quinta-feira, 14 de julho de 2016


Naquele dia ele ia conseguir. Não passava daquele dia. Vinha se preparando há meses. Respirou fundo, sacou o celular do bolso, abriu a agenda telefônica. Bastava encostar no número ligeiramente, tão simples, tão rápido. Você consegue, pensou, nem precisa discar nada, é rápido como tirar um band-aid, você consegue.
Não conseguiu. Bateu taquicardia, suor frio, tremedeira. E se engasgasse? E se perdesse a voz ou, pior, ficasse com uma voz esganiçada de cantor de chuveiro? Ah, mas não, não podia desistir. Havia prometido a si mesmo que, se não ligasse naquele dia, jogaria o celular na privada. Escreveu essa promessa, até. Na página de notas do celular.
Olhou para o espelho, disse Há! e ligou.
Fala Pedrão!
...
Alô?
...
Você tá aí, cara?
...
Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
...
Desliga aí, vou te ligar para ver se melhora a ligação.
Mauro, melhor amigo de Pedrão, amigo de infância, do peito mesmo, nunca mais conseguiu falar com ele. Recebeu uma mensagem no whatsapp, no entanto, onde Pedrão explicava estar pegado no trabalho, que no momento em que ligou viu que teria que desligar, que pô, saudade irmão, a vida tá corrida, como vai a Belinha? Vamos combinar um churrasco, vamos marcar aí.
Pedrão não recebeu resposta. Hoje vive corroído com a ideia de ter magoado o amigo de fé, irmão camarada, seu brother de sempre. Prometeu a si mesmo que escreveria uma mensagem para ele no inbox.
Depois dessa, Pedrão não falou com mais ninguém ao telefone. Acha íntimo demais. Falar ao telefone é uma invasão de intimidade que ninguém merece. Muito menos os amigos.