terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Escolhendo as palavras



Quando eu ainda era uma garotinha, em priscas eras (essa é a deixa, meninos, façam aquela cara de “imagina...”), também trabalhei na sucursal serrana do jornal O Dia. Em janeiro. Em Petrópolis. É claro que vieram as enchentes e eu, foca de 18 anos, me vi entrevistando gente que perdera, quando pouco, a casa e todos os bens. Era difícil ser repórter naquela época, não sei se hoje ainda é assim. Éramos recebidos nas comunidades como se tivéssemos culpa no cartório e aquela fosse a hora de indenizarmos todo mundo por tudo.

Descontado o stress natural causado por calamidades como a desse ano, também estava presente, entre as vítimas daquela enchente de 1993, uma compreensível revolta com o descaso das autoridades públicas.Na época apurei que já existia, de fato, tecnologia suficiente para prever enchentes e, caso necessário, recomendar a saída de moradores em áreas de risco. A medida não evitaria desabamentos, mas muitas vidas poderiam ser poupadas.

Não é preciso fazer contas para saber que se passou um bom tempo de lá pra cá e também não é requisitado diploma de jornalista para ver que, pelo visto, nada foi feito desde então para prevenir outras tragédias. Já li de meteorologistas que o desastre desse ano seria praticamente inevitável, já que combinou a violência das chuvas com áreas íngremes, instáveis e densamente povoadas. Mas não são exatamente assim as áreas de risco, gente? Será que realmente ninguém poderia ter se tocado disso antes?

Uma das poucas coisas que sei hoje, imantada aqui ao teclado, é que a tecnologia não pode ser omissa. Números e gráficos têm responsabilidades. O botão Enviar da caixa de emails também, assim como o botão Responder, Responder a Todos e, principalmente, o Encaminhar. Tão fácil, tão rápido. E tão omisso.

A solidariedade de todos nesse momento me emociona, mas, ao mesmo tempo, me faz torcer para que ela não disfarce a real responsabilidade das prefeituras e do Governo daqui pra frente. A sociedade civil pode e precisa ajudar, é claro, mas não deve tirar o foco de quem é pago para fazer exatamente o que ela está fazendo.

Nunca mais cobri enchentes, graças a Deus. Aquele estágio na Geral do Dia me traumatizou um bocadinho. Tratei logo de fazer os especiais de domingo, que os jornalistas então chamavam de features. Perfis e historinhas, em bom português de bobaginhas. Estava trocando a rudeza dos fatos pela das palavras, e aí, acreditem, já ia muito.

p.s. Quando estava prestes a postar, escutei os três primeiros trovões que sempre anunciam uma queda repentina de energia elétrica aqui no faroeste. Que São Pedro dê logo uma trégua.

Um comentário:

Anônimo disse...

concordo em numero,genero e grau...
E aqui na Serrinha, de novo enchente na cidade,quase me pegou ontem.bjs