segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Releituras





Uma das maiores fobias de um escritor, geralmente, é reler seu texto depois de publicado. Porque, pensem comigo, se ele já está nas ruas, já e-ra. É melhor não ler para não encontrar algum deslize imperdoável e, agora, indelével. Também é melhor não perceber que, hoje, você escreveria aquele parágrafo com um ritmo diferente, e economizaria um ou dois adjetivos ali na página 15. É duro reler um livro que saiu das nossas mãos, mas que, como filho crescido, já fugiu de casa e aprendeu a fazer uma macarronada sozinho. Parece outro, esse livro, e talvez por isso ele assuste tanto. Sim, escritores podem ser muito dramáticos também.

Fato é que ainda não havia relido A bela menina desde o seu lançamento, em 2008. Principalmente depois de ter levado algumas voltas do revisor, que mexeu no que não tinha que mexer. Livro-testemunho, espécie de desabafo literário, a biografia pedia o tom coloquial da oralidade e não podia correr o risco de certas revisões cegas, como aquela que mudou a frase “Pô, tô fudido” para “Pô, estou fudido”. Gente, quem é que se dá ao trabalho de dizer “estou fudido”? “Você sabe, meu caro, é que me parece que estou fudido...” Não dá, certo?

É claro que foi um descuido do revisor, e neguei educadamente a correção, explicando o que acabei de explicar acima. Mas ela, a revisão cega, acabou passando num fechamento feito às pressas porque as editoras estão sempre com pressa, sei lá porque. E belo dia, quando eu ainda vivia feliz e faceira no desconhecimento de tais problemas, ouvi de um amigo que acabara de ler o livro, no café da Argumento: “Por que você escreveu ‘estou fudido’?”

Faltou-me o ar e logo veio aquela leve taquicardia que também responde pelo nome de raiva. Merda, pensei, querendo matar o revisor, meu mais novo arquiinimigo. Enquanto eu respondia ao meu amigo, deprimida e derrotada, que não havia escrito assim, eu afundava em mais um ano a minha coragem de reler o livro. Só pode ter sido de propósito, bufei em pensamento, imaginando logo outros descuidos do tipo. O revisor deve ter ficado irritado comigo, que não deixava colocar mais vírgulas em algumas frases longas e meio encaracoladas de propósito, que era para dar mesmo a sensação de que aquela vida de viciada era uma corrida sem fôlego. Mas ele haveria de se vingar de mim. Eu que esperasse. Há.

Esperei, e a hora dele chegou. Por causa do seminário da USP, finalmente reli o livro. No entanto, surpresa: fora o caso acima, que qualquer dia resolvo numa terapia qualquer sem precisar matar o revisor, não achei muita coisa para me descabelar ou dizer que estou fudida. Mas também não tive coragem de marcar os tropeços que encontrei, o que seria muito útil numa eventual segunda edição.
Melhor deixar isso para uma terceira leitura, se a coragem for grande. Vai que pinta mais um seminário, nunca se sabe. atenta.

3 comentários:

Ana Karina de Montreuil disse...

Como foi falar em publico? Rivotril?
rs
Acredita que so li esse ano?
Bjs "to com saudade" ou será melhor "estou com saudade de você hahahahaha

Ana Karina de Montreuil disse...

Como foi falar em publico? Rivotril?
rs
Acredita que so li esse ano?
Bjs "to com saudade" ou será melhor "estou com saudade de você hahahahaha

Cintia disse...

Adorei o texto, Carlinha! "To" te esperando aqui em Sampa. Beijos. Cintia.