quinta-feira, 12 de maio de 2011

OUTROS TEMPO$




De vez em quando lembro que também sou jornalista e boto as mãos meio enferrujadas na massa. O militar ainda me manda relatórios sobre os capítulos, mas bato continência e considero que o livro dele está terminado. Ou quase, porque os livros só terminam mesmo quando param em pé nas prateleiras das livrarias. Mas o considero terminado o suficiente, enfim, para começar a pensar no outro livro, o do restaurante italiano que completa 30 anos de salão neste ano. O dono, de família de imigrantes, tem pai, avô e bisavô no ramo, esses dois últimos conhecidos por terem criado, em São Paulo, a primeira confeitaria da cidade e uma das primeiras pizzarias com forno a lenha.

Preciso pesquisar isso tudo, pensei. E não só no Google. O Google pode ser, como bem definiu meu marido, Deus se mostrando aos pouquinhos, mas ainda não é, surpreendentemente, tudo na vida (mas vai chegar lá, é claro).

Então parti para os CPDOCs – centros de pesquisa e documentação dos jornais, para quem não pescou a sigla. A sigla, como me explicou o militar, é uma sequência formada pelas letras ou sílabas iniciais de palavras que constituem uma expressão. Não sei se deu pra entender.

Well, well. Fato é que percebi que ser pesquisador, hoje, é coisa de gente rica. A não ser que você se dê ao trabalho de rezar uma semana antes e reunir fé suficiente para ir até o Arquivo Público, você terá, caro repórter, que desembolsar algum dinheirinho. Na agência do Globo, por exemplo, duas horas de pesquisa, que devem ser devidamente agendadas com antecedência (eu só consegui horário para a próxima semana), custam R$ 50. Isso mesmo. R$ 50 para ficar lá vendo as pastas já previamente separadas para a sua pesquisa, que não poderá levar mais do que duas horas, mesmo que você esteja disposto a pagar caro por elas. Imagino que, prazo expirado, algum segurança de terno e fone no ouvido nos convide gentilmente a procurar o caminho de casa. As cópias e os fac-símiles das matérias, é claro, são cobradas à parte. Não quis nem perguntar quanto seria para conseguir uma autorização de reprodução em livro. Deixaria lá as saias, provavelmente.

Na agência do Estadão, antes mesmo de encomendar a pesquisa, é preciso fazer um orçamento. Só depois é que você recebe (ou não) uma pesquisa preliminar e escolhe o que vai querer de fato. Como lá não encontraram praticamente nada, devo ter economizado uma fortuna.

E o JB, que nem me responde? Já no telefone, o ser muito simpático que me atendeu sugeriu: “Escreve no email que é urgente”. Escrevi. Até agora não adiantou nada.

Saudades da época em que eu até marcava o dia de pesquisa, mas ficava à vontade no prédio do JB, o tempo que quisesse, pagando apenas pelas cópias dos jornais. Ou do tempo em que O Globo cobrava, pelo mesmo serviço, uma taxa quase simbólica. Ao telefone, o carinha da pesquisa concordou comigo que os tempos são outros. “Viramos uma empresa SA, sabe como é”.
Sei. Sei bem como é.

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