sexta-feira, 6 de maio de 2011

Acordou decidida a ser piegas. Faria daquele dia um feriado da pieguice. Começou dando bom dia ao papagaio e elogiando suas cores, arco-íris da natureza em forma de penas. Depois desejou um ótimo dia de trabalho ao marido, dizendo que ela estava muito bonito com aquela camisa pólo azul. Sorriu caprichado para o porteiro. Terminada a aula de ioga, em que ficou de cabeça pra baixo por deliciosos três minutos, fechou os olhos e agradeceu a oportunidade de estar viva ali, naquela sala, com aquelas pessoas e aquele corpo menos enferrujado a cada dia. Agradeceu a si mesma por permitir-se aquele autoconhecimento em passos persistentes e evolutivos. Espanou a vergonha, olhou fundo para a professora e disse que ela era um ser muito abençoado. Almoçou feliz uma salada colorida e sorriu para a garçonete, para o cara do caixa, para o carinha do estacionamento, para a senhora que queria passar na sua frente na fila. Voltou pra casa dirigindo devagar, sentindo o motor suave do carro, trocando as más notícias do rádio por música, e assim que virou a chave de casa correu para o computador. Estava decidida a ser piegas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que você acordou FELIZ ! Como sou piegas, achei lindo o que vc escreveu. Bj