quinta-feira, 30 de junho de 2011

Facebook IV

Acabei de encontrar dois erros inacreditáveis nos meus textos. Não que eu não erre nunca, mas costumo passar com nota 9 no corretor ortográfico. Será efeito colateral da terra sem gramática do FB?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Scott Lindenbaum e McLuhan: seremos elétricos


Em tempos de mudernidade, escreverei mais ou menos como se tuíta, em pequenos tópicos (com mais de 150 caracteres, é claro, porque não sou tão moderna assim) e aspas para o cara da vez, Scott Lindenbaum. Falemos sobre o Oi Cabeça, que repensa os rumos da narrativa diante da tecnologia e recebeu ontem o cofundador da revista americana Electric Literature. É uma revista literária como outras, que publica trimestralmente cinco contos. A diferença é que ela joga nas 11 (ou 5, por enquanto): formato impresso, ebook, iPad, iPhone e PDF por e-mail. Já é um sucesso e incomoda editoras tradicionais. Criada em 2009, já publicou autores de peso como Michael Cunningham, Rick Moody e Lydia Davis.

O evento, realizado no Oi Futuro, teve tanta audiência que jogaram almofadas no chão para o povo dos sem senha, do qual eu fazia parte. Saí de lá três horas depois com uma dor lancinante no quadril e nos joelhos iogues, mas feliz, antenada e esperançosa. O livro pode até acabar, mas os escritores sobreviverão como as baratas do apocalipse.

Em seguida, o que consegui anotar no escuro enquanto perdia a sensibilidade das pernas:

- Tudo o que Scott Lindenbaum tinha em mãos, depois da faculdade e antes de criar a revista, que já amealhou mais público do que muitas editoras tradicionais americanas (já são 150 mil seguidores só no twitter), era um “otimismo insano”. Anotem esse ingrediente.

- “Percepção é realidade”, e tudo o que eles queriam, a princípio, era tornar a literatura interessante e divertida para outros públicos, e se divertirem enquanto faziam isso. A julgar pela animação do rapaz, piadista como todo bom americano e muito interessado em experimentar a nossa caipirinha, conseguiram.

- Talvez McLuhan não estivesse tão certo assim ao dizer que as novas tecnologias trazem, junto com a comodidade, a capacidade de minar nossos sentidos. Com o projeto BROADCASTr, Scott conseguiu recuperar a força da história oral, “linkando” os lugares com suas vozes. “Toda voz precisa de um espaço”, e, com a ajuda da tecnologia do GPS e do andróide Broadcast Receiver, 500 histórias podem ser ouvidas pelo celular em Manhattan, cada uma delas relacionada ao local onde se encontra o leitor/ouvinte. Então pode-se caminhar pelo quarteirão do WTC e, tocando no mapa através da tela do telefone, ouvir os relatos de um bombeiro que trabalhou nos resgates do atentado terrorista. Wow: isso é como dar um ouvido para um olho, desentortando a frase do guru canadense, interessado em explicar que o órgão dominante dos sentidos e da orientação social nas sociedades pré-alfabeto era o ouvido, e que o alfabeto fonético forçou o mundo mágico do ouvido a se deslocar para o mundo neutro do olho: “Foi dado ao homem um olho para o ouvido”. Agora parece que estamos quites.

- As livrarias tradicionais estão de fato com os dias contados. O livro vai se tornar, em breve, um fetiche como o LP. Por enquanto, as vampire novels sustentam todos os outros livros que não vendem suas tiragens. Engraçado. No mercado editorial são os humanos que sugam o sangue dos vampiros.

- A Eletric Literature trouxe, de certa forma, a experiência visual para a literatura. Mas a imaginação continua sendo mais importante, garante o editor. Lembrem de fechar os olhos.

- Estão a salvo os editores, desde que eles trabalhem a intuição e o bom gosto editorial. E de novo me lembro de McLuhan escrevendo que, quando todos os recursos e energias disponíveis já foram usados em um organismo ou estrutura, há uma certa reversão do modelo, uma volta ao “olhar para dentro”. Sobreviverão aqueles que, como Andy Warhol, “editou pessoas” ao se unir a seres com a mesma “gravidade específica” como Tom Waits e Jim Jarmush, quando ainda não eram famosos. “Densidade de idéias criam cenas que, com o tempo, criam movimentos”, disse o editor elétrico. Foi aplaudido com faíscas.

Devo dizer ainda, apenas em homenagem à minha autoestima, que sempre pensei no livro como um conjunto de símbolos mais ou menos integrados, diferente do trabalho autoral. É bom pensar a escrita como a metáfora acústica e visual que estabeleceu as dinâmicas da civilização ocidental, mas ela é muito mais do que isso. O livro é uma extensão do olho.

"In the eletric age we wear all mankind as our skin."

Marshall McLuhan

terça-feira, 21 de junho de 2011

Da série Eu era melhor aos vinte



Depois que entrei no FB e me dei conta, resgatando contato com amigos da época da PUC, de que me formei há 15 anos (não espalhem), dei para revolver alguns textos da faculdade - aqueles que o word ainda aceita abrir. Impressionei-me. Já naquela época eu sacava que o jornalismo não era bem assim essa maravilha. E fiquei me perguntando se eu era mais espertinha naqueles tempos ou se hoje apenas me falta um tema, um prazo e um professor.

O tempo não pára


Essa aí de cima é uma das questões que mais vem me assolando ultimamente. Fiz 21 anos há pouco tempo e adquiri a sensação de que a partir de agora tenho poucas chances até a reta final. A sensação, sem exagero, é de estar constantemente com uma forca no pescoço. É isso, a forca do tempo. Parece que tudo tem que ser resolvido agora, senão vai ser tarde demais. Tarde demais para seguir carreira, para mudar de país, escrever um livro, ter um filho ou plantar uma árvore. Tanto faz. Daqui a pouco já vai ser tarde demais para tudo.

Que outra sensação eu poderia ter, se todos os dias travo verdadeiros desafios com os ponteiros do meu relógio? E o pior: com o meu e com os ponteiros dos outros. Às vezes me pego imaginando onde esses dias de fúria vão parar. Provavelmente em algum hospício. Daí vejo o cartaz de estréia do filme "Adorável Professor", de Richard Dreyfuss. Não acredito que o filme seja bom, mas a frase de apresentação, emprestada de John Lennon, não podia ser melhor: "A vida é aquilo que te acontece enquanto você está ocupado fazendo planos".

É incrível como a gente se adapta a fazer tantas coisas ao mesmo tempo. Tomar café, almoçar e jantar lendo o jornal, que é para poder ler tudo, tudo mesmo. Dirigir e fechar detalhes de negócios no celular, escrever no computador e falar ao telefone. Enfim, viver vidas paralelas e que se dizem "eficientes". Juro que tenho lá minhas dúvidas. E também um pouco de vergonha de me declarar adepta daquela velha frase que diz que a pressa é inimiga da perfeição. É que isso é um pouco contraditório para os dias de hoje, mas confesso que minha intuição me diz que não há nada mais sensato e leve para a alma do que o vagar dos atos.

Mas e o jornalismo, o que fazer com este fastasma, esta reencarnação do coelho apressado de Lewis Carrol em Alice no País das Maravilhas? Escrever, afinal, não é algo que os dedos façam automaticamente. Poderia ser, mas felizmente não é. Não é porque antes de redigir as pessoas precisam pensar, graças a Deus. E na maioria das vezes elas estão pensando no tempo, invenção de apenas alguns milênios, mera convenção. E como sociedade alternativa não é o meu forte, também dedico boas parcelas do meu dia pensando nessa frase que mais parece uma condenação. O tempo não pára, eu sei que não e o problema é justamente esse.

Bem que o coelho de Alice poderia entender que é tudo uma questão de ótica, de contrastes entre paulistas e baianos, japoneses e brasileiros, Robson Crusoé e Sexta-feira. Acho até que entendem, mas não ousam falar vírgula sobre o assunto. Afinal de contas, quem reclama de escassez de tempo é preguiçoso. E por mais que este seja um julgamento injusto, não há tempo para desmenti-lo. Por mais que ainda restem toneladas de peso na minha consciência por tudo que ainda não fiz a tempo e temor dos dias em que vou ver as horas escorregarem pelos meus dedos, não há mais tempo para escrever.

E no jornal, professor, como vai ser? Levei cerca de meia hora para escrever este texto, será que é uma média razoável para alguma redação?

sábado, 18 de junho de 2011

Facebook III

Se eu já fosse uma facebookmaníaca postaria lá agora:
"As árvores são fáceis de achar / Ficam plantadas no chão
Arnaldo Antunes é FODA!"

Só não postei porque ainda não sei muito bem como funciona a etiqueta em relação a palavrões. Aqui é fácil, é só pedir depois desculpas às crianças. Desculpem, crianças.
E não deixem de ver na primeira oportunidade, e essa é para adultos também, o show "Arnaldo Antunes ao vivo lá em casa", feito de fato na casa dele, em SP. Assisti rindo e chorando ao mesmo tempo, pensando no incrível artista que ele é e em como também quero ter, um dia, um telhado de poesias resistentes a pedras e trovoadas.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Facebook II

Eu já entendi que no FB as pessoas escrevem curtinho, com pressa, como quem já está em outra, virando a curva. No entanto as palavras, que deveriam ser econômicas, costumam ser espichadas, como amigaaaaaa, saudadessss, bjsssssssss. Para pessoas que consideram muita coisa dois segundos de prosa, isso me parece uma desnecessária perda de tempo no teclado. Vai entender.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Facebook I

Reencontrar amigos no facebook é como fazer uma entrevista de trabalho: você tem que contar em dois minutos o que fez nos últimos dez anos.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dias perfeitos


Escritores estão sempre em busca de dias perfeitos. Dias perfeitos são aqueles em que a internet não dá pau e você não tem que chamar o técnico da Net; em que nenhum cliente resolve marcar uma reunião de última hora e matar a tarde reservada para escrever aquele capítulo tão planejado, mas tão planejado que se não for produzido logo terá seu esqueleto esquecido e aí será preciso ler de novo todo o planejamento e, consequentemente, todas as anotações em post its espalhados por pilhas de papéis; em que você não esquece de sacar o dinheiro da faxineira, ah, o dinheiro da faxineira; em que você também não esquece de comprar, no supermercado, algum ingrediente fundamental para o jantar que costuma preparar nos solstícios de inverno de anos bissextos; em que você não perde a hora de manhã porque na noite anterior decidiu ser sociável alguma vez na vida e compareceu a um evento importante, indo dormir de madrugada; em que, enfim, as coisas simplesmente não acontecem para que você possa, timidamente, acontecer.
É claro que, com o tempo e a experiência, os escritores aprendem que os dias perfeitos só existem na imaginação. O que não faz, curiosamente, com que eles deixem de acreditar neles e assim buscá-los no calendário como quem procura por um feriado mundial incontestável.
São como cachorros tentando morder o próprio rabo, esses ingênuos escritores. Com a diferença de que cachorros existem, ao menos até que digam o contrário.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Todo chato cutuca





Depois de muita insistência e algumas ameaças, capitulei. Não tive saída. Entrei para o Facebook. Uma amiga muito antenada com mais de mil amigos me ensinou que o legal é falar feicebuque, com ênfase nas duas últimas sílabas. Usar a pronúncia americana pega mal, ela disse. Imagino que deva ser coisa de dinossauros anacrônicos e colonizados. Enfim. Entrei para o FB, para os íntimos (não sei se falar assim é cool, gente, tenham paciência comigo).

Há tempos, quando eu ainda gozava a marginalidade digital e não sabia o que era levar uma cutucada na rede, ouvi a mesma amiga antenada dizer estar com um post atrás em relação a um possível affair que emergira na rede. “Estranho, ele tem só 40 amigos”, analisou, como quem avalia atentamente um OVNI. “Se eu entrar nisso aí não vou ter nem vinte!”, falei logo, olhos arregalados e ouvidos incrédulos.

Bom, eu estava errada. Meu marido e eu andamos competindo perna a perna o número de amigos e nós dois, que entramos juntos na seara dos recadinhos apressados há 48 horas, já temos mais de 50. Ele ainda leva vantagem, mas isso é porque desrespeitou o horário do fim da competição, ontem de madrugada, quando ficamos separados por computadores gritando novos nomes. “Aninha! Lembrei da Aninha!”, um dizia, e saía correndo para adicioná-la. Apelamos para amigos de infância. “Assim não vale, tem muita mulher aí!”, eu reclamava, enquanto pesquisava na página pela minha cidade natal. Não encontrei ninguém que pudesse adicionar, o que me fez pensar que aqueles gatinhos da sexta série devem estar todos carecas ou de cabelos brancos, barbudos ou simplesmente irreconhecíveis. “Não vale, eu trabalho em casa, não tenho colegas de trabalho!”, ainda repliquei enquanto via a galera crescer na página dele, mas não colou. Continuo atrás na pista.

Fui contaminada, é claro. Mal consigo escrever enquanto espero confirmações importantíssimas para a minha sobrevivência pessoal e profissional. Era o que eu temia. Meu sistema límbico reptiliano foi comprometido. Estou mais conectada, no entanto desatenta. Mais sociável, porém ensimesmada, literalmente (presa em mim mesma).
Esse frenesi deve passar com o tempo, penso. De qualquer forma, não tem mais jeito. Como diria o guru McLuhan, meus sentidos já foram comprometidos pela tecnologia.
Agora só me resta cutucar os outros.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mulher (in) visível



Viram Mulher Invisível ontem? O seriado, baseado no filme homônimo de Claudio Torres, é coisa fina. E não estou falando isso só porque o maridão, Leandro Assis, é um dos roteiristas. A série, com Selton Melo, Luana Piovani e Debora Falabella, deixou pegadas firmes no ibope e nos trending topics do twitter, ontem, com direito a reproduções de frases marcantes e tudo. Sucesso total. Roteiro redondo, com humor e profundidade, coerente mesmo no ritmo alucinante da TV, direção de arte elegante e atuações brilhantes. E pensar que Selton Melo quer ir definitivamente para trás das câmeras. A vida é estranha como a arte.

Agora, o que ninguém sabe é que é muito divertido ser mulher de roteirista. Uma das falas da Amanda, e não vou falar qual nem sob tortura, foi inspirada em moi. Isso mesmo, queridos, em minzinha. Há! Luana Piovani, tremei!
Não percam o próximo episódio, dia 14/5. Recomendo com todo o meu charme de mulher de carne e osso.