domingo, 25 de maio de 2008

Não é mole não

Se vocês cinco ainda não perceberam, este blog aqui é o de uma escritora freelancer (olhem lá no título). Por isso vou tentar mais uma vez explicar o que vem a ser isso.
Ser escritora freelancer é ir a uma reunião sobre um novo projeto de livro que, todos esperamos, terá um patrocínio de alguma empresa. Depois de tudo conversado você vai pra casa, porque escritor freelancer trabalha em casa (o que faz muita gente achar que a gente não trabalha coisa nenhuma, é claro), e prepara um orçamento de trabalho e um cronograma. Sim, porque esse tipo de gente, por incrível que pareça, pode ser muito profissional. Então você entrega a proposta e ela é aceita. Yes! Mais um projeto para o ano! Quem sabe dessa vez as contas não se acertam e o simples hábito de tirar um extrato no caixa eletrônico deixa de ser sinônimo de enjôos e mal-estar?
Então tá. Tudo o que você tem a fazer, agora, é esperar pelo sinal verde da agência que a chamou para o trabalho. Por sinal verde entenda-se adiantamento. Passa-se um mês. Normal. Dois, três meses. Ah, a burocracia dessas leis de incentivo. Seis meses. Caraca, aí já é demais. Você manda um email perguntando sobre o andamento do projeto, afinal de contas você precisa se organizar e garantir um mínimo de disponibilidade para o livro no meio de todos os outros trabalhos em que você se mete. Nada. Ninguém responde. Tudo bem, essas coisas acontecem. Menos um projeto para o ano, deixa pra lá. Não vai ser dessa vez que você vai ao dentista nem economizar para aquela obra da cozinha.
Um ano depois, muita coisa aconteceu.Você lançou mais um livro e está mais ocupada do que nunca (o que não quer dizer que você tenha ido ao dentista ou juntado grana para a reforma da cozinha, bem entendido). Um ano e meio depois você casou, tirou suas primeiras férias de um mês em dez anos, lançou mais um livro e ganhou um pouquinho de prestígio, que é aquilo que ameniza o enjôo naquela hora difícil, a de tirar um extrato.
E de repente, quando você nem lembrava mais que raio de projeto era aquele mesmo, você recebe um telefonema. Finalmente o patrocínio saiu! O ânimo se renova, mas nem tanto. Onde você vai, a esta altura do campeonato, enfiar mais um trabalho na agenda? Enquanto você ainda está tentando encontrar uma saída, recebe a seguinte informação adicional: a verba que saiu é menor do que se esperava e o livro terá de ser feito em menos tempo. Ou seja, um ano e meio depois, não só o seu orçamento não será atualizado como ficará menor do que o acordado, e isso tudo com menos tempo para trabalhar. E, claro, é pegar ou largar. Se você não quiser comprometer os outros projetos em andamento e manter o mínimo, um fundinho só de sanidade mental, a única opção é largar. Larguei.
Isso é ser escritora freelancer.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Não é mole não"
Oi Carla, adorei sua definição como sempre o bom humor é fudamental, Parabéns
Abs
Eduardo
PS: São seis no mínimo, os leitores

Anônimo disse...

É...
Não é mole não...
Bola pra frente!!!
beijos,
Celia