sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Jabuti

Eu sou uma finalista do prêmio Jabuti! Eu sou uma finalista do prêmio Jabuti! Eu sou... ok, vocês já entenderam. Soube hoje e estou felizinha. A indicação é pelo livro Por trás da Entrevista (Record), que concorre na categoria Reportagem. Foram mais de dois mil inscritos, cambada! Na semana que vem conto toda a história desse livro. Não percam.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Deus e a bela menina


Quando tudo parecia silencioso no front e eu não esperava ver mais nada publicado sobre A bela menina, eis que me cai nas mãos o texto mais debruçado ao livro que já vi até hoje. Num belo ensaio de quatro páginas da Oralidades, revista de história oral da USP, Ricardo Santhiago traça uma acurada análise sobre o livro, com direito a reflexões que eu mesma, até então, só havia feito de maneira intuitiva, em algum canto ininteligível do meu cérebro. Ninguém, até hoje, havia explicado tão bem o meu trabalho. Fiquei surpresa. Meu trabalho é bem legal, gente!
Vejamos. Santhiago, que é jornalista, pesquisador, produtor cultural e editor da revista, identificou no livro um comprometimento com o alerta e com a transformação social. É também fonte de alívio pessoal para quem conta a história, para quem passou por muitas provações e, por isso, tem o dever de relatá-las para que elas não se repitam. Com, isso, fica claro pra mim que já cumpri grande parte das minhas boas ações do ano.
Mas tem mais, e preciso aqui transcrever o trecho: “(...) dado o volume presumível de gravações, as tarefas de textualização e organização se complicam e exigem o empenho de um autor responsável e criativo, interposto entre a oralidade e a escrita a fim de garantir a esta não apenas entendimento, mas atração e encanto. O texto de Carla faz isso. Além de convencer como letra impressa, seduz.”
Que tal? Logo depois ele escreve que tropecei em alguns pronomes possessivos mas, well, well, os escritores são assim, revolucionários e voluntariosos, capazes até de bater o pé com o revisor algumas vezes.
Santhiago lamenta que as relações entre entrevistado e entrevistadora, as situações de narração e as soluções da escrita não tenham sido reveladas numa introdução. De fato, elas ficaram de fora do livro, mas estão num artigo que pode ser lido em www.terapianarrativa.com.br/artigos.html . Isso é novidade, queridos.
E para o final do ensaio, o jornalista reserva uma análise curiosa:
“(...) não é à toa que o testemunho autobiográfico, literário, jornalístico e religioso sejam um só. Na busca de uma vida normal e segura, testemunhar é artifício natural para quem tem no desabafo o símbolo da vitória e de outra história que ‘não tem a palavra droga a cada cinco páginas’”.
Não, vocês não leram errado. Ele quis dizer religioso, mesmo, “testemunho religioso”. Segundo ele, Deus e religião aparecem como explicações para toda a construção narrativa. É a Ana freqüentando a Igreja Universal, espaço mais seguro do que o NA, e seus pedidos sendo atendidos com a chegada do Gustavo, seu “salvador gentil”.
Engraçado, não havia percebido que a fé estava tão aparente nas últimas páginas. De fato ela existe na vida real, à sua maneira, mas no livro me parecia estar disfarçada por trás de um humor sempre ácido e algo inglês, coisa talvez de quem experimentou em Londres a chance de ver a vida sob outra perspectiva.
Se Deus e religião fecham o livro eu não sei, mas acabo de saber uma coisa. Essa história que caiu no meu colo e outras que andam chegando estão longe de ser um karma. Estão mais para uma cortesia do cara lá de cima. Amém. Poupem o sal grosso.

A Revista Oralidades pode ser adquirida pela Internet, no site http://www.oralidades.com.br/ A edição de que falamos é a Nº 3 – Jan-Jun/2008.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Karma?

Aconteceu de novo. Foi a quarta vez. Bom, tudo começou com a Ana, mas aí podemos chamar de coincidência. Como vocês seis já estão enjoados de saber, na época a gente se esbarrava no mesmo consultório. Então veio A bela menina e toda aquela montanha russa de histórias ligadas ao uso de drogas como um meio de aplacar a dor da alma, aquela que dói quando a gente suspira e pensa na vida. Alguns meses depois do lançamento do livro, uma mulher de São Paulo entrou em contato comigo, por email. Queria contar a história dela. Caía naquela categoria de mulheres que amam demais, sofrem a vida inteira e, aos poucos, conseguem recuperar seus caquinhos. Fiquei interessada, trocamos vários emails mas acabei desistindo porque não acredito em entrevistas à distância. É como um namoro por correspondência: simplesmente não dá certo. Bom, pelo menos comigo nunca deu.
Antes disso, outra pessoa, dessa vez um homem, já havia pedido os meus contatos na editora. Esse tem uma história insólita, daquelas que num dia a pessoa tem tudo do bom e do melhor e do poder e no outro não resta nada além de uma sensação estranha de que tudo não passou de um sonho esquisito, alcoolizado e drogadito. Fiquei interessadíssima, conversamos (desta vez ao vivo) e encaminhei o caso para o meu marido, que é roteirista e já tem até parte da escaleta do filme na cabeça. Combinamos que vou pegar o bonde um pouco mais tarde, em outra esquina, quando as entrevistas já estiverem mais adiantadas.
Na semana passada, me ligou um amigo da Ana Karina. Disse que a história dela é fichinha perto da dele, ou essa foi a minha interpretação das entrelinhas. Acertamos de conversar em setembro, depois de terminado o livro do Nós do Morro.
Mas agora eu me pergunto: gente, será um karma escrever histórias tão pesadas? Sei que ajudo de verdade os meus, digamos, personagens. Mas porque será que tanta coisa carregada anda chegando por aqui? Será coincidência ou eu tenho uma missão nesse estranho mundinho? Preciso de um banho de sal grosso ou simplesmente sentar a bunda e escrever sobre isso tudo até que isso tudo ganhe outro significado além da dor? Ser ou não ser, eis a questão. Opinem, por favor. Também aceito conselhos, rezas e simpatias.

domingo, 10 de agosto de 2008

O que cai do céu é chuva

Está difícil, cambada. Trabalhei o final de semana inteiro e não pude nem subir a serra para passar o dia dos pais com papi. Mas valeu a pena. Estive selecionando os melhores momentos de todas as entrevistas que fizemos para o livro do Nós do Morro. Entre as cerca de 300 páginas de depoimentos, alguns trechos são memoráveis. Como as lições da Mary Sheyla, que entrou para o Grupo aos sete anos, quando o Guti nem trabalhava ainda com crianças. Mary já era tinhosa e o venceu pelo cansaço.
Um dos nomes mais conhecidos do Nós do Morro, Mary Sheyla foi a primeira criança a ingressar no Grupo. De cara, já em 1999, despontou no longa Orfeu, de Cacá Diegues, e no seriado Cidade dos Homens, de Fernando Meirelles e Regina Casé; dividiu palco com Luana Piovani nas peças A.M.I.G.A.S. e Alice no País das Maravilhas, e ainda recebeu papel de destaque na série global Laranjinha e Acerola. Melhor Atriz no Festival de Cinema Brasileiro de Miami de 2002, com o curta-metragem A breve história de Cândido Sampaio, de Pedro Carvana (2001), a atriz se orgulha de exibir uma jornada vitoriosa dentro da cena artística nacional: nunca teve outro emprego. É com a vida atravessada pela arte, atuando sem parar no cinema e na TV, que ela paga as suas contas e ajuda a família. Em 2006, ganhou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no 34º Festival de Gramado, pelo longa Anjos do Sol, de Rudi Lagemann.
Então, em homenagem a todos nós, trabalhadores do Brasil, alguns dos melhores momentos da sua entrevista:

Trabalho
O Nós do Morro me ensinou que nada cai do céu, o que cai do céu é chuva. E até pra Deus te abençoar, você tem que fazer a sua parte. Eu demorei muito a ter oportunidade, eu comecei no Nós do Morro com 7 anos e tive a minha primeira oportunidade aos 18. Durante esse tempo todo eu só estudava, fazia os espetáculos, tinha uma responsabilidade grande com meus horários e já acreditava na filosofia multiplicadora. Por isso hoje eu chego no mercado tranqüilamente, não tenho medo de nada, estou pronta pra qualquer parada, porque eu sei o que passei. E eu tenho para onde correr também, eu tenho a minha casa aqui. Então não tem aquele desespero que outros atores têm, que quando acaba uma novela bate aquela dor de cabeça, aquela preocupação. Que nada, estou tranqüila, tenho minha casa aqui, eu sei que coisa boa está vindo por aí.

O Vidigal
Eu não largo isso aqui por nada, eu sou apaixonada por esse lugar, eu não sei o que o Vidigal tem que me fascina, o Vidigal me fascina. Não sei se é a energia, talvez seja até pelo Nós do Morro, pela minha família. Sou apaixonada por esse lugar.

Oportunidade
Quando eu era criança sempre vi os outros tendo oportunidade, todo mundo passando na frente e eu nada, e a minha mãe sempre falava: “Calma, filha, sua hora vai chegar e não vai ter pra ninguém”. Eu achava que era coisa de mãe. Mas chegou mesmo. Eu tenho a sensação do dever cumprido, não tenho a sensação de deixar nada a dever pra ninguém, porque eu lutei muito pra estar aqui onde estou, paguei um preço. E é um barato você ser um referencial, hoje em dia as crianças aqui da comunidade têm um referencial, coisa que eu não tive. Que bom que eu trabalhei pra isso, pra ser um referencial pra elas.

Preconceitos
Olha, a gente não pode falar que é tudo bem porque não é, talvez a sociedade não esteja pronta pra lidar com as diferenças, pra lidar com a minoria mas, ao mesmo tempo, ela é obrigada a nos aturar, a nos engolir, porque eu sou talentosa, tenho consciência do que eu sou na sociedade, do espaço que eu ocupo e eu não estou lá de bobeira, não estou lá à toa e nem por acaso.

domingo, 3 de agosto de 2008

PPP

Vocês já sabem do Cabeleira, HQ (ou graphic novel, que é mais chique) lançado pelo senhor meu marido, Leandro Assis, e Hiroshi Maeda. Está fazendo o maior sucesso como “uma das melhores HQs dos últimos tempos” e outros adjetivos elogiosos. Legal, né? Dá o maior orgulho.
O problema é que, animado com a repercussão e a crítica positiva do livro lançado pela Desiderata, os dois resolveram apostar em projetos novos e, digamos, um tanto ousados. A próxima história em quadrinhos será sobre... garotas de programa! E não adianta, para a nobre nação, explicar que é tudo feito em cima de pesquisas que não são aquelas de campo, mas sim as de internet mesmo, newsgroups, blog de Bruna Surfistinha e outras andanças na rede pela madrugada. Quem é que acredita? Eu mesma não acreditaria.
E aí, então, cambada, como fica a minha reputação? Um ano de casada e já preciso ser indenizada por danos morais? É duro, crianças. Nunca imaginei que pudesse ser tão perigoso casar com um roteirista fã de quadrinhos e pesquisas bizarras... Sogrinha, posso devolver a entrega?
Mas tudo bem, vai ter revanche. Ainda não sei como, mas estou aqui tramando... Minha vingança será malígrina! Aceito sugestões, meninas!
Enquanto isso, polêmicas à parte, não deixem de visitar o blog dos meninos, que é bem bacana: http://roteiristas.wordpress.com/ Estão lá todos os PPP, ou Papo Padrão de Puta. Ai, meus sais...