domingo, 10 de agosto de 2008

O que cai do céu é chuva

Está difícil, cambada. Trabalhei o final de semana inteiro e não pude nem subir a serra para passar o dia dos pais com papi. Mas valeu a pena. Estive selecionando os melhores momentos de todas as entrevistas que fizemos para o livro do Nós do Morro. Entre as cerca de 300 páginas de depoimentos, alguns trechos são memoráveis. Como as lições da Mary Sheyla, que entrou para o Grupo aos sete anos, quando o Guti nem trabalhava ainda com crianças. Mary já era tinhosa e o venceu pelo cansaço.
Um dos nomes mais conhecidos do Nós do Morro, Mary Sheyla foi a primeira criança a ingressar no Grupo. De cara, já em 1999, despontou no longa Orfeu, de Cacá Diegues, e no seriado Cidade dos Homens, de Fernando Meirelles e Regina Casé; dividiu palco com Luana Piovani nas peças A.M.I.G.A.S. e Alice no País das Maravilhas, e ainda recebeu papel de destaque na série global Laranjinha e Acerola. Melhor Atriz no Festival de Cinema Brasileiro de Miami de 2002, com o curta-metragem A breve história de Cândido Sampaio, de Pedro Carvana (2001), a atriz se orgulha de exibir uma jornada vitoriosa dentro da cena artística nacional: nunca teve outro emprego. É com a vida atravessada pela arte, atuando sem parar no cinema e na TV, que ela paga as suas contas e ajuda a família. Em 2006, ganhou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no 34º Festival de Gramado, pelo longa Anjos do Sol, de Rudi Lagemann.
Então, em homenagem a todos nós, trabalhadores do Brasil, alguns dos melhores momentos da sua entrevista:

Trabalho
O Nós do Morro me ensinou que nada cai do céu, o que cai do céu é chuva. E até pra Deus te abençoar, você tem que fazer a sua parte. Eu demorei muito a ter oportunidade, eu comecei no Nós do Morro com 7 anos e tive a minha primeira oportunidade aos 18. Durante esse tempo todo eu só estudava, fazia os espetáculos, tinha uma responsabilidade grande com meus horários e já acreditava na filosofia multiplicadora. Por isso hoje eu chego no mercado tranqüilamente, não tenho medo de nada, estou pronta pra qualquer parada, porque eu sei o que passei. E eu tenho para onde correr também, eu tenho a minha casa aqui. Então não tem aquele desespero que outros atores têm, que quando acaba uma novela bate aquela dor de cabeça, aquela preocupação. Que nada, estou tranqüila, tenho minha casa aqui, eu sei que coisa boa está vindo por aí.

O Vidigal
Eu não largo isso aqui por nada, eu sou apaixonada por esse lugar, eu não sei o que o Vidigal tem que me fascina, o Vidigal me fascina. Não sei se é a energia, talvez seja até pelo Nós do Morro, pela minha família. Sou apaixonada por esse lugar.

Oportunidade
Quando eu era criança sempre vi os outros tendo oportunidade, todo mundo passando na frente e eu nada, e a minha mãe sempre falava: “Calma, filha, sua hora vai chegar e não vai ter pra ninguém”. Eu achava que era coisa de mãe. Mas chegou mesmo. Eu tenho a sensação do dever cumprido, não tenho a sensação de deixar nada a dever pra ninguém, porque eu lutei muito pra estar aqui onde estou, paguei um preço. E é um barato você ser um referencial, hoje em dia as crianças aqui da comunidade têm um referencial, coisa que eu não tive. Que bom que eu trabalhei pra isso, pra ser um referencial pra elas.

Preconceitos
Olha, a gente não pode falar que é tudo bem porque não é, talvez a sociedade não esteja pronta pra lidar com as diferenças, pra lidar com a minoria mas, ao mesmo tempo, ela é obrigada a nos aturar, a nos engolir, porque eu sou talentosa, tenho consciência do que eu sou na sociedade, do espaço que eu ocupo e eu não estou lá de bobeira, não estou lá à toa e nem por acaso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não fez mais do que a sua obrigação em passar o fim de semana trabalhando. Eu não aguento mais ficar lendo esses trechinhos do livro! Termina logo para eu poder ler tudo!!

Muito bom!!

Leandro