terça-feira, 21 de junho de 2011

Da série Eu era melhor aos vinte



Depois que entrei no FB e me dei conta, resgatando contato com amigos da época da PUC, de que me formei há 15 anos (não espalhem), dei para revolver alguns textos da faculdade - aqueles que o word ainda aceita abrir. Impressionei-me. Já naquela época eu sacava que o jornalismo não era bem assim essa maravilha. E fiquei me perguntando se eu era mais espertinha naqueles tempos ou se hoje apenas me falta um tema, um prazo e um professor.

O tempo não pára


Essa aí de cima é uma das questões que mais vem me assolando ultimamente. Fiz 21 anos há pouco tempo e adquiri a sensação de que a partir de agora tenho poucas chances até a reta final. A sensação, sem exagero, é de estar constantemente com uma forca no pescoço. É isso, a forca do tempo. Parece que tudo tem que ser resolvido agora, senão vai ser tarde demais. Tarde demais para seguir carreira, para mudar de país, escrever um livro, ter um filho ou plantar uma árvore. Tanto faz. Daqui a pouco já vai ser tarde demais para tudo.

Que outra sensação eu poderia ter, se todos os dias travo verdadeiros desafios com os ponteiros do meu relógio? E o pior: com o meu e com os ponteiros dos outros. Às vezes me pego imaginando onde esses dias de fúria vão parar. Provavelmente em algum hospício. Daí vejo o cartaz de estréia do filme "Adorável Professor", de Richard Dreyfuss. Não acredito que o filme seja bom, mas a frase de apresentação, emprestada de John Lennon, não podia ser melhor: "A vida é aquilo que te acontece enquanto você está ocupado fazendo planos".

É incrível como a gente se adapta a fazer tantas coisas ao mesmo tempo. Tomar café, almoçar e jantar lendo o jornal, que é para poder ler tudo, tudo mesmo. Dirigir e fechar detalhes de negócios no celular, escrever no computador e falar ao telefone. Enfim, viver vidas paralelas e que se dizem "eficientes". Juro que tenho lá minhas dúvidas. E também um pouco de vergonha de me declarar adepta daquela velha frase que diz que a pressa é inimiga da perfeição. É que isso é um pouco contraditório para os dias de hoje, mas confesso que minha intuição me diz que não há nada mais sensato e leve para a alma do que o vagar dos atos.

Mas e o jornalismo, o que fazer com este fastasma, esta reencarnação do coelho apressado de Lewis Carrol em Alice no País das Maravilhas? Escrever, afinal, não é algo que os dedos façam automaticamente. Poderia ser, mas felizmente não é. Não é porque antes de redigir as pessoas precisam pensar, graças a Deus. E na maioria das vezes elas estão pensando no tempo, invenção de apenas alguns milênios, mera convenção. E como sociedade alternativa não é o meu forte, também dedico boas parcelas do meu dia pensando nessa frase que mais parece uma condenação. O tempo não pára, eu sei que não e o problema é justamente esse.

Bem que o coelho de Alice poderia entender que é tudo uma questão de ótica, de contrastes entre paulistas e baianos, japoneses e brasileiros, Robson Crusoé e Sexta-feira. Acho até que entendem, mas não ousam falar vírgula sobre o assunto. Afinal de contas, quem reclama de escassez de tempo é preguiçoso. E por mais que este seja um julgamento injusto, não há tempo para desmenti-lo. Por mais que ainda restem toneladas de peso na minha consciência por tudo que ainda não fiz a tempo e temor dos dias em que vou ver as horas escorregarem pelos meus dedos, não há mais tempo para escrever.

E no jornal, professor, como vai ser? Levei cerca de meia hora para escrever este texto, será que é uma média razoável para alguma redação?

Nenhum comentário: