terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Ano novo, cara nova



Resolvi me repaginar nesse final de ano. Em 2010 serei uma nova mulher. Recauchutei tudo, dos pés à cabeça, mas foquei mesmo meus esforços estéticos no rostinho. Afinal de contas é ele quem dá as cartas e hoje em dia é mais importante do que qualquer outra manifestação pessoal, entenda-se por isso alguma personalidade, modo de vestir e falar, curiosidade por assuntos diversos, interesse por uma determinada área de conhecimento como, por exemplo, ai (suspiro de tédio com direito a olhinhos e cílios com rímel revirados para o alto), a filosofia. Não, bobinhos, nada disso é mais importante do que um bom lay out up do ano. Nada. Mas nada mesmo. Estou rindo de quem acha que pensar é mais importante. Ah, crianças. Pensar dá rugas!
Então aderi. Se não pode contra eles, una-se a eles. Já que moramos no império da imagem, que deixa roucas as outras vozes de expressão e impede, por exemplo, que as mulheres se rebelem contra complôs de fashionistas sádicos ocupados em torná-las adultas vestidas como crianças, babados frufrus e lacinhos em alta, achei melhor me render. Laissez faire, laissez passer, é o que manda até hoje a economia. Fui abduzida por eles, gente, mas adorei o resultado. Estou ou não estou mais bela, meninos?

Um 2010 repaginado para vocês também!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Reta final





Como vocês já sabem, a minha fadiga de final de ano é algo assustadora. Tá difícil até de postar, gente! Por isso fiz uma eleição interna aqui e a poesia abaixo venceu o concurso das melhores poesias publicadas em 2009 na umbigolândia. Ganhou o direito de ser republicada e de ser enviada aos amigos por email. O que é uma grande honra, é claro.
Com ela deixo os meus melhores votos de felicidades para o próximo ano, assim como um desejo enorme de que o Papai Noel, desta vez, acerte todos os presentes.


Maresia tem nome
é esquina abrupta
que te abraça lambido
Névoa lânguida
que te molha disfarçado
Instância rarefeita
que resolve problemas
nem pensados
Nuvem disfarçada de riso
Água transmutada em prazer
Vida suada, pele grudada
De acontecer, anoitecer
e começar tudo de novo
seco-molhado
amanhã.

Feliz 2010, cambada!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Um step na frente

Lembram do Leonardo Sandoval, o sapateador do Leblon?
Esteve ontem no Jô Soares!

Não é por nada não mas, como diria o jargão... eu furei o Jô!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Jingle Bells

Todo ano é a mesma coisa. Dezembro chega com um cansaço inominável, uma fadiga daquelas de te jogar na cama e deixar os neurônios perdidos no travesseiro. Passo por isso há muitos anos. Já arrisquei várias explicações.

Uma delas é que sou freela há mais de dez anos e desde então não tenho férias regulares, o que me faz ver o final do ano como aquela época liberada ao descanso, com o calendário cheio de álibis como amigos ocultos, festinhas e so on. Então o corpo pensa ooobaaa e se joga na cama à minha revelia. O problema é que os meus contratantes não sabem disso e costumam ter o mau gosto de me passarem trabalhos meio urgentes nessa época. O meu cérebro não entende o contra-senso e fica muito perturbado. Revoltado e deprimido, não necessariamente nessa ordem.

Também já me disseram que a canseira pode ter algum fundo energético, porque essa é uma época em que as pessoas pensam muito na vida, se deprimem e se estressam com os preparativos das festas que deveriam servir para trazer paz. Vai saber.

O que sei é que ontem fiz ioga e cumpri com alguma glória vários exercícios que ainda não conseguia fazer completamente. Fui e voltei da invertida sobre os ombros com pernas esticadas e abdômen irrepreensível, compensei na postura do peixe tirando os braços do chão e sustentando o tronco com a força do cocuruto, sustentei o corvo por mais de dez milagrosos segundos, enfim, uma festa, quem é iogue sabe. Só ficou faltando dar uma força para os músculos, que sem um potássio básico depois da aula costumam reclamar. Some a isso uma dor de estômago causada pelos excessos do final de semana e entrei em colapso. No final do dia já me arrastava pela casa, curvada, sem saber onde acabava o estômago e começavam as costelas porque doía, negada, doía tudo junto.

Adernei. Levantei a bandeira branca. O fim do ano chegou.

Boas festas para vocês também.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Nós e os outros

Jill Taylor é neurocientista. Sempre senti um certo arrepio ao ler essa palavra, “neurocientista”. Porque, pensem bem, quem fala de um cérebro é sempre um...cérebro! Com as mesmas limitações, parcialidades e percepções enquadradas no espaço-tempo do cérebro analisado. Então o que posso pensar sobre o fora está, eureca, sempre dentro. Donde se palpita, ao menos aqui nos limites da minha patota interna, que a neurociência está mais para a ficção do que para a ciência, com a diferença que essa ficção pode ser muito objetiva e pontual. Uma historia muito bem contada, com muito estilo aliás, mas que não é capaz de explicar para uma célula o que é a dor funda da angústia no peito nem o azul sombrio da depressão, muito menos a suavidade brilhante e colorida da euforia.

Sim, um neurocientista explica usando termos químicos, e ouvimos falar sobre receptores de serotonina e sinapses nervosas. Mas, gente, vai explicar isso para a molécula! Vai sentir isso na alma! Vai convencer Rimbaud e sua célebre frase, “Eu sou um outro”! E Foucault, gente? “O ser humano é o que há de ser construído”, escreveu o sujeito. O equipamento humano, ele lembrava, é também uma construção filosófica. Como dormir com essa, crianças?

Bom, Jill Taylor conseguiu dar esse passo agregador e revolucionário. Deu um gigantesco pulo, emocionou-se e passou pelo grande abismo entre ciência e subjetividade motivada a passar suas descobertas adiante. Seu relato é científico até a medula mas também indubitavelmente humano. É simplesmente o depoimento que resume mais fielmente tudo o que ando pensando e sentindo sobre o mundo e a vida, esses pequenos detalhes que vamos deixando sempre para depois.
Não percam a oportunidade de assistir. Reservem um tempinho. Garanto que vale a pena.
Paz a todos.


TED pt_BR] Jill Taylor: Um derrame de lucidez (parte 1/3)
http://www.youtube.com/watch?v=ur7MsKQU0vk