terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sem Jabuti

E a arquibancada suspira, desolada, aaaaahn. Cabisbaixos, os torcedores enrolam suas bandeiras e tomam o rumo de casa. Naninha, meninos, não foi dessa vez. Ainda não tenho um Jabuti na estante. Mas ele mandou lembranças e é o que vale. E me disseram para tomar champanhe mesmo assim, então é isso, está tudo combinado. Continua valendo o brinde e ano que vem tem mais. Champanhe é pra toda hora, bobinhos.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Com ou sem Jabuti

É amanhã, queridos. Às 14h, na sede da Câmara Brasileira do Livro, em Sampa. É lá que serão anunciados os vencedores de todas as dez categorias do Jabuti. Se eu ganhar, vou comemorar com, pouc, champanhe. Se não rolar, tudo bem. Já estive bem feliz até aqui. De qualquer forma, torçam por mim!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Café Destino

Sujeitinho vagabundo
Metido a besta
Perdido na vida, no mundãodedeus
Se acha sabedor de coisas
tantíssimas
Mas no fundo
não enxerga no claro
e por isso prega o escuro
Dever ser duro ser
Destino.

Ontem fui ao cinema, no UCI do NYCC, aquele templo das siglas americanas na Miami brasileira. Lá abriu um café novo, com cara de café de aeroporto, que é para combinar com todo o complexto de salas de cinema. O nome: Destino. Gostei. Tem um ar misterioso, tipo Mullholand Drive. Mas não, não foi inspirada no café que escrevi a poebagem (poema com bobagem) aí de cima. Ela já existia. Uaaau...será o destino?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Por trás da entrevista (e do Jabuti)


A história desse livro começou há dez anos. Os livros são assim, crianças, eles têm vida longa. Eu estava recém-formada, tinha 23 anos e ingressava no mestrado da UFRJ. Comunicação e cultura. Escola de comunicação. ECO, para os íntimos. Era um grande salto. O projeto era continuar remexendo na monografia feita na graduação, já voltada para a entrevista jornalística. Procurei por livros de pesquisa relacionados ao tema como quem procura agulha num palheiro. Da primeira vez que entrei na biblioteca levei pra casa alguns milhares de fungos de mofo que detonaram a última grande crise de asma de todos os tempos. Eram tempos difíceis, aqueles.
Até que escolhi minha orientadora. Eu era sua aluna em um dos cursos cujo nome nunca vou me lembrar (Tópicos culturais da pós-modernidade ou coisa parecida... todos os nomes, pra mim, eram muito parecidos, todos queriam dizer algo muito complexo, hermético e cheio de entrelinhas, algo como “volte pra casa, pirralha, isso aqui não é pra você”). Mas, uau, essa professora falava português! E eu não precisava, durante a aula, anotar as palavras que não entendia para procurá-las depois no dicionário, recurso absolutamente fundamental nas aulas de análise de discurso, por exemplo. Eu mal podia acreditar. Finalmente um ser humano inteligível na minha seara.
Segurei nela como uma criança se pendura na barra da saia da mãe. Era ela, Heloisa Buarque de Hollanda, quem me acompanharia pacientemente por mais de um ano de lenga-lengas típicas de orientandos, provavelmente as criaturas mais chatas do universo. Inseguros, carentes, indecisos, sempre à beira de um colapso, um surto ou um suicídio. Eu não cheguei a ser isso tudo e até recebi elogios pelo meu suposto auto-controle, mas devo ter enchido um pouco o saquinho. Bom, ao menos eu já quase não me agüentava. Então eis que, quando surjo com a idéia de entrevistar entrevistadores como uma saída para driblar a rarefeita teoria e pesquisa encontrada sobre o assunto, a orientadora revela sua outra personalidade, a de editora, e me diz ótimo, siga em frente. “Mas faz pensando em um livro”.
Foi essa a benção. Está aí. Suas palavras pegam. É como promessa de mãe, como uma sentença do bem, como uma reza forte. “Vou fazer até novena pra você ganhar”, estava escrito no email que respondia a notícia da indicação ao Jabuti. Depois dessa, estou levando a maior fé.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Foi mal, Gagu!

Eu sabia que era um convite perigoso. Aniversário da Ana, com direito a participação de um grupo Hare Krishna e a presença de alguns personagens do livro, era de dar um friozinho na espinha. Primeiro por solidariedade ao meu marido que, tímido que só, ficou em cólicas só de pensar no risco de ter que sentar no chão de pernas cruzadas, descalço, e entoar hare hare hare rama. Mas ele foi corajoso e eu também. Encaramos.
A noite estava fria e linda, as velas enfeitavam a piscina e o clima todo era de uma Índia que talvez só exista nos nossos desejos. Próspera, com cheiro de incenso, animada e saudável toda vida. Um showzinho de um grupo Hare Krishna rolava ao fundo, com ótimo instrumental (tinha até violino!), tranqüilo, e não lembro de ter visto ninguém descalço. Relaxei. O meu marido também. Fui sendo apresentada aqui e ali como a autora do livro e estava adorando a oportunidade de conversar com aquelas pessoas todas que povoaram tanto a minha cabeça, por tanto tempo, antes mesmo de eu as conhecer.
Até que chegou o Gagu, que no livro chamamos de Gagoo. Eu já tinha sido avisada pela anfitriã: “O Gagu já brigou comigo algumas vezes, não gostou do que falamos sobre ele no livro”. Puxei pela memória e relembramos, juntas, as passagens em que ele participa da história. Pô, ele é até elogiado! É ele aquele cara espirituoso, praticante de ioga, que não falava mal de ninguém e tomava um suco de clorofila antes de cheirar. Ops. A mãe dele pode não ter gostado disso. Quando o vi, congelei. Apesar de todo o tom de brincadeira que envolvia as queixas, fiquei realmente apreensiva. Sei lá, gente. E se ele resolvesse partir pra cima da magrinha aqui? O cara era grande! Fiquei na minha, sentadinha num pufe, compenetradíssima no meu prato de comida indiana. Quando ele sentou do meu lado, ainda tentei por alguns minutos fingir que nada tinha acontecido. Mas não teve jeito e por um nada não engasguei com o arroz de lentinhas. Levei um pito de leve e ainda tremi por dentro por alguns segundos. Mas acontece que o Gagu, lembrem-se, é espiritualizado. E logo estávamos conversando sobre Santo Daime, clorofila e a temporada dele no Havaí, e não sou boba de contar mais uma palavra que tenha saído da sua boca.
O que importa é que Gagu é do bem. Assim como todos os outros personagens que estavam naquela noite, adotados ou não pelo livro, comungando do mesmo carinho que tenho pela aniversariante de ontem. Quer dizer, o aniversário oficial é hoje, mas isso é só porque a mãe dela não gostava do mês de agosto e pulou um dia na hora de registrá-la. O que é a cara da família. Pela primeira vez na vida, ela comemorou no dia certo. Mais um avanço. Depois do bolo, a noite acabou leve, feliz e com uma certeza: é arriscado escrever no Brasil, mas vale a pena. Parabéns, Ana!