quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dias perfeitos


Escritores estão sempre em busca de dias perfeitos. Dias perfeitos são aqueles em que a internet não dá pau e você não tem que chamar o técnico da Net; em que nenhum cliente resolve marcar uma reunião de última hora e matar a tarde reservada para escrever aquele capítulo tão planejado, mas tão planejado que se não for produzido logo terá seu esqueleto esquecido e aí será preciso ler de novo todo o planejamento e, consequentemente, todas as anotações em post its espalhados por pilhas de papéis; em que você não esquece de sacar o dinheiro da faxineira, ah, o dinheiro da faxineira; em que você também não esquece de comprar, no supermercado, algum ingrediente fundamental para o jantar que costuma preparar nos solstícios de inverno de anos bissextos; em que você não perde a hora de manhã porque na noite anterior decidiu ser sociável alguma vez na vida e compareceu a um evento importante, indo dormir de madrugada; em que, enfim, as coisas simplesmente não acontecem para que você possa, timidamente, acontecer.
É claro que, com o tempo e a experiência, os escritores aprendem que os dias perfeitos só existem na imaginação. O que não faz, curiosamente, com que eles deixem de acreditar neles e assim buscá-los no calendário como quem procura por um feriado mundial incontestável.
São como cachorros tentando morder o próprio rabo, esses ingênuos escritores. Com a diferença de que cachorros existem, ao menos até que digam o contrário.

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