ouvido a se deslocar para o mundo neutro do olho: “Foi dado ao homem um olho para o ouvido”. Agora parece que estamos quites.

- As livrarias tradicionais estão de fato com os dias contados. O livro vai se tornar, em breve, um fetiche como o LP. Por enquanto, as vampire novels sustentam todos os outros livros que não vendem suas tiragens. Engraçado. No mercado editorial são os humanos que sugam o sangue dos vampiros.

- A Eletric Literature trouxe, de certa forma, a experiência visual para a literatura. Mas a imaginação continua sendo mais importante, garante o editor. Lembrem de fechar os olhos.

- Estão a salvo os editores, desde que eles trabalhem a intuição e o bom gosto editorial. E de novo me lembro de McLuhan escrevendo que, quando todos os recursos e energias disponíveis já foram usados em um organismo ou estrutura, há uma certa reversão do modelo, uma volta ao “olhar para dentro”. Sobreviverão aqueles que, como Andy Warhol, “editou pessoas” ao se unir a seres com a mesma “gravidade específica” como Tom Waits e Jim Jarmush, quando ainda não eram famosos. “Densidade de idéias criam cenas que, com o tempo, criam movimentos”, disse o editor elétrico. Foi aplaudido com faíscas.

Devo dizer ainda, apenas em homenagem à minha autoestima, que sempre pensei no livro como um conjunto de símbolos mais ou menos integrados, diferente do trabalho autoral. É bom pensar a escrita como a metáfora acústica e visual que estabeleceu as dinâmicas da civilização ocidental, mas ela é muito mais do que isso. O livro é uma extensão do olho.

"In the eletric age we wear all mankind as our skin."

Marshall McLuhan

terça-feira, 21 de junho de 2011

Da série Eu era melhor aos vinte



Depois que entrei no FB e me dei conta, resgatando contato com amigos da época da PUC, de que me formei há 15 anos (não espalhem), dei para revolver alguns textos da faculdade - aqueles que o word ainda aceita abrir. Impressionei-me. Já naquela época eu sacava que o jornalismo não era bem assim essa maravilha. E fiquei me perguntando se eu era mais espertinha naqueles tempos ou se hoje apenas me falta um tema, um prazo e um professor.

O tempo não pára


Essa aí de cima é uma das questões que mais vem me assolando ultimamente. Fiz 21 anos há pouco tempo e adquiri a sensação de que a partir de agora tenho poucas chances até a reta final. A sensação, sem exagero, é de estar constantemente com uma forca no pescoço. É isso, a forca do tempo. Parece que tudo tem que ser resolvido agora, senão vai ser tarde demais. Tarde demais para seguir carreira, para mudar de país, escrever um livro, ter um filho ou plantar uma árvore. Tanto faz. Daqui a pouco já vai ser tarde demais para tudo.

Que outra sensação eu poderia ter, se todos os dias travo verdadeiros desafios com os ponteiros do meu relógio? E o pior: com o meu e com os ponteiros dos outros. Às vezes me pego imaginando onde esses dias de fúria vão parar. Provavelmente em algum hospício. Daí vejo o cartaz de estréia do filme "Adorável Professor", de Richard Dreyfuss. Não acredito que o filme seja bom, mas a frase de apresentação, emprestada de John Lennon, não podia ser melhor: "A vida é aquilo que te acontece enquanto você está ocupado fazendo planos".

É incrível como a gente se adapta a fazer tantas coisas ao mesmo tempo. Tomar café, almoçar e jantar lendo o jornal, que é para poder ler tudo, tudo mesmo. Dirigir e fechar detalhes de negócios no celular, escrever no computador e falar ao telefone. Enfim, viver vidas paralelas e que se dizem "eficientes". Juro que tenho lá minhas dúvidas. E também um pouco de vergonha de me declarar adepta daquela velha frase que diz que a pressa é inimiga da perfeição. É que isso é um pouco contraditório para os dias de hoje, mas confesso que minha intuição me diz que não há nada mais sensato e leve para a alma do que o vagar dos atos.

Mas e o jornalismo, o que fazer com este fastasma, esta reencarnação do coelho apressado de Lewis Carrol em Alice no País das Maravilhas? Escrever, afinal, não é algo que os dedos façam automaticamente. Poderia ser, mas felizmente não é. Não é porque antes de redigir as pessoas precisam pensar, graças a Deus. E na maioria das vezes elas estão pensando no tempo, invenção de apenas alguns milênios, mera convenção. E como sociedade alternativa não é o meu forte, também dedico boas parcelas do meu dia pensando nessa frase que mais parece uma condenação. O tempo não pára, eu sei que não e o problema é justamente esse.

Bem que o coelho de Alice poderia entender que é tudo uma questão de ótica, de contrastes entre paulistas e baianos, japoneses e brasileiros, Robson Crusoé e Sexta-feira. Acho até que entendem, mas não ousam falar vírgula sobre o assunto. Afinal de contas, quem reclama de escassez de tempo é preguiçoso. E por mais que este seja um julgamento injusto, não há tempo para desmenti-lo. Por mais que ainda restem toneladas de peso na minha consciência por tudo que ainda não fiz a tempo e temor dos dias em que vou ver as horas escorregarem pelos meus dedos, não há mais tempo para escrever.

E no jornal, professor, como vai ser? Levei cerca de meia hora para escrever este texto, será que é uma média razoável para alguma redação?

sábado, 18 de junho de 2011

Facebook III

Se eu já fosse uma facebookmaníaca postaria lá agora:
"As árvores são fáceis de achar / Ficam plantadas no chão
Arnaldo Antunes é FODA!"

Só não postei porque ainda não sei muito bem como funciona a etiqueta em relação a palavrões. Aqui é fácil, é só pedir depois desculpas às crianças. Desculpem, crianças.
E não deixem de ver na primeira oportunidade, e essa é para adultos também, o show "Arnaldo Antunes ao vivo lá em casa", feito de fato na casa dele, em SP. Assisti rindo e chorando ao mesmo tempo, pensando no incrível artista que ele é e em como também quero ter, um dia, um telhado de poesias resistentes a pedras e trovoadas.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Facebook II

Eu já entendi que no FB as pessoas escrevem curtinho, com pressa, como quem já está em outra, virando a curva. No entanto as palavras, que deveriam ser econômicas, costumam ser espichadas, como amigaaaaaa, saudadessss, bjsssssssss. Para pessoas que consideram muita coisa dois segundos de prosa, isso me parece uma desnecessária perda de tempo no teclado. Vai entender.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Facebook I

Reencontrar amigos no facebook é como fazer uma entrevista de trabalho: você tem que contar em dois minutos o que fez nos últimos dez anos.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dias perfeitos


Escritores estão sempre em busca de dias perfeitos. Dias perfeitos são aqueles em que a internet não dá pau e você não tem que chamar o técnico da Net; em que nenhum cliente resolve marcar uma reunião de última hora e matar a tarde reservada para escrever aquele capítulo tão planejado, mas tão planejado que se não for produzido logo terá seu esqueleto esquecido e aí será preciso ler de novo todo o planejamento e, consequentemente, todas as anotações em post its espalhados por pilhas de papéis; em que você não esquece de sacar o dinheiro da faxineira, ah, o dinheiro da faxineira; em que você também não esquece de comprar, no supermercado, algum ingrediente fundamental para o jantar que costuma preparar nos solstícios de inverno de anos bissextos; em que você não perde a hora de manhã porque na noite anterior decidiu ser sociável alguma vez na vida e compareceu a um evento importante, indo dormir de madrugada; em que, enfim, as coisas simplesmente não acontecem para que você possa, timidamente, acontecer.
É claro que, com o tempo e a experiência, os escritores aprendem que os dias perfeitos só existem na imaginação. O que não faz, curiosamente, com que eles deixem de acreditar neles e assim buscá-los no calendário como quem procura por um feriado mundial incontestável.
São como cachorros tentando morder o próprio rabo, esses ingênuos escritores. Com a diferença de que cachorros existem, ao menos até que digam o contrário.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Todo chato cutuca





Depois de muita insistência e algumas ameaças, capitulei. Não tive saída. Entrei para o Facebook. Uma amiga muito antenada com mais de mil amigos me ensinou que o legal é falar feicebuque, com ênfase nas duas últimas sílabas. Usar a pronúncia americana pega mal, ela disse. Imagino que deva ser coisa de dinossauros anacrônicos e colonizados. Enfim. Entrei para o FB, para os íntimos (não sei se falar assim é cool, gente, tenham paciência comigo).

Há tempos, quando eu ainda gozava a marginalidade digital e não sabia o que era levar uma cutucada na rede, ouvi a mesma amiga antenada dizer estar com um post atrás em relação a um possível affair que emergira na rede. “Estranho, ele tem só 40 amigos”, analisou, como quem avalia atentamente um OVNI. “Se eu entrar nisso aí não vou ter nem vinte!”, falei logo, olhos arregalados e ouvidos incrédulos.

Bom, eu estava errada. Meu marido e eu andamos competindo perna a perna o número de amigos e nós dois, que entramos juntos na seara dos recadinhos apressados há 48 horas, já temos mais de 50. Ele ainda leva vantagem, mas isso é porque desrespeitou o horário do fim da competição, ontem de madrugada, quando ficamos separados por computadores gritando novos nomes. “Aninha! Lembrei da Aninha!”, um dizia, e saía correndo para adicioná-la. Apelamos para amigos de infância. “Assim não vale, tem muita mulher aí!”, eu reclamava, enquanto pesquisava na página pela minha cidade natal. Não encontrei ninguém que pudesse adicionar, o que me fez pensar que aqueles gatinhos da sexta série devem estar todos carecas ou de cabelos brancos, barbudos ou simplesmente irreconhecíveis. “Não vale, eu trabalho em casa, não tenho colegas de trabalho!”, ainda repliquei enquanto via a galera crescer na página dele, mas não colou. Continuo atrás na pista.

Fui contaminada, é claro. Mal consigo escrever enquanto espero confirmações importantíssimas para a minha sobrevivência pessoal e profissional. Era o que eu temia. Meu sistema límbico reptiliano foi comprometido. Estou mais conectada, no entanto desatenta. Mais sociável, porém ensimesmada, literalmente (presa em mim mesma).
Esse frenesi deve passar com o tempo, penso. De qualquer forma, não tem mais jeito. Como diria o guru McLuhan, meus sentidos já foram comprometidos pela tecnologia.
Agora só me resta cutucar os outros.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mulher (in) visível



Viram Mulher Invisível ontem? O seriado, baseado no filme homônimo de Claudio Torres, é coisa fina. E não estou falando isso só porque o maridão, Leandro Assis, é um dos roteiristas. A série, com Selton Melo, Luana Piovani e Debora Falabella, deixou pegadas firmes no ibope e nos trending topics do twitter, ontem, com direito a reproduções de frases marcantes e tudo. Sucesso total. Roteiro redondo, com humor e profundidade, coerente mesmo no ritmo alucinante da TV, direção de arte elegante e atuações brilhantes. E pensar que Selton Melo quer ir definitivamente para trás das câmeras. A vida é estranha como a arte.

Agora, o que ninguém sabe é que é muito divertido ser mulher de roteirista. Uma das falas da Amanda, e não vou falar qual nem sob tortura, foi inspirada em moi. Isso mesmo, queridos, em minzinha. Há! Luana Piovani, tremei!
Não percam o próximo episódio, dia 14/5. Recomendo com todo o meu charme de mulher de carne e osso.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Digitalizem-se

Infelizmente não poderei fazer, mas está imperdível o curso Editando Livros Digitais, da Estação das Letras. Ementas quentíssimas e antenadas sobre os mercados nacional e internacional de e-books, novas narrativas, impressão sob demanda e marketing digital. Gente boa como Cristiane Costa (curadora do Oi Cabeça, que está rolando no Oi Futuro) e Newton Neto (Singular)entre os professores - todos, ao que parece, muito gabaritados.
Acessem o site da Estação e sigam os links da hora. O futuro aconteceu ontem, meninos.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

OUTROS TEMPO$




De vez em quando lembro que também sou jornalista e boto as mãos meio enferrujadas na massa. O militar ainda me manda relatórios sobre os capítulos, mas bato continência e considero que o livro dele está terminado. Ou quase, porque os livros só terminam mesmo quando param em pé nas prateleiras das livrarias. Mas o considero terminado o suficiente, enfim, para começar a pensar no outro livro, o do restaurante italiano que completa 30 anos de salão neste ano. O dono, de família de imigrantes, tem pai, avô e bisavô no ramo, esses dois últimos conhecidos por terem criado, em São Paulo, a primeira confeitaria da cidade e uma das primeiras pizzarias com forno a lenha.

Preciso pesquisar isso tudo, pensei. E não só no Google. O Google pode ser, como bem definiu meu marido, Deus se mostrando aos pouquinhos, mas ainda não é, surpreendentemente, tudo na vida (mas vai chegar lá, é claro).

Então parti para os CPDOCs – centros de pesquisa e documentação dos jornais, para quem não pescou a sigla. A sigla, como me explicou o militar, é uma sequência formada pelas letras ou sílabas iniciais de palavras que constituem uma expressão. Não sei se deu pra entender.

Well, well. Fato é que percebi que ser pesquisador, hoje, é coisa de gente rica. A não ser que você se dê ao trabalho de rezar uma semana antes e reunir fé suficiente para ir até o Arquivo Público, você terá, caro repórter, que desembolsar algum dinheirinho. Na agência do Globo, por exemplo, duas horas de pesquisa, que devem ser devidamente agendadas com antecedência (eu só consegui horário para a próxima semana), custam R$ 50. Isso mesmo. R$ 50 para ficar lá vendo as pastas já previamente separadas para a sua pesquisa, que não poderá levar mais do que duas horas, mesmo que você esteja disposto a pagar caro por elas. Imagino que, prazo expirado, algum segurança de terno e fone no ouvido nos convide gentilmente a procurar o caminho de casa. As cópias e os fac-símiles das matérias, é claro, são cobradas à parte. Não quis nem perguntar quanto seria para conseguir uma autorização de reprodução em livro. Deixaria lá as saias, provavelmente.

Na agência do Estadão, antes mesmo de encomendar a pesquisa, é preciso fazer um orçamento. Só depois é que você recebe (ou não) uma pesquisa preliminar e escolhe o que vai querer de fato. Como lá não encontraram praticamente nada, devo ter economizado uma fortuna.

E o JB, que nem me responde? Já no telefone, o ser muito simpático que me atendeu sugeriu: “Escreve no email que é urgente”. Escrevi. Até agora não adiantou nada.

Saudades da época em que eu até marcava o dia de pesquisa, mas ficava à vontade no prédio do JB, o tempo que quisesse, pagando apenas pelas cópias dos jornais. Ou do tempo em que O Globo cobrava, pelo mesmo serviço, uma taxa quase simbólica. Ao telefone, o carinha da pesquisa concordou comigo que os tempos são outros. “Viramos uma empresa SA, sabe como é”.
Sei. Sei bem como é.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Acordou decidida a ser piegas. Faria daquele dia um feriado da pieguice. Começou dando bom dia ao papagaio e elogiando suas cores, arco-íris da natureza em forma de penas. Depois desejou um ótimo dia de trabalho ao marido, dizendo que ela estava muito bonito com aquela camisa pólo azul. Sorriu caprichado para o porteiro. Terminada a aula de ioga, em que ficou de cabeça pra baixo por deliciosos três minutos, fechou os olhos e agradeceu a oportunidade de estar viva ali, naquela sala, com aquelas pessoas e aquele corpo menos enferrujado a cada dia. Agradeceu a si mesma por permitir-se aquele autoconhecimento em passos persistentes e evolutivos. Espanou a vergonha, olhou fundo para a professora e disse que ela era um ser muito abençoado. Almoçou feliz uma salada colorida e sorriu para a garçonete, para o cara do caixa, para o carinha do estacionamento, para a senhora que queria passar na sua frente na fila. Voltou pra casa dirigindo devagar, sentindo o motor suave do carro, trocando as más notícias do rádio por música, e assim que virou a chave de casa correu para o computador. Estava decidida a ser piegas.

sábado, 30 de abril de 2011

God save the Princess



Não posso deixar de comentar o casamento real. O que seria dos escritores, afinal, sem os contos de fadas?

Houve quem achasse uma patetice assistir ao casamento, olhos grudados em cada detalhe como o buquê de murta, a linda renda francesa do vestido da noiva e o uniforme da Guarda Irlandesa usado pelo príncipe. Eu mesma me senti meio ridícula ao me emocionar vendo os dois trocarem comentários descontraídos no altar. Sou romântica, gente, fazer o quê?

Fato é que muito da história de vida de todas nós, mulheres ocidentais, está lá naquele DNA azul. Colonizadas que somos, aprendemos que casar de branco é lindo e assim é até hoje. Eu mesma tive um casamento de princesa, num lindo jardim em Itaipava decorado com margaridas. Tivesse tombado para o feminismo raivoso e dispensado toda aquela delícia de ritual, aposto que estaria hoje arrependida. Quando vejo as fotos do casório sinto, além de um nozinho na garganta, uma profunda felicidade por ter me permitido acreditar em cinderelas. Se contasse ainda que empunhei um buquê feito com todo carinho pela minha mãe, vocês veriam aonde quero chegar.

O amor é belo e persiste, meninos. Se em pleno século XXI um príncipe leva uma plebéia para o altar e comove bilhões de pessoas ao redor do mundo, conquistando audiência maior do que a do terremoto japonês, é porque o romantismo e a esperança ainda não acabaram. Até uma prece o casal escreveu junto, para ser lida na igreja. Digam o que quiserem, mas isso tudo é mesmo emocionante.
Acho até que os 70% dos britânicos que ainda apóiam a monarquia não estão nem aí para o regime monárquico. O que eles querem mesmo, no fundo, é a chance de poderem ver outros casamentos como esse.

“O último dos mendigos tem sempre um nadinha de supérfluo! Limitai a natureza às necessidades naturais e o homem se torna um animal”

Shakespeare

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O coelho indica




Serrote é tudo de bom. Revista de ensaios, artes visuais, idéias e literatura do Instituto Moreira Salles, a publicação consegue, simplesmente, reunir o fino do fino da bossa. São textos que iluminam as sinapses e nos fazem ter certeza de que pensar ainda vale a pena. E então temos os excelentes ensaios de Beatriz Sarlo sobre o animal político da web e o de Louis Menand sobre o escritor Salinger, por exemplo. Lendo Menand, aliás, e relembrando o personagem de Holden, percebi o quanto grudei em O apanhador no campo de centeio. Vejo influências desse livro em meu trabalho até hoje, se vocês querem saber.

A revista 7, já editada pelo craque Paulo Roberto Pires, também traz fotos pungentes de Edu Marin sobre os estragos feitos pelas enchentes da região serrana fluminense. Nelas não aparecem vítimas, mas marcas de vidas interrompidas, vestígios de um cotidiano devastado pela natureza. De cair o queixo e doer o peito.

Querem uma sugestão? Aproveitem o feriadão para darem um pulo ao IMS. Vejam as ótimas exposições sobre o carnaval e a família imperial, depois tomem um café e comprem a Serrote. Programão.

Boa páscoa, crianças.

P.s. Para quem não sabe, a Serrote também é vendida em algumas livrarias, como a da Travessa. Mas no IMS sai mais barato.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Kitsch, kitsch




A capa nova do sofá, vinho berrante, não funcionou. Sei lá onde eu estava com a cabeça, gente. Deve ter sido o filme da Frida Kahlo que vi um dia antes de escolher o tecido. Fiquei louca com aquelas cores e queria aquilo tudo pra mim. O único problema é que agora preciso me mudar para o México. Hoje as duas, a capa e a parede laranja, disputam para ver quem grita mais alto pelas minhas costas, enquanto tento jantar: “Ela é louca! Loooouca!”. Pobrezinhas. Deve ser duro me terem como dona de casa.

A diversão ultimamente, entre meu marido e eu, é descobrir o que mudar no ambiente para salvar o sofá. Pintamos a parede de branco? Mudamos todos os outros móveis? Tiramos o tapete? O piso? É claro que a opção mais sensata é engolir o preju e mandar fazer outra capa. Mas aí não tem graça, meninos.

Em homenagem ao poder do vermelho, então, eis aí acima uma foto do Bruno Veiga, grande fotógrafo com quem tive o prazer de trabalhar na minha época de freela da Casa Cláudia. A foto faz parte da série Subúrbio, e lembra mesmo a casa do meu avô, em Jardim Primavera, reduto de alemães fãs de paredes revestidas com cacos de ardósia.

Quando freqüentava a casa do meu avô eu era muito nova, tinha dois ou três anos, mas lembro do ambiente até hoje como se estivesse vendo um filme da Frida Kahlo. Lembro da enorme porta de correr de couro com tachas douradas, da lareira, do salão de jogos com mesa de sinuca, da enfermaria (meu avô era médico), da mesa retangular na enorme varanda, do campinho, dos divertidos anões de jardim. Era uma casa engraçada e kitsch, como não poderia deixar de ser. Uma das raízes dessa palavra, aliás, é alemã – verkitschen – e, injustamente, é usada para definir objetos de valor estético distorcido. Mas o kitsch é muito mais do que isso.

Pensem na Carmem Miranda, no tango, nos filmes do Almodóvar, no pingüim de geladeira. Isso é o kitsch: nem cafona, nem brega e tampouco de mau gosto. Feito para sonhar, está acima de qualquer estereótipo. Ele homenageia o bom humor e sapateia pelo clássico, flerta com o lúdico ou revela seu lado cult através da arte pop, que o tornou mais conhecido mundo afora. Acima de tudo, é inocente: ao brincar com a arte e com o exagero, também busca a infância perdida. A origem do termo remete à idéia travessa da cópia, surgida no século 19, na Europa. Foi nessa época que turistas norte-americanos começaram a pedir aos pintores que fizessem apenas esboços (sketch) de quadros, que poderiam então ser vendidos mais baratos. Depois vieram as grandes magazines, os supermercados, os eletrodomésticos coloridos, e ficou mais fácil levar o kitsch pra casa.

Na casa do meu avô, o Opa, o kitsch tinha ainda outra simbologia: a despreocupação. Era uma casa desencanada como a Sandy não é, estava conectada em banda larga ao prazer e reservaria para as revistas de decoração o espaço nobre da lareira (acesa). Não era uma casa de capa de revista. Nem de miolo. E por isso mesmo era tão inesquecível.

P.s Terminei o livro do militar. Como a Dilma já levou a medalha de grã-Mestre da Defesa, eu me contentaria com uma estrelinha de honra ao mérito.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Feliz site velho


Como a empresa de hospedagem faz questão de me avisar diariamente, a licença de uso do domínio do meu antigo site, o www.acasadomoinho.com, expirou. Hoje ele se despede da vida cruel e deixa em seu lugar o fiel representante da wordpress, que vocês seis já conhecem (vejam aí ao lado o link pra ele, gente).

Aquele foi o primeiro site e, de certa forma, dá tristeza abandoná-lo. O desenho da página principal, arrematado com logo criado pelo marido, tem enorme valor sentimental. Esses quadradinhos eu desenhava na infância, com giz de cera, e andava sempre com eles nos bolsos das minhas calças adidas. Quando ficava triste desdobrava o papel e olhava para aquele colorido todo. Estava descobrindo, intuitivamente, os poderes da cromoterapia. Deve ser por isso que até hoje adoro uma cor. Como não tenho coragem de abusar delas no armário, acabo colocando cor na casa. Já tenho uma parede laranja e acabei de encomendar, para o sofá da sala, uma capa vinho. Chega domingo. Estamos apavorados.

Mas precisamos jogar fora as coisas velhas para abrir espaço para as novas, é o que sempre dizem. E o novo site é mais profissa, mais ágil, mais objetivo. Só não tem poesias. Essas ficaram no velho e agora, quando acham de acontecer, rumam direto para o blog sem intermediários. Com pena das antigas agora desabrigadas, resgatei umazinha. Para lembrar que todo adeus é tristonho, mas tem seu valor.

Não fujam da angústia, meninos. Ela sempre cobra dividendos. Feliz site velho pra vocês também.


Angústica. A angústia que estica e não está no dicionário. Sim, porque, se estivesse, não seria angústia de verdade. A angústica não se cura com verbetes nem glossários nem bulas testamentosas. Esta aí só com a morte. Mas aí ela deixa de ser angústica. Vê-se, assim, que é uma questão sem solucionamento, que é: vir sempre desacompanhada de solução e pensamento. Ela é feita de emoção densa, espessa, escura, viscosa e muitas vezes chorosa, mas, note-se, não sempre. Ela também passa despercebida num rosto calmo (e principalmente educado). Ela é discreta, mimética, nada dialética. É fácil identificar, na verdade. Basta não saber explicar.

terça-feira, 15 de março de 2011

Pisando em...cascas


Como todos, ando aturdida com a sucessão de desastres do Japão. Mas a mente humana é a coisa mais estranha. Dentre tantas informações impactantes, fui me prender logo a uma metáfora usada pelos especialistas para explicar a fragilidade do solo japonês. Segundo eles, é como se os japoneses vivessem sobre uma...casca de ovo!

Casca de ovo é das coisas mais frágeis que conheço. Mas também é prenúncio de vida. Ou de omelete. É ainda protagonista da questão existencial mais antiga da humanidade, aquela que pergunta quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. O ovo também é ovo de Páscoa, ah, vocês entenderam, casca de ovo é algo muito marcante, gente, muito presente no nosso inconsciente.

Então a pessoa assiste o noticiário e lê obsessivamente os cadernos especiais, morre de pena dos japoneses lá do outro lado do mundo, se espanta com a tal comparação do ovo e vai dormir com aquele turbilhão na cabeça, pensando na ironia que é um solo tão frágil servir de base para um país tão sólido, educado, rico e poderoso.

Claro que não podia dar em boa coisa. A minha mente (de vez em quando ela apronta, meninos, já tentei de tudo mas ela não obedece), numa tentativa enviesada de lidar com a tragédia e incapaz de escrever um belo haikai, apelou para a comédia de mau gosto e estilo discutível. E me mandou escrever o seguinte:

Casca de ovo quebra
Gema mole não
Gema esparrama
Casca de ovo não
Gema faz gemada da boa
Já com casca não é bom não
Cascadura enfim não é mole
Mole mesmo é gema no pão

Vai entender. Graças a Deus não sei escrever em japonês.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O filósofo Proust



"Porém mesmo do ponto de vista das coisas mais insignificantes da vida nós não somos um todo materialmente constituído, idêntico para todas as pessoas, e de que cada um não tem mais que tomar conhecimento, como se tratasse de um livro de contabilidade ou de um testamento; nossa personalidade social é uma criação do pensamento alheio. Até o ato tão simples a que chamamos “ver uma pessoa que conhecemos” é em parte uma ação intelectual. Preenchemos a aparência física do ser que vemos com todas as noções que temos a seu respeito, e, para o aspecto global que nós representamos, tais noções certamente entram com a maior parte. Acabam por arredondar tão perfeitamente as faces, por seguir tão perfeitamente a linha do nariz, vêm de tal forma matizar a sonoridade da voz como esta fosse apenas um envoltório transparente, que, cada vez que vemos esse rosto e ouvimos essa voz, são essas as noções que reencontramos, que escutamos."


Sempre achei que Proust era tão filósofo quanto escritor, assim como sempre suspeitei que a filosofia passeia pela literatura muitas vezes com mais desenvoltura do que nas ditas ciências sociais. Está aí acima, num trechinho de No caminho de Swann, uma pequena prova. O escritor, com muito mais melodia e elegância, destrincha o conceito do “outro generalizado”, de Mead. De quebra, no mesmo parágrafo, desliza também pela sociologia e pelo conteúdo de A representação do eu na vida cotidiana, de Goffman, livrinho que a gente lê na faculdade e acha o máximo. Depois os anos tratam de mostrar que não é bem assim. Ou que outros explicam a mesma coisa de um jeito infinitamente melhor. Como Proust e seu Em busca do tempo perdido, que, dizia um amigo meu do mestrado, deve ser lido homeopaticamente, que é para a gente se deleitar e não perder nenhuma madeleine.
Uma a três páginas por dia, à noite, é uma boa prescrição. Não é preciso mais para dormir feliz e angustiado, surpreso e acalentado. No mínimo, para lembrar do tempo em que esperar o beijo de boa-noite da mãe era mesmo ato ambíguo, cheio de antecipação amorosa e solidão escura anunciada. Ou para aprender a gostar de filosofia.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Alongar para ter coragem

(da série ioga para maiores)

Hoje senti minhas pernas querendo andar sozinhas, longe de mim, livres de mim. Desfeitas de mim. Senti descolarem das coxas feixes rebeldes de músculos. Foram passear, eles, os músculos. Junto com poeira velha e crenças grudentas. Uma dessas é aquela que acredita poder controlar todos os passos. É centralizadora, ela, a crença que puxa tudo pra si como se fosse responsável pelo mundo. Bobagem. Mal sabe ela que as pernas, todas elas, nossas e dos outros, andam sempre sozinhas, mesmo que a gente não veja um milímetro de movimento entre as articulações.

Controle temos apenas, e olhe lá, da inteireza do nosso corpo. Mas esse, ao se relacionar com outros corpos, perde o controle de todo o resto. Sobra então apenas a necessidade da atenção, do cuidado, da observação. Pouca gente sabe, mas ser iogue não é estar sempre num estado zen abobado. Ao contrário, é estar alerta. É estar conhecendo-se atentamente por dentro e, em conseqüência, lidando melhor com o que vem de fora.

É admirar as pernas fugirem e correrem sozinhas, por exemplo, libertas, felizes, indo em direção ao acaso e a tudo aquilo que não é controlável e que por isso mesmo, aqui e ali, é confundido com frustração. Alongar muito respirando bem fundo também é flexibilizar com coragem, indo simplesmente, para variar um pouco, em direção à vida e não a essa ou aquela meta. Porque a vida anda sempre pra frente e nunca olha pra trás.

Estrada é isso. Pernas bambas fugindo de nós.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Varejando



Acabei de colocar essa imagem linda no meu site e quis dividir com vocês também. Esse é o book do projeto O Grande Caldo, primeira exposição multimídia da artista plástica Adriana Varejão, a ser produzida pelo diretor Lula Buarque de Hollanda.
Fiz esse trabalho no final do ano passado, vocês cinco se lembram, e carrego ainda como sequela uma profundo espanto pelo universo dessa artista. Meu próximo projeto de viagem é Inhotim, em BH, onde reina um pavilhão só dela. Conto os dias.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

De como carregar um piano


(Métodos e modos de dobrar)

Como ninguém lê esse blog, continua difícil para algumas pessoas entender o que faço da vida. Profissionalmente, diga-se. Enquanto termino o livro do militar, já entrevisto uma vez por semana meu próximo personagem, dono de um restaurante italiano tradicional do Rio. Sim, chamo meus biografados de personagens. A ficção é feita de fatos muito objetivos. Também é fato concreto que me misturo com eles e empresto um pouco de mim às suas histórias enquanto levo pra casa seus aprendizados. Escrever, como entrevistar, é ato coletivo, é escambo do bom.

Mas isso é muito abstrato e subjetivo para alguns contratantes, meio aflitos com aquele processo de entrevistas que parece não ter foco nem objetivo. Eles precisam entender como aquilo pode um dia virar livro, e aí me vejo, sempre, como diria o militar (eu disse que a mistura acontece), numa situação “pastosa”. Perguntem para a linguística a origem dessa expressão. Eu não tenho a menor idéia e não tive muito espaço para perguntar. Esse biografado, o militar, ao contrário do dono de restaurante, é metódico e não gosta de sair do seu sumário pré-elaborado.

Nessa hora em que me perguntam sobre o meu processo criativo, provavelmente preocupados com o adiantamento já pago, tento explicar que primeiro deixo as entrevistas acontecerem meio livremente, com espaço para desvios, atalhos, retornos. É quando tento entender qual é a verdadeira intenção do personagem. Muita gente por aí quer escrever um livro, parece ser um rito de passagem como casar ou jogar o capelo pra cima, mas nem todos tem uma idéia muito exata do que o tal livro poderia dizer.

Então entro eu, escritora de aluguel mui suspeita, para desfiar o novelo. Costuma dar certo porque a entrevista, com seu setting quase psicanalítico, é sempre muito reveladora. A entrevista é como uma boa aluna: ela repassa a matéria, faz um resumo e acaba encontrando, naturalmente, as matérias que cairão na prova. É com um interlocutor que o personagem-autor se revela, descobrindo, na interação e no diálogo, o que realmente lhe importa.

É a partir daí que acaba o que era doce e eu, que até então curtia apenas o gravador ligado e a incrível singularidade dos seres humanos, começo a carregar o piano. Leio longos depoimentos, porque é melhor sobrar assunto do que faltar, ficho todos eles, organizo os temas, penso a estrutura do livro. Só então, depois de muito planejamento, canetas coloridas e post its indicando caminhos, é que boto a mão na massa e começo a escrever.

Mas vai explicar isso para um contratante desconfiado. E, verdade seja dita, entendo a insegurança. Eu, se me contratasse, também ficaria muito preocupada.

sábado, 5 de fevereiro de 2011





Marido brincando com o aplicativo da Lomo.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Rio 40 graus

Está tão quente que meus miolos derreteram. Deve ser por isso que ando meio esquecida de várias coisas, entre elas o que vem a ser ter um blog. Os meus neurônios gratinados também já não têm a menor idéia do que é escrever um post e deixam escapar uma leve baba do lado direito enquanto se esforçam para entender a coisa toda – sabem lá eles que coisa toda essa seria.

A única coisa (o vocabulário também anda escasso, então repitamos as palavras até que elas se embalem sozinhas como coisas de verdade, ah, as coisas de verdade) que eles sabem, entre um sorvete de manga e outro, é que precisam entregar um livro até abril para poderem começar outro. Mas eles também sabem, ou ao menos desconfiam, que o ar-condicionado do quarto pifou. Tudo bem que, ligando-se o do escritório ao lado no máximo, corre um arzinho gelado até o quarto, o que, se não segura totalmente a onda, evita que as solas dos pés sofram queimaduras ao pisarem no chão desprevenidas.

A turma da massinha quente suspeita ainda que mandar um projeto mui pessoal para a avaliação de um crítico é uma roubada imensa. A cada dia que passa a chaleira fica mais perigosa em suas ebulições. Pensa logo que nunca terá resposta ou que, se ela demora tanto, a resposta, é porque boa coisa não será.

Como se vê, o calor faz muito mal para a caixola, mesmo quando ela olha tudo de cabeça pra baixo na semi invertida iogue matinal. Amanhã vou tentar enfiá-la num baldo de gelo antes de respirar fundo, gritar há! e sair atrás de uma boa alma disponível para consertar ares-condicionados que sempre, ouçam bem, sem-pre nos deixarão na mão quando mais precisarmos. Há várias batalhas em que a máquina vence o homem. Espero que essa não seja uma delas.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Escolhendo as palavras



Quando eu ainda era uma garotinha, em priscas eras (essa é a deixa, meninos, façam aquela cara de “imagina...”), também trabalhei na sucursal serrana do jornal O Dia. Em janeiro. Em Petrópolis. É claro que vieram as enchentes e eu, foca de 18 anos, me vi entrevistando gente que perdera, quando pouco, a casa e todos os bens. Era difícil ser repórter naquela época, não sei se hoje ainda é assim. Éramos recebidos nas comunidades como se tivéssemos culpa no cartório e aquela fosse a hora de indenizarmos todo mundo por tudo.

Descontado o stress natural causado por calamidades como a desse ano, também estava presente, entre as vítimas daquela enchente de 1993, uma compreensível revolta com o descaso das autoridades públicas.Na época apurei que já existia, de fato, tecnologia suficiente para prever enchentes e, caso necessário, recomendar a saída de moradores em áreas de risco. A medida não evitaria desabamentos, mas muitas vidas poderiam ser poupadas.

Não é preciso fazer contas para saber que se passou um bom tempo de lá pra cá e também não é requisitado diploma de jornalista para ver que, pelo visto, nada foi feito desde então para prevenir outras tragédias. Já li de meteorologistas que o desastre desse ano seria praticamente inevitável, já que combinou a violência das chuvas com áreas íngremes, instáveis e densamente povoadas. Mas não são exatamente assim as áreas de risco, gente? Será que realmente ninguém poderia ter se tocado disso antes?

Uma das poucas coisas que sei hoje, imantada aqui ao teclado, é que a tecnologia não pode ser omissa. Números e gráficos têm responsabilidades. O botão Enviar da caixa de emails também, assim como o botão Responder, Responder a Todos e, principalmente, o Encaminhar. Tão fácil, tão rápido. E tão omisso.

A solidariedade de todos nesse momento me emociona, mas, ao mesmo tempo, me faz torcer para que ela não disfarce a real responsabilidade das prefeituras e do Governo daqui pra frente. A sociedade civil pode e precisa ajudar, é claro, mas não deve tirar o foco de quem é pago para fazer exatamente o que ela está fazendo.

Nunca mais cobri enchentes, graças a Deus. Aquele estágio na Geral do Dia me traumatizou um bocadinho. Tratei logo de fazer os especiais de domingo, que os jornalistas então chamavam de features. Perfis e historinhas, em bom português de bobaginhas. Estava trocando a rudeza dos fatos pela das palavras, e aí, acreditem, já ia muito.

p.s. Quando estava prestes a postar, escutei os três primeiros trovões que sempre anunciam uma queda repentina de energia elétrica aqui no faroeste. Que São Pedro dê logo uma trégua.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Amy Whinehouse

Eu fui

Pouca gente sabe, mas quando eu ainda era uma garotinha (mentira, bobinhos, nunca deixei de ser) trabalhei durante três anos como repórter numa revista especializada em bebidas. Chamava-se Drink e era dirigida a bares e restaurantes. Escrevi sobre drinques mirabolantes, vinhos caríssimos, cervejarias, sobre o valor da nossa cachaça, sobre Baudelaire e seu vício por café. Também fui a muitas degustações promovidas por vinícolas e não me lembro o que escrevi depois. Sim, eu bebia em serviço. Eu e meu fígado aprendemos a valorizar não só o glamour das bebidas, suas histórias, seus costumes, como também seu poder agregador. A bebida alcoólica, hoje muito mais demonizada do que então, era o elemento de ligação social, o pretexto para confraternizações, o degrau acima que permitia soltar o verbo e, muitas vezes, falar um “eu te amo” que permaneceria preso na garganta sóbria.

Well, well. A fila anda e a lusitana roda. A revista faliu, eu pulei fora antes para não ver o barco afundar, mudei de tema, comecei um mestrado. De lá pra cá já se vão mais de dez anos. Percebi o peso de tal passagem de tempo nessa semana, vendo a Amy Whinehouse tropeçar pra lá e pra cá no palco, entre goles de um chá mui suspeito. Lembrei de um parente que, para disfarçar a bebedeira constante, tomava seu uisquinho numa xícara de café. A mãe dele achava muito estranho que, ao final do dia, depois de tanta cafeína, ele estivesse tão lerdo e tão grogue.

Lembrei de tudo isso enquanto assistia ao show e me deliciava com aquele vozeirão. Tive sentimentos muito contraditórios, o que é muito coerente com a vida afinal de contas. Primeiro me orgulhei de ser brasileira, de fazer parte de uma platéia tão calorosa e incentivadora. A mulher errava as letras, virava de costas, largava a banda sozinha e mesmo assim todo mundo estava lá, batendo palmas, urrando, dando a força que ela, como dependente química, teoricamente precisa.

Mas também senti uma ponta de angústia e tristeza vendo ao vivo e a cores aquela cena já prevista. Fiquei imaginando que show espetacular ela poderia fazer se estivesse sóbria ou, vá lá, só um pouco altinha. Seria um estouro e evitaria que ela mesma, letras fugindo de si, olhasse para cima com ar de irritação e desaponto.

Talvez o mundo esteja se tornando politicamente correto demais, daí as ovações a cada trago. É bom ter uma Amy por perto para fazer tudo aquilo que não podemos fazer e, o que é melhor, com um timbre de Billie Holiday.

Mas o show é de suas músicas ou de seu vício? Ou eu é que sou ingênua como uma garotinha de achar que podemos separar um do outro? Seu talento é inquestionável, tão poderoso que a atravessa mesmo que ela tente barrá-lo a todo custo. É isso a arte, afinal, entidade mais forte do que o próprio artista. Ok. Mas na terça, olhando do alto centenas de celulares fotografando aquele penteado alto e inseguro, formando um tapete voador de estrelas permissivas, fiquei me perguntando se não seria melhor que a mulher por trás da artista sobrevivesse para contar história.

É o que espero, ao menos. E sim, o show de terça valeu. Tivemos mais sorte do que o povo de segunda.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Amigos

Para começar bem o ano vamos mais uma vez de Hilda Hilst:

Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua

Aquietá-los.

Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.

Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.

Raros? Teus plecaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.


Obrigada a vocês, amigos, por acreditarem, se não no que digo, no meu amor por vocês.
Feliz 2011, cambada!