segunda-feira, 28 de julho de 2008

Confuso não, Confúcio

Bem, existe vida além da bela menina, do Nós do Morro e da velhice (ops, aí já não tenho tanta certeza...). Depois de copidescar o livro que em breve será lançado com o título A Ciência da Longevidade, peguei mais um trabalhinho para a Ediouro. Fiz isso porque meus neurônios já devem estar comprometidos com a idade e não ando batendo muito bem das bolas. Afinal de contas estou na reta final de edição do livro do Nós do Morro, e tudo que eu não poderia fazer agora era pegar mais um freela. Mas vocês sabem como é. Parte de mim não consegue dizer não, parte pensa na conta bancária claudicante, a outra parte quer mesmo é mudar de assunto e pensar em outras coisas por um tempinho. Acho que isso acontece com todo mundo que lida com muita pesquisa e projetos de longo prazo. Gente, tem uma hora que cansa! Daí você topa pensar em qualquer outro tema. Com alguma sorte, esse novo tema pode ser até interessante.
Muito bem. Estou então agora me dedicando às sábias palavras de Confúcio. Confúcio, como vocês sabem, é o maior filósofo da história chinesa, e também um dos mais estudados na história da civilização. Nasceu em 550 a.C. e, em vida, não conseguiu que seus pontos de vista fossem levados muito a sério. Mas seu guia de valores morais e conduta social seriam bem úteis nesses nossos tempos tão difíceis. Ele defendia cinco qualidades básicas: benevolência, probidade, decoro, sabedoria e honestidade. Isso tudo não viria bem a calhar aqui em Bruzunganda?
Mais do grande Confúcio pra vocês, sumidos leitores:

SE ALGUÉM NÃO ESTUDA QUANDO É CRIANÇA, NÃO TERÁ NENHUMA UTILIDADE QUANDO CRESCER.

PARA SER CAPAZ, A PESSOA DEVE TER ESTUDO; PARA SER INTELECTUAL, DEVE APRENDER DOS OUTROS.

QUANDO UMA PESSOA É DESATENTA, ELA NÃO PODE VER COM OS OLHOS ABERTOS, NÃO PODE OUVIR COM OS OUVIDOS, NEM SEQUER SENTIR SABOR ENQUANTO ESTÁ COMENDO.

AQUILO QUE É MAIS CRÍVEL É O QUE SE VÊ, MAS VOCÊ NEM SEMPRE PODE CONFIAR NOS SEUS OLHOS. O QUE É MAIS CONFIÁVEL É AQUILO QUE SE PENSA, MAS NEM SEMPRE SE PODE CONFIAR NO CÉREBRO.

FUJA QUANDO SEU PAI AGITAR UM PORRETE GRANDE; ACEITE A PANCADA QUANDO O PORRETE FOR PEQUENO.

É preciso estar bem atento, diz o mestre, para entender as coisas mais importantes. Cá entre nós, às vezes é difícil ficar atento com frases como “O duque Ai do estado de Lu perguntou a Zai Yu... Confesso que me desconcentro ao visualizar uma briga de espadas e artes marciais com os adversários gritando iáááá, hááá!!! Perdão, confucianos, eu não sou de ferro...
E pra terminar, essa é disparada a melhor de todas:

ASSOCIAR-SE COM GENTE BOA É COMO VIVER NUM CÔMODO CHEIO DE ORQUÍDEAS; ASSOCIAR-SE COM GENTE RUIM É COMO VIVER NUM DEPÓSITO DE PEIXE SALGADO. APÓS ALGUM TEMPO NEM SE NOTA MAIS O CHEIRO.

Longa vida a Confúcio.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Pássaro-palavra

É que nunca me entrevistam, porque se me entrevistassem de vez em quando e me perguntassem qual é o meu escritor ou escritora preferida, diria, como num mantra: Hilda Hilst Hilda Hilst Hilda Hilst. Não sabe quem é? Informe-se, diria ela.
Da prosa já li a obra completa, e é arrebatadora. Alguns textos são como socos no estômago, mas você sempre sobrevive. Baqueado, afônico e meio vesgo, mas melhor do que antes. Nunca havia ficado tão siderada como fiquei com suas funduras, seus adentros, seus embaçados. Agora começo a ler as poesias e elas têm a mesma luz da ficção, mas com algum colorido a mais. E como só a poesia salva, diria a bruxa da Casa do Sol, aí vai um alento para esses tempos tão difíceis para nós, escritores de aluguel e outros mortais:

Amada vida:
Que essa garra de ferro
Imensa
Que apunhala a palavra
Se afaste
Da boca dos poetas.
PÁSSARO-PALAVRA
LIVRE
VOLÚPIA DE SER ASA
NA MINHA BOCA.

(...)

Que essa garra de ferro
Se desfaça
Diante da luz intensa
Da palavra.

PALAVRA-LIVRE
Volúpia de ser pássaro

Amada vertiginosa.

Asa.

“Poemas aos homens do nosso tempo”, parte X, in Júbilo, memória, noviciado da paixão. 2 ed. São Paulo, Globo, 2001.

domingo, 13 de julho de 2008

Eu não resisto

Vocês (não) pediram, então aí está:

Rasgos de noite
Pendurados na bolsa
Ficou sobre a mesa
No fundinho do copo
Na luz aguada com bolhas
A dúvida transparente de antes
O estalo ensurdecedor
Do gole que desce
Mas não molha
Jamais haverá
Água
Para tanta sede
No fundinho do copo
Estará sempre
A dúvida encarnada de antes
Bolhas de noite aguada
No copo balouçante

domingo, 6 de julho de 2008

Chama o reboque!

Uma amiga minha, Rosana Ferrão, é publicitária e escritora e tem um blog em http://bloglog.globo.com/rosanaferrao. Recentemente, escreveu o post Vistoria do Detran in Rio: Eu fui! Enquanto eu lia o texto, às gargalhadas, fiquei sabendo que seu carro andava sofrendo de ataques súbitos de formigas assassinas. Eram centenas delas que, mesmo depois de dedetizações e despachos, resolveram aparecer em plena vistoria do Detran, numa espécie de arrastão selvagem. Foi só o inspetor levantar um pedaço do carpete para anotar o chassi que elas apareceram, furiosas. Se o carro da minha amiga passou na vistoria? Sim, passou. Parece que o inspetor ficou com pena.
Bem, meninos, eu não passei. Quer dizer, eu nem cheguei a fazer a prova. Sorry, Rosana, mas a minha história é mais dramática! Pra começo de conversa, precisei subir a serra para passar pela vistoria. É que o meu carro, assim como eu, nasceu em Petrópolis, e os documentos são todos de lá. Como o Detran está muito preocupado em agilizar as coisas, agora não é mais permitido fazer a vistoria em qualquer cidade ou município diferente daquele que aparece no raio do Renavam. Por que facilitar, se eles podem infernizar a sua vida?
Depois de três horas de viagem graças a um trânsito de sexta-feira em toda a cidade e outro trânsito causado por um engavetamento na Linha Vermelha, cheguei no tal posto da vistoria. Quer dizer, cheguei na fila para o tal posto. Cheguei no começo da rua onde ficava o tal posto, no alto de uma colina. Eu estava no pé do morro, atrás de mais ou menos vinte carros. Foi aí que o meu sangue germânico começou a esquentar. Comecei a lembrar de todas as vezes em que eu havia ligado para o Detran para tentar marcar a vistoria e ouvia sempre, como um recado eletrônico: “Não temos vagas para esse posto agora, liga mais tarde”. Como assim? Isso é um agendamento ou um teste psíquico? Mais de dez tentativas depois, desisti e contratei um despachante. Milagrosamente, no dia seguinte eu tinha um dia e um horário marcados. Competentes, eles, não? O que não me disseram é que, em média, são oito carros agendados a cada quinze minutos. Me diz, então, por que marcar horário? Era mais fácil eles desejarem boa sorte e mandarem rezar um pai nosso.
Motor desligado naquela fila que não andava há mais de meia hora, era nisso que eu pensava quando passei a mão no meu celular. Comecei a soltar os cachorros com a despachante que, no meu limitado entendimento de mundo, deveria ser uma pessoa que facilitasse a minha vida, e não o contrário. Enquanto eu reclamava os meus direitos, a fila deu sinal de que daria alguns passinhos à frente. Tentei ligar o carro, e nada. Nadinha. Em plena discussão telefônica, enquanto a mulher me falava para eu ter calma (o que, é claro, me deixava ainda mais irritada), o carro morreu. Pifou mesmo, largou mão, jogou a toalha, desistiu da vida. E o que é pior, parou a fila. Bom, perdi completamente a moral. “Vem cá, dá para chamar alguém para me ajudar porque o carro não quer mais ligar?”, eu falei bem cândida para a minha querida despachante. Enquanto eu fazia sinal para os outros carros passarem na minha frente, o mecânico chamado às pressas na esquina coçava a cabeça. Não teve jeito. Esperei pelo reboque por quase uma hora num frio de rachar, mas só conseguia pensar numa coisa: perdi a vistoria!!! Gente, vou ter que fazer tudo de novo! Agora me diz, Rosana, essa história bate ou não bate a sua?

terça-feira, 1 de julho de 2008

Bye, bye, Off Flip

O problema de participar de concursos é que você pode perder. E perder é chato. Eu não costumava participar de nada, mas à medida que os prêmios foram ficando intere$$antes, acordei para a vida e me meti em alguns. Mas só neste ano já levei duas bombas. Uma da Fundação Biblioteca Nacional, que oferece bolsa de criação literária para romances em desenvolvimento (é claro que tenho um romance em desenvolvimento, quem não tem?), e outra da Off Flip, que promove anualmente, entre outros, um concurso de poesia. Neste o prêmio é mais modesto, mas os vencedores também ganham hospedagem com direito a acompanhante para todos os dias da Flip. E eu, que até hoje não consegui freqüentar aquela feira, a-do-ra-ria ter ganhado esse empurrãozinho. Mas não rolou e o bochicho de Paraty ficou mais uma vez para a próxima. Então, como prêmio de consolação para minzinha, publico aqui mesmo a poesia com a qual concorri (não é pra isso que serve blog, gente?). Achei que ela era alternativa, bem Off. Como se vê, achei errado. Chamem os jurados.

Drama urbano

Vestida de cansaço,
a mulher bateu a porta.
Na bolsa de pânico meteu as chaves
e os documentos
(envoltos em sacos plásticos).
Já na rua sentiu frouxa a calçada.
Sob sol inclemente, caminhou decentemente
até o ponto de ônibus lotado.
Mais que isso só se lembra até a roleta (russa).
No dia seguinte, amanheceu exausta.
Vestida de exaustão, bateu a porta.