quinta-feira, 23 de maio de 2013

E aí e aí e aí

E aí e aí e aí ela começou, de repente é o que parece, a falar: e aí e aí e aí. São essas vogais que a minha filha anda usando para conversar. Ela acabou de completar um ano, então me parece conveniente. E aí e aí e aí ela já tinha engatinhado, primeiro pra trás, depois pra frente. E aí resolveu ficar de joelhos, e aí, mais rápido do que a gente imagina, ficou de pé. E aí e aí descobriu o espelho, onde mora a melhor amiga dela, perfeita e admirada confidente pra quem ela conta tudo o que anda fazendo. E aí e aí e aí a conversa é longa, entremeada por beijos na boca da amiga, essa amiga que também faz careta quando pedem e parece gostar muito de lagartas coloridas.

E aí os neurônios da fala cutucaram os da coordenação motora (ou vice-versa, vai saber) e toda uma nova perspectiva bípede se apresentou, e aí, ah, e aí, meus caros, a vida ficou bem mais interessante. Dá para andar até o quarto dos pais e bater com as mãos espalmadas na porta, dá para ir sozinha até a cozinha, dá até, aí, para dançar apoiada no andador com cara de leão e focinho musical, antes que ele não seja mais companhia para o passeio na pracinha. E aí ele se resignará a um canto do quarto de brinquedos, ex-escritório da mamãe, e provavelmente tocará seu focinho sozinho. E aí o problema será dele, meninos.

E aí e aí, nessa espiral contínua, aconteceram outras coisas longe do espelho e da pracinha. Ideias e esboços de textos, reflexões filosóficas apressadas, projetos acalentados no banho, coisas que não tiveram o tempo que costumavam ter para rumar para a tela do monitor. E aí e aí e aí um ano se passou, duas festinhas, uma obra e uma mudança de escritório aconteceram e, no meio do caminho, muito texto desaguou debaixo da ponte que ninguém viu.

Mas não tem problema, crianças. E aí e aí e aí, reparem, não sugere um ponto final. Está sempre pronto para o próximo “e aí”, quando a bípede adulta aqui tiver o tempo hábil de colocar algo para fora. Caso contrário as ideias continuarão esperando o próximo intervalo do e aí e aí e aí. E aí talvez seja tarde de novo, mas e aí? Ritmo é isso mesmo, é o risco de vida do “e aí .”

P.S. Estou encarando uma Pós em Arte e Filosofia. Coisa fina. Trabalho duro. Se não enlouquecer até o final do semestre conto tudo para vocês.

sexta-feira, 10 de maio de 2013


Parabéns pra você

Nessa madrugada que passou, felizmente, eu dormi. Há exatamente um ano eu viraria a noite no hospital sentindo dores indescritíveis e, ao contrário do que diz a crença popular, inesquecíveis. Era um parto. Era o parto. Era a Alice, que chegou chorando, sujinha e com fome. Era eu, também, nascendo de novo. Eu também sairia suja, chorando e com fome. Já no quarto da maternidade, o dia começava a clarear. Pude olhar o horizonte enquanto tomava o café da manhã mais delicioso da minha vida, no entanto ainda não podia, sorvendo o café com leite redentor, imaginar a minha nova vida. Nem a Alice. Nem o pai. E não é porque muda tudo e a casa vira de ponta cabeça. É porque o amor funciona assim: começa do zero na terra molhada, no sangue e no suor, e só aos poucos ganha caule , pele e sorrisos. Se eu pudesse imaginar naquela madrugada o riso de hoje da Alice, o seu jeito de me abraçar, o olhar curioso e atento, era capaz de não ter conseguido parir. Ia querer ela pra sempre dentro de mim.
Te amo, Alice, de um jeito que só a gente sabe. Feliz foi o seu primeiro aninho. Que todos os próximos sejam ainda mais.