domingo, 24 de outubro de 2010

O caminho do meio



Quando você estiver assim, assim, de moral baixa, desenxabido, descrente da pátria nossa, corra para a livraria mais próxima e leia Jorge Mautner. Ou assista seus bem fundamentados devaneios nos cursos que volta e meia pintam no POP. Siga corretamente suas instruções. Você provavelmente vai parar numa aula de tai chi chuan no Jardim Botânico e, olhando para as palmeiras, vai descobrir que a vida pode ser verde, amarela e... bela.

O futuro, segundo Jorge Mautner:

A civilização superior do amor nascerá no Brasil. Seremos seres exóticos e sentimentais, onde toda afetividade será imediatamente captada por elétrons e a religião se tornará apenas uma questão de consideração com o próximo. Como já disse o poeta Walt Whitman, o Brasil será o vértice da humanidade, onde a capacidade fluídica dos brasileiros de reinterpretar tudo imediatamente, sempre, fará com que justiça e liberdade possam aflorar juntas.

A escolha do Brasil como país sede das Olimpíadas, aliás, já faz parte de uma geopolítica da paz. Darcy Ribeiro já dizia estarmos nos meio da Índia, da China e de todas as terras do mundo, tamanha a riqueza de nossa mistura. É nesse melting pot, onde residem a maior floresta do mundo e índios ainda nativos, que frutificará a semente da convivência pacífica entre todos os povos. Nossa grande inteligência será a emoção e a catarse permanente instigada pela internet, que eliminará toda e qualquer chance de algum processo ditatorial ressurgir, nos levando pela mão à democracia e ao eterno neo-renascimento.

Viveremos eternamente, sem doenças nem segredos, com tempo suficiente para filosofar. Com a descoberta do DNA, do autorreplicante, da nanotecnologia e dos neurônios implantáveis, seremos controlados e controladores e superaremos todos os atritos. Será, finalmente, o fim da metafísica. O Brasil, assim, reviverá sabedorias antigas e será imitado e mimetizado, concretizando o que Ghandi quis fazer na Índia e não conseguiu. Todas as filosofias do mundo, que já estão aqui, serão saboreadas por todas as nações mundiais.

Como profetizou Stephan Zweig, o Brasil será mesmo o país do futuro, com o afeto como moeda forte. Quanto mais local, mais universal será o amor. Nosso caminho do meio será a esperança do mundo, onde tudo será construído através da interpretação do amor, da afetividade, do carinho. Seremos capazes de aplacar todo e qualquer ódio. Triunfaremos sem alarde. Mas com muita festa.

Que Oxalá e todos os 33 milhões de deuses indianos o escutem.

2 comentários:

Rafael Sperling disse...

Parece um futuro interessante...
Fiquei curioso sobre esse livro do Mautner, qual é o nome do livro?

Carla Mühlhaus disse...

O livro da foto é o Encontros, coletânea de entrevistas que vai desde 1962 até 2007 (Azougue Editorial). Estão lá as principais idéias dessa visão de mundo, mas acho que a obra fundamental mesmo dele nesse sentido é o Fundamentos do Kaos, de 86. Ou ainda, para ter quase tudo, a Mitologia do Kaos, com obra completa e ainda um cd, também da Azougue. Encomendei esse último porque não se acha fácil...