terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Calei-me quando te vi, e assim apreendi o presente.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Tem céu no fundo do mar.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A Apple já vale mais do que a Coca-cola. Finalmente comer maçã é mais legal do que tomar refrigerante!

terça-feira, 24 de setembro de 2013




Apresentação Fazendo gênero

Está aí, meninos. Fui a Floripa empunhar o microfone no megavento feminista Fazendo Gênero 10. Gaguejei, fiquei roxa e suei frio como quase sempre. Mas tá falado.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013



Mulher descascada

Sou uma antes de Hilda Hilst, e outra depois. Antes era uma adolescente um tanto entediada, sentindo-se exilada do excitante mundo lá fora, lugar que parecia sempre deslumbroso (sic,sic, sic!) destino. E eu enquanto isso perdendo a vida, deixando escorrer pelos dedos cada segundo de experiências antes de topar, numa trivial revista feminina, com a escritora da Casa do Sol. Foi numa entrevista que nos conhecemos. Eu e ela, a velha, a bruxa, a mulher que traçou boa parte do meu caminho. Estava lá, na conversa publicada pela Marie Claire, o espanto em forma de cérebro. Naqueles diálogos quem falava era a inteligência brilhante, a arte pura e translúcida, sem opacidades. Era Hilda, estrela Aldebarã. Como Drummond, me apaixonei por ela.
Mais de vinte anos se passaram de lá para cá, tempo suficiente para que eu lesse a sua obra completa, prosa e poesia, e fica me faltando apenas a dramaturgia. Bufólicas, Rútilos, O caderno rosa de Lori Lamby, Com os meus olhos de cão, Cartas de um Sedutor, Tu não te moves de ti, Baladas; Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão, A Obscena Senhora D: estão todos na estante, um pouco amarelados, marcados por dentro, manchados de lágrimas até. Amados. Tive vontade de abraçar cada um deles depois da leitura, e não o devo ter feito por medo de amassá-los. Aqueles livros me constituem na paixão e na alma, e foi seguindo os seus rastros, as suas dobras, os seus aguados, que comecei a escrever por mim mesma. Rascunhei as minhas primeiras leis, e também as minhas primeiras linhas de verdade. Eu queria ser a Hilda Hilst quando crescesse.
Continuo querendo, é claro, e vou com ela para Floripa participar do Fazendo Gênero 10, megaevento que debate os desafios atuais do feminismo e dos estudos de gênero. Nas minhas mãos estará meu livro, a novela rebolante filosófica À sua espera, mas na minha alma estará ela, a mulher bruxa. Boa sorte para todos nós.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013





Peço emprestada a sua mão
para escrever em grãos:
Anotar na areia seu sorriso
sem medo da onda borracha
Derrubar baldes de beijos
ao pé da gaivota
sem temer o vento - e o vôo.
Fazer a minha própria mão direita
escrever a vida em pegadas fofas efêmeras
sem medo, sem medo.
Peço toda você sempre na praia, no sol nascente e poente.
Peço apenas isso: um empréstimo de espumas felizes
à beira de mim.

quinta-feira, 20 de junho de 2013


Se meu coração parasse nesse momento eu juro que entenderia.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

E aí e aí e aí

E aí e aí e aí ela começou, de repente é o que parece, a falar: e aí e aí e aí. São essas vogais que a minha filha anda usando para conversar. Ela acabou de completar um ano, então me parece conveniente. E aí e aí e aí ela já tinha engatinhado, primeiro pra trás, depois pra frente. E aí resolveu ficar de joelhos, e aí, mais rápido do que a gente imagina, ficou de pé. E aí e aí descobriu o espelho, onde mora a melhor amiga dela, perfeita e admirada confidente pra quem ela conta tudo o que anda fazendo. E aí e aí e aí a conversa é longa, entremeada por beijos na boca da amiga, essa amiga que também faz careta quando pedem e parece gostar muito de lagartas coloridas.

E aí os neurônios da fala cutucaram os da coordenação motora (ou vice-versa, vai saber) e toda uma nova perspectiva bípede se apresentou, e aí, ah, e aí, meus caros, a vida ficou bem mais interessante. Dá para andar até o quarto dos pais e bater com as mãos espalmadas na porta, dá para ir sozinha até a cozinha, dá até, aí, para dançar apoiada no andador com cara de leão e focinho musical, antes que ele não seja mais companhia para o passeio na pracinha. E aí ele se resignará a um canto do quarto de brinquedos, ex-escritório da mamãe, e provavelmente tocará seu focinho sozinho. E aí o problema será dele, meninos.

E aí e aí, nessa espiral contínua, aconteceram outras coisas longe do espelho e da pracinha. Ideias e esboços de textos, reflexões filosóficas apressadas, projetos acalentados no banho, coisas que não tiveram o tempo que costumavam ter para rumar para a tela do monitor. E aí e aí e aí um ano se passou, duas festinhas, uma obra e uma mudança de escritório aconteceram e, no meio do caminho, muito texto desaguou debaixo da ponte que ninguém viu.

Mas não tem problema, crianças. E aí e aí e aí, reparem, não sugere um ponto final. Está sempre pronto para o próximo “e aí”, quando a bípede adulta aqui tiver o tempo hábil de colocar algo para fora. Caso contrário as ideias continuarão esperando o próximo intervalo do e aí e aí e aí. E aí talvez seja tarde de novo, mas e aí? Ritmo é isso mesmo, é o risco de vida do “e aí .”

P.S. Estou encarando uma Pós em Arte e Filosofia. Coisa fina. Trabalho duro. Se não enlouquecer até o final do semestre conto tudo para vocês.

sexta-feira, 10 de maio de 2013


Parabéns pra você

Nessa madrugada que passou, felizmente, eu dormi. Há exatamente um ano eu viraria a noite no hospital sentindo dores indescritíveis e, ao contrário do que diz a crença popular, inesquecíveis. Era um parto. Era o parto. Era a Alice, que chegou chorando, sujinha e com fome. Era eu, também, nascendo de novo. Eu também sairia suja, chorando e com fome. Já no quarto da maternidade, o dia começava a clarear. Pude olhar o horizonte enquanto tomava o café da manhã mais delicioso da minha vida, no entanto ainda não podia, sorvendo o café com leite redentor, imaginar a minha nova vida. Nem a Alice. Nem o pai. E não é porque muda tudo e a casa vira de ponta cabeça. É porque o amor funciona assim: começa do zero na terra molhada, no sangue e no suor, e só aos poucos ganha caule , pele e sorrisos. Se eu pudesse imaginar naquela madrugada o riso de hoje da Alice, o seu jeito de me abraçar, o olhar curioso e atento, era capaz de não ter conseguido parir. Ia querer ela pra sempre dentro de mim.
Te amo, Alice, de um jeito que só a gente sabe. Feliz foi o seu primeiro aninho. Que todos os próximos sejam ainda mais.



segunda-feira, 4 de março de 2013





Em (re) construção

“Quem cria confia”, estava escrito. Embaixo, em letras menores como quem titubeia na afirmação, a citação bíblica que sempre me intrigou nas traseiras de caminhões: “Se Deus é por nós, quem será contra nós”. Lá estava escrito assim mesmo, sem um ponto de interrogação depois. A frase era acompanhada apenas de sua devida referência: Romanos 8:31.
É uma tergiversação explicar isso agora, mas ando achando o mundo objetivo muito chato, então que se dane. Se vocês seis cansarem é só voltar para o Facebook. Fato é que a frase acima, que não é o mote desse texto, sempre me deixou confusa. Achava que era, ao invés de uma afirmação de fé, um lamento religioso, espécie de queixa conformada, desabafo de trabalhador insalubre. Algo como “se a vida é essa merda e Deus é por nós, não precisamos de ninguém contra nós”. Como quem diz de alguém hábil em puxar tapetes alheios que, com um amigo como o fulano, não precisa de inimigos. Eu juraria que era essa mesmo a minha interpretação, não fosse jurar em vão um pecado tão feio. Só depois de algum tempo e discreta investigação é que entendi o otimismo quase ufanista da sentença. Deus é nosso país, é nós, está no nosso time, então não há quem possa ser contra nós. É esse o sentido da frase, amores, agora eu sei. Só eu, talvez por relutância cética, ainda era incapaz de entender.

Mas o que importa, se é que alguma coisa realmente importa, é que isso estava escrito embaixo da linda frase “Quem cria confia”, gravada em letras bem grandes no saco de ração para gado. Que era ração para gado não pude ter dúvidas, porque também estava escrito, acima de tudo: Cooperboi – tecnologia em nutrição animal. Não me perguntem o que esse saco estava fazendo nas obras do meu escritório, porque isso nem a Bíblia deve explicar, e olha que, pelo visto, ela explica muita coisa para muita gente. O saco simplesmente estava lá, guardando entulho e me jogando na cara a linda frase que não pára de piscar na minha insegura massa cinzenta.

Quem cria confia. Pensei na minha filha, é claro, razão da mudança do meu endereço de trabalho, mas pensei também na feliz coincidência de dar de cara, em plena reconstrução pessoal, com o que também pode ser lido como uma afirmação de fé artística. Enquanto olho rachaduras na parede e espio espelhos de tomada, penso em como está sendo importante me reformar inteira.
Voltar ao trabalho depois de qualquer licença maternidade, seja ela regulamentada por lei ou por um período sabático, é mesmo arrancar o piso, quebrar paredes e começar tudo de novo. É ir na loja de materiais de construção como quem vai para a análise e sair de lá carregando uma tampa de vaso como quem empunha uma credencial. É olhar para uma parede crua, descascada, irrefutável concreto, e se perguntar se um dia ela vai mesmo aparecer pintada de branco celeste, criativa, produtiva e devidamente sociabilizada.

Tenho fé que sim. Acredito muito nos mestres de obra, nas rações de gado e no poder de resiliência das paredes rachadas. Quem cria confia.


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Minhocas no deserto




Faz quase um ano que não escrevo uma linha, porque post de blog não conta. Vivo um certo deserto criativo, um Mojave californiano sem cactos nem oásis naturais, muito menos relances psicodélicos de Las Vegas. Dou-me a desculpa de que falta tempo e espaço, o que não é uma desculpa, afinal, mas o fato é que posso estar seca e murcha como a velha do meu livro recém lançado.

Penso, sim, em escrever sobre várias coisas. Minhocas, por exemplo. Quando voltei da maternidade com a Alice e passei a conviver com a exaustão e a angústia como quem passa manteiga no pão, pensei muito nelas, nas minhocas. Eram os meus braços, que, flácidos, doloridos e magros, me faziam pensar nelas. Mentira, as pernas bambas e a bunda magra também. No banho eu era toda minhoquinha subnutrida, daquelas molengas que devem morrer de susto antes mesmo de perceber a sombra de uma sola de sapato.

Precisei do rito de passagem da licença maternidade autônoma (leia-se especializar-se em recusar trabalhos) para lembrar, graças a uma arrumação nos meus alfarrábios, que as minhocas são seres muito intuitivos. Podem respirar através da pele e têm, provavelmente, o melhor tato da cadeia animal. Como os faraós do antigo Egito sabiam, são animais muito importantes em qualquer ecossistema. A admirável fertilidade do Vale do Nilo, por exemplo, se deve a elas, que transformavam os dejetos trazidos pelas enchentes no mais rico adubo. Uma minhoca, pasmem, é capaz de remover até 60 vezes o valor do seu peso em quantidade de terra. Pra isso ela come diariamente uma quantidade de alimentos igual ao seu peso corporal e produz, da mesma forma, húmus equivalente à sua massa corpórea. Isso tudo com um cérebro do tamanho de uma ponta de alfinete.

E por que sei isso tudo sobre, deus do céu, minhocas? Porque já fui muito otimista e sonhadora e topei, por duas mil patacas, escrever uma espécie de autoajuda focado no exemplo das minhocas. Seria um livro-agenda com algumas páginas em branco, onde o leitor aprenderia uma metodologia de anotações capaz de espanar a poeira de sonhos engavetados.

O tempo passou e, confesso, minha relação com os anelídeos já não é mais a mesma. Nossa amizade esquecida e hoje muito burocrática não anda rendendo adubos nem cosméticos alemães, que dirá livros. Minhas minhoquices andam pálidas, translúcidas, ainda moles apesar do resgate da minha musculatura analisada no chuveiro. Ou então, numa perspectiva otimista em homenagem aos impulsos da juventude, estão revolvendo a terra no escuro, à espera do sol escaldante do deserto.

Quando todos se encontrarem, o sol e as minhocas, só restará pó e fumacinha, mas no meio disso alguém terá, finalmente, atravessado o deserto com um restinho de gasolina e, quem sabe, um pouco mais de bom senso.