segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

CVVOT

Acho a secretária eletrônica a melhor invenção dos últimos tempos. Ela é simplesmente perfeita. Não tem mau humor, não cobra salário nem 13º, não julga seus horários e ainda por cima passa os recados direitinho, sem que você precise estudar grafologia para entender os bilhetes capengas deixados na geladeira. Como trabalho em casa e escrevendo, pra mim ela tem uma vantagem a mais: não preciso atender telefone! Aliás, há alguns anos não atendo telefone quando estou escrevendo. Os parentes e amigos já sacaram, o que faz com que volta e meia o celular em vibracall rebole na mesa.
Ah, sim, e tenho ainda mais um motivo fortíssimo para não atender telefone. Quando nos mudamos aqui para o faroeste, herdamos um número de telefone que era de uma... cooperativa de táxi! “É do táxi?” virou uma pergunta recorrente do outro lado da linha, especialmente em dias de chuva. Na época, meu sangue cidadão me impediu de pagar 70 reais para que a Telemar consertasse o seu próprio erro, o de passar um telefone comercial para uma residência. Mandei carta para o jornal e tudo, mas não teve jeito. Com as brechas das leis as empresas podem tudo, principalmente te fazer de otário. E eu não daria mais nem um centavo para aquela corja. Vip’ s Táxi, lá fomos nós. Até hoje ligam. Eu desligo praticamente na cara, o meu marido ainda tem a pachorra de dizer que não, ele não sabe o número novo da cooperativa, desculpe. Também tem aqueles que deixam recado, “Oi, eu queria pedir um táxi aqui para a rua Armando Lombardi...”. Agora pelamordedeus me digam, como pode alguém na face da terra achar que uma empresa de táxi trabalharia com uma secretária eletrônica?
Mas o fato é que hoje, quando o telefone tocou à tardinha, eu estava zen.
“Alô”. Silêncio. Esse é o pior dos prenúncios. Quando demoram para falar do outro lado e você escuta um certo clique de ligação transferida, já era. É telemarketing na certa. “Por favor, a senhora Carla?” Neste ponto eu respiro fundo e recito mentalmente alguns mantras. “É ela, quem está falando?”, pergunto logo. “É da Rede Makro de supermercados”. Caraca. Já não basta os cartões de crédito, agora também os supermercados? O que é agora, vão querer me vender carne por telefone? “Ah, tá bom, eu não estou interessada em nenhum produto, obrigada”, disse, já desligando. (Eu poderia ser bem mais antipática, queridos, vocês não viram nada.) Segundos depois, o telefone toca de novo. Ponho o fone no ouvido e ouço, numa voz sussurrante e ameaçadora: “Idiota!”. Taquicardia. Era só o que me faltava, nesse final de ano: remorsos pela vida infeliz de uma operadora de telemarketing. E se ela me rogar uma praga? E se ela tiver meu endereço e começar a me seguir, com uma carne congelada nas mãos? (Quem lê Hitchcock sabe que dá pra morrer com uma dessas na cabeça, com a vantagem da arma do crime sumir depois de um bom prato de carne assada... não é de arrepiar, crianças?). Meu Deus, o que eu faço?
Resolvi ligar para a Makro. No mínimo, para fazer uma reclamação com a gerência. Estou até agora tentando. Só dá ocupado. Quem sabe não consigo antes de 2009?
Na dúvida, fiz a resolução mais importante para o próximo ano: recuperar hábitos antigos como não atender o telefone e propor, para alguma ONG, uma espécie de CVV para operadores de telemarketing. Seria mais ou menos assim: você, que não quer ser importunado por essas ligações, se cadastraria nessa ONG. Quando você recebesse a ligação, ela seria imediatamente transferida para a Central de Valorização da Vida dos Operadores de Telemarketing, o CVVOT. Nesta central, voluntários treinados teriam toda a paciência do mundo para ouvir as queixas dos operadores e os demoverem da idéia de matarem seus clientes com grandes pedaços de carne congelada. Não seria mais feliz a vida?
Tudo de bom pra vocês também.

2 comentários:

Anônimo disse...

Uau, Carla! Passei um tempo sem aparecer por aqui e quando chego está cheio de coisa nova e legal! Que bom! Adorei os últimos textos - destaque especial para a imagem da fotógrafa de textos, do post anterior, que é muito linda! Quanto ao telefone, a secretária eletrônica também é uma grande amiga minha. Agora mesmo estou com uma tradução grande pra fazer, com prazo apertado e deixo a bichinha trabalhar sem culpa. E agora farei isso mais ainda - sou meio esquentada e fiquei com um certo receio de um tal pedaço de carne congelada acabar me acertando... Tenho filho pra criar rsrs

Anônimo disse...

E você não sabe que ontem me indicaram essa empresa de Taxi, que é a melhor da Barra. Dão desconto e tudo mais. Com tanta amolação acredito que vocês tenham direito a viagens de graça!!!
Agora essa do telemarketing me deixou apreensiva. Que meda!!!

Celia