segunda-feira, 23 de maio de 2011

Digitalizem-se

Infelizmente não poderei fazer, mas está imperdível o curso Editando Livros Digitais, da Estação das Letras. Ementas quentíssimas e antenadas sobre os mercados nacional e internacional de e-books, novas narrativas, impressão sob demanda e marketing digital. Gente boa como Cristiane Costa (curadora do Oi Cabeça, que está rolando no Oi Futuro) e Newton Neto (Singular)entre os professores - todos, ao que parece, muito gabaritados.
Acessem o site da Estação e sigam os links da hora. O futuro aconteceu ontem, meninos.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

OUTROS TEMPO$




De vez em quando lembro que também sou jornalista e boto as mãos meio enferrujadas na massa. O militar ainda me manda relatórios sobre os capítulos, mas bato continência e considero que o livro dele está terminado. Ou quase, porque os livros só terminam mesmo quando param em pé nas prateleiras das livrarias. Mas o considero terminado o suficiente, enfim, para começar a pensar no outro livro, o do restaurante italiano que completa 30 anos de salão neste ano. O dono, de família de imigrantes, tem pai, avô e bisavô no ramo, esses dois últimos conhecidos por terem criado, em São Paulo, a primeira confeitaria da cidade e uma das primeiras pizzarias com forno a lenha.

Preciso pesquisar isso tudo, pensei. E não só no Google. O Google pode ser, como bem definiu meu marido, Deus se mostrando aos pouquinhos, mas ainda não é, surpreendentemente, tudo na vida (mas vai chegar lá, é claro).

Então parti para os CPDOCs – centros de pesquisa e documentação dos jornais, para quem não pescou a sigla. A sigla, como me explicou o militar, é uma sequência formada pelas letras ou sílabas iniciais de palavras que constituem uma expressão. Não sei se deu pra entender.

Well, well. Fato é que percebi que ser pesquisador, hoje, é coisa de gente rica. A não ser que você se dê ao trabalho de rezar uma semana antes e reunir fé suficiente para ir até o Arquivo Público, você terá, caro repórter, que desembolsar algum dinheirinho. Na agência do Globo, por exemplo, duas horas de pesquisa, que devem ser devidamente agendadas com antecedência (eu só consegui horário para a próxima semana), custam R$ 50. Isso mesmo. R$ 50 para ficar lá vendo as pastas já previamente separadas para a sua pesquisa, que não poderá levar mais do que duas horas, mesmo que você esteja disposto a pagar caro por elas. Imagino que, prazo expirado, algum segurança de terno e fone no ouvido nos convide gentilmente a procurar o caminho de casa. As cópias e os fac-símiles das matérias, é claro, são cobradas à parte. Não quis nem perguntar quanto seria para conseguir uma autorização de reprodução em livro. Deixaria lá as saias, provavelmente.

Na agência do Estadão, antes mesmo de encomendar a pesquisa, é preciso fazer um orçamento. Só depois é que você recebe (ou não) uma pesquisa preliminar e escolhe o que vai querer de fato. Como lá não encontraram praticamente nada, devo ter economizado uma fortuna.

E o JB, que nem me responde? Já no telefone, o ser muito simpático que me atendeu sugeriu: “Escreve no email que é urgente”. Escrevi. Até agora não adiantou nada.

Saudades da época em que eu até marcava o dia de pesquisa, mas ficava à vontade no prédio do JB, o tempo que quisesse, pagando apenas pelas cópias dos jornais. Ou do tempo em que O Globo cobrava, pelo mesmo serviço, uma taxa quase simbólica. Ao telefone, o carinha da pesquisa concordou comigo que os tempos são outros. “Viramos uma empresa SA, sabe como é”.
Sei. Sei bem como é.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Acordou decidida a ser piegas. Faria daquele dia um feriado da pieguice. Começou dando bom dia ao papagaio e elogiando suas cores, arco-íris da natureza em forma de penas. Depois desejou um ótimo dia de trabalho ao marido, dizendo que ela estava muito bonito com aquela camisa pólo azul. Sorriu caprichado para o porteiro. Terminada a aula de ioga, em que ficou de cabeça pra baixo por deliciosos três minutos, fechou os olhos e agradeceu a oportunidade de estar viva ali, naquela sala, com aquelas pessoas e aquele corpo menos enferrujado a cada dia. Agradeceu a si mesma por permitir-se aquele autoconhecimento em passos persistentes e evolutivos. Espanou a vergonha, olhou fundo para a professora e disse que ela era um ser muito abençoado. Almoçou feliz uma salada colorida e sorriu para a garçonete, para o cara do caixa, para o carinha do estacionamento, para a senhora que queria passar na sua frente na fila. Voltou pra casa dirigindo devagar, sentindo o motor suave do carro, trocando as más notícias do rádio por música, e assim que virou a chave de casa correu para o computador. Estava decidida a ser piegas.