segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Férias estranhas, gente esquisita




Tive férias estranhas. Marido, pra começar, precisou usar a sagrada quinzena de descanso anual para terminar de escrever um roteiro de longa. Decidimos então que ele escreveria em Búzios, pulando de café em café na Rua das Pedras, dinâmica que funciona perfeitamente para ele. Euzinha, acostumada a escrever apenas na minha bat caverna, até hoje acho isso meio estranho, algo como escrever sendo vigiado. De qualquer forma, enfiamos o laptop na mala e nos mandamos para a Via Lagos.

No balneário, que visito desde que me conheço por gente, me deparei com uma ventania inédita, daquelas que embaraçam os cabelos para sempre e te deixam meio surdo. Dentro de casa, janelas fechadas, ela ainda fazia um barulho assustador. Estava frio também, o que numa casa de praia é sempre meio esquisito, por mais que existam cobertas nos armários e casacos na mala. Ah, gente, não é o que se espera da praia, convenhamos, mesmo no inverno. Nossa meteorologia interna é muito temperamental. E eis que a tal ventania macabra fez ressuscitar a minha alma alérgica, que há muito não sabia o que era uma crise tão cheia de espirros que as costas chegam a doer. Quando a coisa toda evoluiu para uma febre, decidimos voltar. Seria ótimo voltar para casa, afinal nada melhor do que ficar doente em casa, certo?

Isso se ela não tiver sido toda pintada nesse meio tempo. O pintor atendeu aos meus apelos e encerrou o trabalho mais cedo, no entanto o cheiro da tinta, aquela que dizem que não deixa cheiro, estava lá, triunfante, rindo dos meus espirros seguidos de lágrimas que não eram bem de alergia. Então tínhamos malas de roupas sujas, um roteiro para escrever, uma alergia bissexta para curar e... nenhum lugar para ficar. Cogitamos amigos e parentes, é claro, mas a logística parecia cada vez mais complicada para um casal que queria ao menos tentar passar o resto das férias (férias?) junto.

Decidimos pela extravagância. Já que estávamos de férias, faríamos check in num hotel. Quem sabe assim a sensação de descanso não seria preservada, pensamos. Pela primeira vez na vida, então, pesquisei hotéis no meu bairro, pedindo inclusive para ver os quartos. Descobri que ou são exorbitantes ou simplesmente ruins. Ficamos em um dos últimos, na Av. do Pepê. Tropical Barra Hotel, pertinho do Quebra Mar e do nosso apartamento semi pintado.
Parecia um bom hotel, inclusive pela diária, mas não posso dizer que adorei ver cabelo no banheiro nem dormir num colchão de mais de 30 anos, daqueles que afundam no meio do quadril e te fazem levantar rapidamente pela manhã, na esperança de ainda conseguir andar. Ah, sim, e também vimos uma baratinha no salão do café da manhã, mas aí já estávamos resignados. Foram quatro diárias (a tinta era mais persistente do que vocês imaginam), e depois de quatro dias num hotel desses, você não reclama de mais nada, nem do cartão que toda hora desmagnetiza e te faz descer até a recepção antes de conseguir, finalmente, entrar no quarto tão aconchegante, tão agradável, tão Relais & Chateaux. E muito menos lamenta o quadro rapidamente eleito o mais feio do mundo, numa imitação misturada e funesta de Kandinsky com Miró. Desculpem, meninos, mas eu precisava mostrá-lo a vocês. Tirem as crianças da sala.

Moral das férias, cambada: não há mesmo nada como a casa da gente, mesmo com a porta da sala pintada só pela metade: dentro de casa ela está linda; do lado de fora, amarelada e descascada. Esqueci de deixar a chave com o pintor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Férias para não esquecer ou para esquecer rapidinho?
Ofereci minha suíte master, quadra da praia e toda mordomia, mas vocês acharam pouco...( brincadeira)
Bj Celia