sexta-feira, 3 de junho de 2011

Todo chato cutuca





Depois de muita insistência e algumas ameaças, capitulei. Não tive saída. Entrei para o Facebook. Uma amiga muito antenada com mais de mil amigos me ensinou que o legal é falar feicebuque, com ênfase nas duas últimas sílabas. Usar a pronúncia americana pega mal, ela disse. Imagino que deva ser coisa de dinossauros anacrônicos e colonizados. Enfim. Entrei para o FB, para os íntimos (não sei se falar assim é cool, gente, tenham paciência comigo).

Há tempos, quando eu ainda gozava a marginalidade digital e não sabia o que era levar uma cutucada na rede, ouvi a mesma amiga antenada dizer estar com um post atrás em relação a um possível affair que emergira na rede. “Estranho, ele tem só 40 amigos”, analisou, como quem avalia atentamente um OVNI. “Se eu entrar nisso aí não vou ter nem vinte!”, falei logo, olhos arregalados e ouvidos incrédulos.

Bom, eu estava errada. Meu marido e eu andamos competindo perna a perna o número de amigos e nós dois, que entramos juntos na seara dos recadinhos apressados há 48 horas, já temos mais de 50. Ele ainda leva vantagem, mas isso é porque desrespeitou o horário do fim da competição, ontem de madrugada, quando ficamos separados por computadores gritando novos nomes. “Aninha! Lembrei da Aninha!”, um dizia, e saía correndo para adicioná-la. Apelamos para amigos de infância. “Assim não vale, tem muita mulher aí!”, eu reclamava, enquanto pesquisava na página pela minha cidade natal. Não encontrei ninguém que pudesse adicionar, o que me fez pensar que aqueles gatinhos da sexta série devem estar todos carecas ou de cabelos brancos, barbudos ou simplesmente irreconhecíveis. “Não vale, eu trabalho em casa, não tenho colegas de trabalho!”, ainda repliquei enquanto via a galera crescer na página dele, mas não colou. Continuo atrás na pista.

Fui contaminada, é claro. Mal consigo escrever enquanto espero confirmações importantíssimas para a minha sobrevivência pessoal e profissional. Era o que eu temia. Meu sistema límbico reptiliano foi comprometido. Estou mais conectada, no entanto desatenta. Mais sociável, porém ensimesmada, literalmente (presa em mim mesma).
Esse frenesi deve passar com o tempo, penso. De qualquer forma, não tem mais jeito. Como diria o guru McLuhan, meus sentidos já foram comprometidos pela tecnologia.
Agora só me resta cutucar os outros.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu tenho mais de 100,rsrsrsrs
bj
Andrea

Bete aguirre disse...

Perfeito, Carla. Adorei seu texto e suas palavras precisas sobre o FB. Porisso quase não vejo meus e-mails, ainda mais qdo se está viciada nos joguinhos do FB.
Parabéns e juro que não vou te cutucar.
Bete Aguirre(amiga da Celita)