quarta-feira, 3 de junho de 2009

Quem quer abacaxiii?

Ahá! Acharam que eu ia desistir? Nananina-não, crianças. Aí vai mais um catarrinho, antes que vocês mudem de idéia. Ou que não mudem, sei lá. Ando tão confusa...

III

Era na Travessa Chinesa, n° 5. Um destes fast-foods chineses. Curioso comemorar o aniversário de um amigo japonês em um restaurante chinês. Já no táxi, o desespero de Duda por não achar o lugar. Sempre ficava muito nervoso nestas horas. Do outro lado da rua imunda, uma calçada escura cheia de estrangeiros dopados. Na saída do hotel, quando percebi que tinha esquecido tudo e me lembrei da pantera do outro lado da porta de madeira com uma única tranca, tremi e pedi um copo d’água para um colega que não voltou mais. Tinha ido comprar os comprimidos e acabou preso. Ainda lembro dos olhos dele, arregalados, incrédulos ao andamento da nova lei.
Na casa de folhas, que a gente chamava assim porque tapava as janelas com folhas grudadas a cola, nada disso acontecia. A droga, qualquer uma, era visita freqüente. Depois, com folhas grudadas no corpo por pura diversão, vinha a brincadeira do gol. Um goleiro, um jogador e uma bola. A bola era sempre o perdedor. Arremessado, geralmente se machucava.
Tudo isso a gente lembrou na Travessa Chinesa. Eu com a mesma mochila de Primeiros Socorros que a Quênia também usava. Não servia para nada, mas em cavalo dado não se olham os dentes, era o que se dizia. Era bom mesmo não olhar, porque deviam estar tão podres e fedidos quanto os becos e ruelas ali perto. Eu mesma não tomava banho há três dias. Ou o que eu achava que eram três dias. Já havia perdido a noção do tempo fazia muito tempo, ou algo parecido. Acho que contava os dias de acordo com os pesadelos da pantera. Ficavam piores a cada dia. Se ao menos a gente morresse logo de susto, antes de ser comido vivo por ela, negra, com os dentes molhados de saliva pedindo carne de mulher, sua preferida. Foi uma eternidade enquanto a porta de madeira agüentou.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você tem andado muito rápido, não estou conseguindo acompanhar. Acho que obra é casa é sempre um estímulo...
Celia