terça-feira, 29 de abril de 2008

Títeres de ti

Com carinho para os meus cinco fiéis leitores:

Segure os meus cordões
Levante os meus ombros.
Marionete cordata
Garante sucesso de público
Embora um dia vire sucata.

domingo, 27 de abril de 2008

Sarau de domingo

Silêncio.
O sono dorme.
Ondas coloridas amortecem
Sonhos-rajadas.
Os corpos, encapsulados,
Alojam-se no escuro do não
Pensado.
Aquilo que, de manhã,
Será também o não
Lembrado.
Noite é assim,
Bangue-bangue de neurônios cansados.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Um pouco de poesia

Para não dizerem que não falei de flores (é duro ser blogueira), começa aqui uma semana de poesia. O primeiro sarau é hoje. Estão todos convidados. Aí vai:

Corpo distendido
O não dito
Pelo dito.
Enquanto pêlos
Eriçados
Agitam sutilmente
Braços cansados,
Ombros fundos
Estalam dores
E também cores.
Estranha mistura,
A vida.
Enquanto dura,
Eriça, dói, colore
E afunda.

O ovo está vazio?
Quebrada a casca?
Perdida a gema?
Ficamos com a clara?

Até onde a perna vai
Sem que o braço a alcance?

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Subindo o Vidigal

Bem, existe vida além da bela menina. E ela está lá na rua Dr. Olinto Magalhães, n° 54. É subir o morro do Vidigal e parar mais ou menos na metade do caminho, onde fica o casarão do Nós do Morro. Pra quem não sabe, Nós do Morro é um grupo de teatro (hoje Companhia de Teatro Nós do Morro) fundado há 22 anos por Guti Fraga, Fernando de Mello da Costa, Fred Pinheiro e Luis Paulo Corrêa e Castro. Nos primeiros espetáculos que viriam a montar – inspirados no cotidiano dos moradores e encenados pelos próprios –, Fernando cuidaria da direção e da cenografia, Fred da iluminação e Luis Paulo da dramaturgia. Fernando hoje segue outros caminhos mas, fora essa baixa, é assim que funciona até hoje. A idéia era proporcionar à comunidade o acesso à arte. Acabou levando-a ao mercado de trabalho, porque qualidade ali sempre foi palavra de ordem.
Valeu a pena a maluquice de Guti, vidigalense desde a década de 70 e idealizador do grupo. Naquela época, Guti encerrou uma longa parceria de trabalho com Marilia Pêra em nome de um sonho. Chora até hoje quando conta a força que precisou ter para dar esse passo. Grande passo, hoje mais do que reconhecido não só pela amiga Marilia, mas também pela crítica nacional e internacional.
Participar da produção desse livro é uma honra. E freqüentar o casarão é uma experiência ímpar. Não só pela vista deslumbrante lá de cima, mas pelo clima de seriedade e cumplicidade que reina no espaço. Ninguém chega atrasado, ninguém deixa de cumprimentar ninguém e é um tal de bom dia boa tarde boa noite que a gente se pergunta porque o Rio de Janeiro inteiro não pode ser assim. E recomendo: Cidade Vampira, peça em cartaz no Teatro do Vidigal. Fica na mesma rua do casarão, no nº 16. (tel. 3874-9411)

domingo, 20 de abril de 2008

Feliz bela menina

Estava eu lá, caneta nova em punho, autografando os livros ao lado da Ana, quando começo a ver os personagens da história ali, ao vivo e a cores. Estavam quase todos lá, na fila, livro na mão, esperando a vez. Quer dizer que eles respiram, gesticulam, andam e ainda tiram fotos? E eu achando que eles estavam só na minha imaginação! Estava lá o primo, cúmplice de boa parte da infância e da adolescência passada em Teresópolis; a Claudia, companheira fiel de noitadas; a Flavia, que também se livrou da cocaína mas continua viciada por leite em caixinha. Toma dois litros por dia. E o Gagoo, ex-namorado que antes se drogar fazia ioga e tomava suco de clorofila, que era para tentar levar uma vida saudável. Que delícia ver todos eles lá, festejando suas vidas novas, refeitas, felizes e hoje bem mais interessantes. Ah, sim, e Mariah e Maria Julia, claro, orgulhosas da mãe que não parava de cumprimentar amigos. Elas eu já conhecia, mas a verdade é que estavam bem diferentes no dia do lançamento. Vai ver porque elas, agora, é que são personagens de uma nova história, uma nova obra. Um livro sem a palavra droga a cada cinco páginas. Parabéns, meninas! E obrigada aos meus amigos que também compareceram em peso. Family idem. Até flores ganhei! Pena que escrever livro dê tanto trabalho. Lançamento é tão bom que dá vontade de ter sempre, tipo aniversário. Feliz A bela menina!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Eu vi, meninos

E não é que a entrevista no Amaury finalmente apareceu? E não é que falamos direitinho? No dia da gravação foi tudo tão caótico que fiquei com a impressão de que a entrevista também tinha sido confusa. Mas não. As respostas foram claras e a Ana pareceu bem à vontade.
Foi estranha a experiência de me ver na televisão. É engraçado, mas o que menos me deu aflição foi a minha voz, que é o que costuma incomodar nove entre dez entrevistados. Já os meus cabelos...
Alô, torcedores silenciosos deste blog, tem reprise no sábado!

terça-feira, 15 de abril de 2008

É duro

“Vai ao ar no sábado”, disseram. Sábado, na hora prescrita, no canal de TV prescrito, sentei com o meu marido no sofá para assistir o programa no qual eu apareceria falando sobre o livro que vocês já sabem qual é. Durante as três, três horas em que ficamos reféns da telinha, vimos de tudo. Uma cacatua linda, uma arara mais linda ainda, uma cobra horrorosa. Um cara que ensina os outros a beijar bem (!), um psicólogo especializado em inveja, uma apresentadora agitadíssima que tem como meta ser a maior apresentadora da televisão brasileira. No meio disso tudo teve a fofa da Eva Todor, comemorando seus quinhentos anos de carreira com um livro que pareceu ser bárbaro. Ah, sim, e também dançarinos e dançarinas, as shadow dancers. Enfim, teve de tudo, tudo mesmo, menos... euzinha.
Vai ver não gostaram da entrevista, pensei. Mas não, é que mudaram a grade da programação e ninguém avisou. No dia seguinte, familiares enfurecidos deixaram recados mal educados na minha secretária eletrônica, inconformados com a propaganda enganosa recebida, de que eu ia aparecer no programa naquele sábado. É dura a vida de entrevistada. A quem interessar possa, by the way: agora dizem que a entrevista vai ao ar na terça. Mas não garanto.

sábado, 12 de abril de 2008

O grande dia

Lançamento é quase igual casamento. Você faz de tudo para que aquela noite seja mágica, iluminada, cheia de amigos e parentes torcendo por você. Lindo, né? Mas aí você lembra que esqueceu de convidar seu ex-chefe, que tem que fazer urgente a sobrancelha, que tem uma espinha querendo tomar conta da sua testa, o que pode não ser um problema porque problema mesmo é se ninguém aparecer, meu Deus, e se ninguém aparecer? Aí você lembra que ao menos o povo da editora vai estar lá, mas e quem disse que isso acalma? Ver o editor assim, na noite de lançamento, também é de dar taquicardia. E se você esquecer de cumprimentar alguém importante? Pior, e se você não conseguir lembrar o nome da sua assessora de imprensa?
Eu já tive festa de casamento e já passei por alguns lançamentos (com a Marilia Carneiro simplesmente rodamos o país todo, foi uma delícia), mas mesmo assim parece que essa é a primeira vez. O mesmo frio na barriga, a mesma nóia, e principalmente a mesma felicidade. Alô, visitantes invisíveis desse blog, vejo vocês no dia 17, na livraria Argumento, para comemorarmos a largada oficial de A bela menina do cachorrinho. Estão todos convidadíssimos. Até lá, muita yoga na veia para segurar o coração. Aum...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O poder do Amaury

Então fomos gravar para o programa do Amaury Junior. Acordei às seis da matina, peguei um avião para São Paulo, encontrei com a Ana no aeroporto e rumamos para a Rede TV. Nos instalaram num camarim confortável, com direito a sanduíches, refrigerantes e frutas. Chique, não? Eu também achei, mas depois das duas primeiras horas de espera, o sentimento era mais o de estar preso numa jaula. Depois de três horas de espera, deu-se uma certa claustrofobia, mesmo. Mais duas horas e a Ana quis desistir de tudo. Outras duas horas, uma demissão de uma produtora e um pedido de desculpas da diretora depois, finalmente entramos no estúdio... vazio. Até a platéia já tinha ido embora!
Mas há males que realmente vêm pra bem: a alternativa foi fazer uma entrevista mais informal, intimista mesmo, os três sentados em pufes coladinhos. No final (depois de sete, sete horas de espera!), a entrevista foi ótima. Rendeu muito e foi até engraçada. Chateado com a confusão toda, um dos produtores chegou a me oferecer um prosecco. Aceitei, é claro, porque confusões acontecem nas melhores famílias. Aliviadas e exaustas, corremos (literalmente) pelo aeroporto para conseguir voltar ainda naquele dia, que era véspera do meu aniversário. Parabéns pra mim hoje! Estou feliz só de saber que corri o risco de passar a virada para os meus 33 aninhos num hotel qualquer perto do aeroporto de São Paulo mas estou aqui, lar doce lar, pensando que o Amaury deve ser pé quente.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O poder do Ela

A matéria de capa do caderno Ela, do dia 3 passado, continua ecoando. Dizem as boas línguas que teve até gente chegando na livraria com o jornal na mão para pedir o livro que vocês já sabem qual é. Alô, recém chegados: estamos falando da biografia A bela menina do cachorrinho, da Ediouro.
A reportagem da Bety Orsini foi um sucesso incrível. Na manhã de sábado recebi várias ligações, o mundo inteiro lê o Ela, não tenho dúvida. Mas o que as pessoas não sabem é que a entrevista também foi um show à parte. Enquanto rolava a conversa na redação do Globo e a Ana contava as suas agruras de ex-viciada, a Bety abriu o coração. Emocionada com a história toda, contou do seu casamento com um ex-dependente químico. Foram quatro anos de luta e hoje ficaram só as saudades. E as lágrimas. Quando vi, Ana e eu estávamos entrevistando a Bety, querendo saber mais daquela história tão cheia de entrega e amor, amor do bom. Por bons momentos, ficou em suspenso quem era personagem de matéria ali. A Bety também rende um livro.

A bela menina

O meu último livro, por exemplo. A biografia A bela menina do cachorrinho acaba de chegar pela Ediouro às livrarias, fresquinho, e a história dele é engraçada. Eu e a Ana Karina, a biografada, tínhamos a mesma terapeuta. Ela queria escrever um livro da vida dela, e o que eu queria da vida era escrever livros. Deu no que deu. Como nossa terapeuta não é ortodoxa nem nada, tratou de nos apresentar e o trabalho começou, não sem antes nos esbarrarmos uma vez ou outra na sala de espera do consultório. Faz parte.
O trabalho com a Ana foi emocionante. Durante o tempo em que a entrevistei, chorei junto com ela algumas vezes. Não deu para segurar. Nos encontrávamos apenas uma vez por semana, que era a freqüência que ela agüentava quando se tratava de mexer no baú de lembranças que, geralmente, eram pesadas. Daí eu ficava lá, na casa dela, ouvindo por horas histórias tristes e outras que chegavam a ser engraçadas. Ana era uma viciada com humor, e as lembranças dela também têm um quê de ironia. Eu mal interrompia, para não atrapalhar o fluxo de memória. Você podem imaginar que a memória de uma ex-viciada não é lá das melhores.
No final das contas, depois de encontros periódicos que aconteceram por quase um ano, eu tinha em minhas mãos nada mais nada menos que 800 páginas de depoimento. Uma bíblia. Um desespero. Comecei a fichar os depoimentos por partes, anotando os principais acontecimentos de cada um. Com isso, pude organizar os capítulos, que ia lendo para ela (em voz alta) aos poucos. Depois de alguns acertos inicias, a coisa tomou ritmo durantes seis meses, e o resultado está aí. Simples assim (ou nem tanto).

O blog de uma escritora freelancer

Aconteceu várias vezes. É só eu falar sobre o meu trabalho com alguém que não seja do meu modesto círculo de amizades que as mesmas perguntas aparecem. E como é que eu conheci a personagem do meu livro? E como é que te contratam, é por tempo ou por tarefa? E quanto tempo você levou para escrever? E quem é que fez o contato com a editora?
Aos poucos, percebi que a curiosidade é geral. Então tá. Atendendo a pedidos, vou começar a contar, aqui, como é a vida de uma jornalista e escritora freelancer. Ser jornalista e escritora já é complicado, freelancer então é quase um suicídio, e isso tudo ainda por cima no Brasil é de lascar. Mas fazer o quê, é isso que dá ir para a terapia e descobrir o que se quer da vida – e o que é pior: insistir no assunto!