quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Direto de Búzios

Estou de férias em Búzios. Sim, o tempo não está bom. Vocês acham que estou escrevendo no blog porque?
Ontem, dia nublado, andando sem rumo pela Rua das Pedras, decidi ir a um salão. Não foi a melhor idéia do ano. A recepção foi um tanto frustrante. Acabei de decidir que em 2011 não freqüentarei mais salões. Ao menos não em Búzios.

Eu não faço as unhas.
(Expressão de espanto e reticências do lado de lá)
Não, nunca. Tenho alergia a esmalte e a bifes. E a cheiro de tintas e escovas progressivas. A papo chato também (isso eu não disse, é claro, só pensei).

O que eu faço no salão?
Praticamente nada. Peço para cortarem as unhas, lixarem quadradinho de um jeito que nunca consigo em casa e tirarem levemente o que estiver sobrando nas laterais das unhas. Na cutícula ninguém mexe.

Faço isso há anos. Pago menos. Perco menos tempo. Gosto do resultado, da aparência de limpeza das unhas curtinhas e transparentes. A natureza e as histaminas são muito sábias.

Fazer as unhas sempre me pareceu um ritual meio sem sentido. Depois de encontrar a manicure preferida e encaixar o horário dela na sua agenda, você entra, pinta os cascos de verde ou preto (ou azul, amarelo fosforescente e sei lá que outra aberração cromática) e, dois minutos depois, já está borrado.

Ao menos comigo era sempre assim. Sou estabanada, certo, mas que jogue o primeiro vidro de esmalte importado quem nunca passou por isso. Daí você volta, meio sem graça, e fala para a manicure que te olha com cara de ai, que saco: “Borrou...”.

Acetona, algodão, tudo de novo. Gente, como é que a mulherada agüenta?
Já tive sérios questionamentos a meu respeito por causa disso. Cheguei a pensar que só lésbicas concordariam comigo. Nada contra o povo GLS, mas não é a minha praia. Sou meio desajeitada e não curto moda, mas ainda tenho fé na minha feminilidade. Só não faço as unhas, gente. É tão grave assim?

Aparentemente, para as manicures de Búzios, é gravíssimo.

Dei de ombros, voltei pra casa, cortei as unhas e lixei tudo torto, estendi o meu tapetinho de ioga na varanda e fiz uma saudação ao sol. Que é pra ver se ele aparece e eu paro de escrever bobagens.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz Natal, cambada!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Jingle Bells




Ficar doente muda a perspectiva das coisas. Literalmente. Na horizontal, um olho aberto e o outro dolorido, você só enxerga lenços de papel, cartelas de analgésicos, livros, termômetro, copo d’água. O mundo de uma pessoa derrubada por uma virose pode ser bem limitado.

Virose é tudo aquilo que os médicos não sabem dizer o que é. Você se sente mal, tem delírios com a febre de mais de 38, e sempre, sem-pre escuta que “tem um virose rondando por aí”. Sempre tem, já repararam? Parece que elas se encontram no Facebook e combinam assim: “Aí, galera, é final de ano, tá todo mundo estressado e melancólico pensando na vida, tá na hora de aproveitar a baixa imunidade... vamo atacááá!!!”. E assim elas chegam, derrubando o que encontrarem pelo caminho – pessoas inclusive.

Foi mais ou menos isso que os meus neurônios fritos me escreveram num bilhete, antes de partirem sem data de retorno. Também lembraram que a última crise de asma acontecera há mais de dez anos e que foi triste, quase uma sensação de derrota, comprar de novo uma bombinha, usá-la e... não sentir nada, nenhum alívio.

Foi então que acatei a receita, arfei até a a farmácia e não fugi dos antibióticos. Meu médico foi bem sutil: “Se você não tomar vai desenvolver uma pneumonia”. Ele poderia ter sido mais gentil e dito que eu poderia desenvolver uma pneumonia, mas não disse. Parecia estar repassando um twitter da turma da virose. “Aí cambada, pneumonia na branquela ali de olheiras, vambora, um dois e jááá!”. (Isso tem mais de 140 caracteres, gente? Não saberia fazer essa conta agora. O antibiótico, o antitérmico e o granulado fluidificante sabor laranja estragada estão me deixando um tanto confusa).

Eu, hein. Então você dorme, tosse, tem pesadelos, tosse, agradece a santa sogra que mandou entregar comidinha caseira, tosse, desmarca entrevistas e compromissos, tosse, e, tosse, no dia seguinte faz tudo de novo porque a febre continua dando calafrios e depois suadouros.

Ho, ho, ho. Feliz Natal.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Perto do chão

Nesse final de semana fui ao cinema. NYCC, ícone brega do faroeste. Noite de uma sexta-feira super povoada e abafada, pré-temporal. O programa de índio se justificava porque o filme escolhido tem, no time de roteiristas, uma grande amiga. Passei pelo corredor acarpetado do cinema, numa visão de Las Vegas tropical, e reparei em vários adolescentes sentados no chão de pernas cruzadas. Tão familiar aquela cena...sentar como índio no chão, em rodinha de amigos, com um pacote de biscoitos na mão, mochilas jogadas num canto. Tão adolescente, tão...tão eu quando adolescente, gente!

Ao final do corredor eu já tinha viajado no tempo e lembrado de mim mesma, estudante de comunicação da PUC, sentada de pernas cruzadas no chão com as costas apoiadas em um dos pilotis. Era a hora sagrada de jogar um pouco de conversa fora, combinar o final de semana, marcar o grupo de estudos. Naquela época não existia celular, crianças, e a gente conseguia combinar tudo direitinho, uma façanha.

Naquela hora do sentar de pernas cruzadas, breve respiro antes do estágio no Centro, a vida corrida parecia parar. Quando me formei, me dei conta de que sentiria muitas saudades daquele encontro diário. Claro que eu continuaria encontrando com os meus amigos, mas nunca seria a mesma coisa. Aquela reunião, sagrada, era a certeza da amizade sem muito esforço. Era estar lá, encontrar as pessoas certas e ponto. Sem agendas atribuladas, emails de encontra-não-encontra, mensagens de texto desmarcando horários. Sem maridos, filhos, chefes, empregadas, ou qualquer outro ente capaz de mudar a agenda.

Aquele encontro era garantido, zero estresse. E ainda perto do chão, pura reminiscência da infância. Depois que a gente cresce de verdade, o chão fica cada vez mais longe.

Deve ser por isso que gosto tanto da posição de lótus.