terça-feira, 23 de agosto de 2011

Tempos modernos

Estou cada vez mais moderna, meninos, e acabei de aprender a usar o Dropbox, recurso que permite o compartilhamento de arquivos pela internet. Graças a ele pude colocar aí embaixo, à distância de um clique, o conteúdo da minha apresentação na USP. Como aos participantes da mesa foi pedido um texto para futura publicação, acabei escrevendo as páginas milagrosamente "anexadas" aqui. Eu não li o texto na hora, mas ele conduziu a minha fala, precavidamente organizada por tópicos.

Sim, as mãos tremeram no começo e achei prudente não tentar levar à boca o copo d’água, no entanto não gaguejei, não perdi o rebolado nem o raciocínio e fiz até as pessoas rirem – não de mim, gente, das minhas piadinhas. Que delícia, aliás, fazer as pessoas rirem. Não me admira mais que a stand up comedy ganhe novos adeptos a cada dia. O prazer de ouvir a risada de uma platéia deve causar até dependência.
Como vocês podem perceber, estou tentando me tornar versátil, falante, tecnológica e engraçada. Ouvi dizer que só assim os escritores sobreviverão.

Apresentação USP

domingo, 21 de agosto de 2011

De Sampa


A pessoa vai a São Paulo participar de um evento importante na USP, faz uma apresentação digna de nota azul no boletim e volta com vontade de comentar certamente as coisas mais bobas da viagem. Deve ter sido o ar seco e poluído respirado por três dias e que dava a impressão de ainda se estar no avião, com tontura, um pouco de náusea e uma pressão esquisita na cabeça. Escritores são seres muito sensíveis, portadores, inclusive, de pulmões e narizes.

Respeitemos então os impulsos, porque é pra isso que serve um blog, e falemos sobre as bobagens: a primeira é que, no banheiro do aeroporto Santos Dumont, há uma cabine com a seguinte inscrição na porta: “Para pessoas de baixa estatura”.

Parei. Olhei de novo para ver se não tinha confundido com um banheirinho infantil. Não, crianças são crianças, e, apesar de pequenas, não costumam ser chamadas de “pessoas de baixa estatura”. Poderiam, até, e devia ser assim na Idade Média, quando as crianças eram apenas adultos pequenos e devia-se economizar muito em brinquedos, mas hoje é diferente. Concluí então que aquele era um eufemismo torto para a palavra anãs. Convenhamos, ficaria estranha mesmo a placa “Para anãs” na porta do banheiro que, imagino, deve lembrar o banheiro da Minnie na Disney. Usar a palavra “anãs” seria, no mínimo, como tudo na vida hoje para a turma dos sem humor, politicamente incorreto. Mas me peguei pensando se uma amiga minha, com pouco mais de metro e meio de altura, não poderia também se sentir ofendida com a placa. E isso, então, não seria politicamente incorreto para com as baixinhas?

A segunda reflexão totalmente dispensável, porém irresistível, aconteceu no avião. Estava assistindo ao canal da TAM, pensando em como a comunicação é privatizável, e li na legenda, depois de uma matéria sobre um destino turístico imediatamente esquecido: “Se você vier com o seu avião, a latitude é...” A frase terminava com coordenadas provavelmente muito úteis para quem tem o seu próprio avião. Agora me expliquem, meus amores, quem tem um avião estaria fazendo o quê apertado num Fokker 100 lotado da ponte aérea?

Fazer o quê. Escrever é estranhar.

No próximo post, refeita da poluição paulista, conto como foi a apresentação na USP. Antes preciso respirar um pouco de maresia.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Vendi o passe

Agora sou chique, meninos, e estou representada pela Shahid.
Quem achar lá a Wally aqui ganha um exemplar do livro Por trás da Entrevista, cujo lançamento foi organizado pela Valéria Martins, hoje minha agente incansável.
Aproveitem. A promoção vale apenas por essa semana. Ou vocês acham que tenho muitos livros sobrando numa caixa de papelão pesada que ocupa um espaço enorme na casa?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Releituras





Uma das maiores fobias de um escritor, geralmente, é reler seu texto depois de publicado. Porque, pensem comigo, se ele já está nas ruas, já e-ra. É melhor não ler para não encontrar algum deslize imperdoável e, agora, indelével. Também é melhor não perceber que, hoje, você escreveria aquele parágrafo com um ritmo diferente, e economizaria um ou dois adjetivos ali na página 15. É duro reler um livro que saiu das nossas mãos, mas que, como filho crescido, já fugiu de casa e aprendeu a fazer uma macarronada sozinho. Parece outro, esse livro, e talvez por isso ele assuste tanto. Sim, escritores podem ser muito dramáticos também.

Fato é que ainda não havia relido A bela menina desde o seu lançamento, em 2008. Principalmente depois de ter levado algumas voltas do revisor, que mexeu no que não tinha que mexer. Livro-testemunho, espécie de desabafo literário, a biografia pedia o tom coloquial da oralidade e não podia correr o risco de certas revisões cegas, como aquela que mudou a frase “Pô, tô fudido” para “Pô, estou fudido”. Gente, quem é que se dá ao trabalho de dizer “estou fudido”? “Você sabe, meu caro, é que me parece que estou fudido...” Não dá, certo?

É claro que foi um descuido do revisor, e neguei educadamente a correção, explicando o que acabei de explicar acima. Mas ela, a revisão cega, acabou passando num fechamento feito às pressas porque as editoras estão sempre com pressa, sei lá porque. E belo dia, quando eu ainda vivia feliz e faceira no desconhecimento de tais problemas, ouvi de um amigo que acabara de ler o livro, no café da Argumento: “Por que você escreveu ‘estou fudido’?”

Faltou-me o ar e logo veio aquela leve taquicardia que também responde pelo nome de raiva. Merda, pensei, querendo matar o revisor, meu mais novo arquiinimigo. Enquanto eu respondia ao meu amigo, deprimida e derrotada, que não havia escrito assim, eu afundava em mais um ano a minha coragem de reler o livro. Só pode ter sido de propósito, bufei em pensamento, imaginando logo outros descuidos do tipo. O revisor deve ter ficado irritado comigo, que não deixava colocar mais vírgulas em algumas frases longas e meio encaracoladas de propósito, que era para dar mesmo a sensação de que aquela vida de viciada era uma corrida sem fôlego. Mas ele haveria de se vingar de mim. Eu que esperasse. Há.

Esperei, e a hora dele chegou. Por causa do seminário da USP, finalmente reli o livro. No entanto, surpresa: fora o caso acima, que qualquer dia resolvo numa terapia qualquer sem precisar matar o revisor, não achei muita coisa para me descabelar ou dizer que estou fudida. Mas também não tive coragem de marcar os tropeços que encontrei, o que seria muito útil numa eventual segunda edição.
Melhor deixar isso para uma terceira leitura, se a coragem for grande. Vai que pinta mais um seminário, nunca se sabe. atenta.