quinta-feira, 7 de abril de 2011

Kitsch, kitsch




A capa nova do sofá, vinho berrante, não funcionou. Sei lá onde eu estava com a cabeça, gente. Deve ter sido o filme da Frida Kahlo que vi um dia antes de escolher o tecido. Fiquei louca com aquelas cores e queria aquilo tudo pra mim. O único problema é que agora preciso me mudar para o México. Hoje as duas, a capa e a parede laranja, disputam para ver quem grita mais alto pelas minhas costas, enquanto tento jantar: “Ela é louca! Loooouca!”. Pobrezinhas. Deve ser duro me terem como dona de casa.

A diversão ultimamente, entre meu marido e eu, é descobrir o que mudar no ambiente para salvar o sofá. Pintamos a parede de branco? Mudamos todos os outros móveis? Tiramos o tapete? O piso? É claro que a opção mais sensata é engolir o preju e mandar fazer outra capa. Mas aí não tem graça, meninos.

Em homenagem ao poder do vermelho, então, eis aí acima uma foto do Bruno Veiga, grande fotógrafo com quem tive o prazer de trabalhar na minha época de freela da Casa Cláudia. A foto faz parte da série Subúrbio, e lembra mesmo a casa do meu avô, em Jardim Primavera, reduto de alemães fãs de paredes revestidas com cacos de ardósia.

Quando freqüentava a casa do meu avô eu era muito nova, tinha dois ou três anos, mas lembro do ambiente até hoje como se estivesse vendo um filme da Frida Kahlo. Lembro da enorme porta de correr de couro com tachas douradas, da lareira, do salão de jogos com mesa de sinuca, da enfermaria (meu avô era médico), da mesa retangular na enorme varanda, do campinho, dos divertidos anões de jardim. Era uma casa engraçada e kitsch, como não poderia deixar de ser. Uma das raízes dessa palavra, aliás, é alemã – verkitschen – e, injustamente, é usada para definir objetos de valor estético distorcido. Mas o kitsch é muito mais do que isso.

Pensem na Carmem Miranda, no tango, nos filmes do Almodóvar, no pingüim de geladeira. Isso é o kitsch: nem cafona, nem brega e tampouco de mau gosto. Feito para sonhar, está acima de qualquer estereótipo. Ele homenageia o bom humor e sapateia pelo clássico, flerta com o lúdico ou revela seu lado cult através da arte pop, que o tornou mais conhecido mundo afora. Acima de tudo, é inocente: ao brincar com a arte e com o exagero, também busca a infância perdida. A origem do termo remete à idéia travessa da cópia, surgida no século 19, na Europa. Foi nessa época que turistas norte-americanos começaram a pedir aos pintores que fizessem apenas esboços (sketch) de quadros, que poderiam então ser vendidos mais baratos. Depois vieram as grandes magazines, os supermercados, os eletrodomésticos coloridos, e ficou mais fácil levar o kitsch pra casa.

Na casa do meu avô, o Opa, o kitsch tinha ainda outra simbologia: a despreocupação. Era uma casa desencanada como a Sandy não é, estava conectada em banda larga ao prazer e reservaria para as revistas de decoração o espaço nobre da lareira (acesa). Não era uma casa de capa de revista. Nem de miolo. E por isso mesmo era tão inesquecível.

P.s Terminei o livro do militar. Como a Dilma já levou a medalha de grã-Mestre da Defesa, eu me contentaria com uma estrelinha de honra ao mérito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que você merece a medalha da Dilma e estou pensando numa maneira de resolver isso...
Coloca umas almofadas que tenham um pouco dessas cores .Algumas lojas de tecidos emprestam bandeiras de amostra...
Ouse!!!
bj Célia