segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Alongar para ter coragem

(da série ioga para maiores)

Hoje senti minhas pernas querendo andar sozinhas, longe de mim, livres de mim. Desfeitas de mim. Senti descolarem das coxas feixes rebeldes de músculos. Foram passear, eles, os músculos. Junto com poeira velha e crenças grudentas. Uma dessas é aquela que acredita poder controlar todos os passos. É centralizadora, ela, a crença que puxa tudo pra si como se fosse responsável pelo mundo. Bobagem. Mal sabe ela que as pernas, todas elas, nossas e dos outros, andam sempre sozinhas, mesmo que a gente não veja um milímetro de movimento entre as articulações.

Controle temos apenas, e olhe lá, da inteireza do nosso corpo. Mas esse, ao se relacionar com outros corpos, perde o controle de todo o resto. Sobra então apenas a necessidade da atenção, do cuidado, da observação. Pouca gente sabe, mas ser iogue não é estar sempre num estado zen abobado. Ao contrário, é estar alerta. É estar conhecendo-se atentamente por dentro e, em conseqüência, lidando melhor com o que vem de fora.

É admirar as pernas fugirem e correrem sozinhas, por exemplo, libertas, felizes, indo em direção ao acaso e a tudo aquilo que não é controlável e que por isso mesmo, aqui e ali, é confundido com frustração. Alongar muito respirando bem fundo também é flexibilizar com coragem, indo simplesmente, para variar um pouco, em direção à vida e não a essa ou aquela meta. Porque a vida anda sempre pra frente e nunca olha pra trás.

Estrada é isso. Pernas bambas fugindo de nós.

2 comentários:

Anônimo disse...

bela definição...bjs

Unknown disse...

É..., desse jeito vc vai passar de ano rapidinho! Seu texto demonstra todo seu empenho e aprendizado! E já percebi uma mudança em vc (na quarta), é sério, a sua energia mudou!
Estou comovida e orgulhosa, beijos de sua professora e amiga, Nara Duarte.