sexta-feira, 5 de junho de 2009

Estamos em obras

Finalmente conseguimos começar as obras da cozinha. Que felicidade! Que expectativa deliciosa essa de ver um piso todinho novo, paredes idem, tudo na mais perfeita harmonia estética, sem tintas descascadas e rachaduras polvilhadas por todo o ambiente. Que delícia respirar fundo e sentir as lambadas da poeira lá no fundo do nariz, fechar os olhos e escutar o barulho infernal do quebra-quebra, passar os dedos pelos rodapés e sentir a textura áspera do pó que, provavelmente, vai habitar o nosso lar doce lar por um bom tempo.
Isso sem falar na diversão que é levar toda a cozinha para a sala. Agora tenho certeza de que o insight do loft aconteceu na cabeça de uma pessoa que estava fazendo obras na sua cozinha. O sujeito estava lá, sentadão no sofá, ao lado da geladeira e, num momento divino em que faiscaram luzes nas suas sinapses nervosas, percebeu que precisava apenas esticar os braços para pegar mais uma cerveja. Depois olhou para o outro lado e viu que o seu fogão ficava muito belo e distinto ali, ao lado da janela. E a máquina de lavar perto do aparador? Um luxo! E... eureca! Estava criado o loft! Isso sim é arquitetura, crianças!
Bom, como o nosso loft fica no faroeste e não em NY, ele parece mais um favelão, mesmo. Ao menos é a impressão que dá quando passo correndo por ele, aos soluços, um só olho aberto. E também quando percebo, macarrão encomendado por telefone no colo, que não tenho a menor idéia de onde encontrar um garfo. Deve estar no meio da montanha de louça empilhada na mesa e coberta com uma coleção até então desconhecida de panos de pratos dos mais variados. Como a gente acumula tantos panos de prato, gente? Onde eles estavam esse tempo todo?
Bobagem, vocês dirão. Obra é assim mesmo, não é? Não, não, não é não, essa não é não, senhores, não, não! E sabem por que? Porque essa é a primeira obra que uma escritora freelancer e um roteirista recém contratado bancam em vôo solo, quer dizer, duplo. Não é lindo? Não é emocionante? Não é sublime?
Então. Vou tentar me lembrar disso amanhã, antes de tropeçar no microondas, fazer café na cafeteira com guardanapo no lugar do filtro e sentar no sofá coberto com lençóis para saborear um pão velho. Em cima de um prato de plástico.


P.s Não pensem que vocês vão se livrar dos catarrinhos. Eles continuam.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pano de prato é um problema e aguarde que vem mais para a inauguração...
Celia