segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Àqueles que zumbem



Escritores freelancers são, geralmente, seres de saúde frágil. Tensos, com vontade de comer o mundo e uma certa dificuldade para pôr os pés no chão, costumam sofrer além da conta com detalhes insistentes da vida como contas a pagar, prazos, revisões intermináveis de texto, problemas com o marceneiro, odiosas listas de supermercado. Com isso eles produzem de forma nada poética gastrite, dor nas costas, zumbido. Sim, zumbido. Tinnitus, para os íntimos.

O meu zumbido começou há dez anos, depois de uma crise de tendinite. LER, para os íntimos. A minha cervical pediu as contas, mandou recado à patroa dizendo que estava muito cansada e deixou de lembrança tonturas, enjôos e, tempos depois, um zumbido persistente. Tipo apito no ouvido direito, tipo chiado no esquerdo.

Viraram-me de cabeça para baixo, sacudiram um pouco e não descobriram nenhuma causa orgânica para tal piada de mau gosto das minhas orelhas. Culpou-se, então, a pobre da cervical, que deste então vem se tratando com ioga e massagem e, agora, passou pela via crucis de uma semana de abstinência de café. No segundo dia o cérebro adernou, levantou bandeira branca e deu sinais de que ia abandonar o bote, despedindo-se com um gugu-dadá babado e quase imperceptível. Até hoje continuo tentando me comunicar com ele de forma inteligível – não sei se venho tendo sucesso, sinceramente. Também perdi o discernimento depois de tantas doses de descafeinados.

Abuso de cafeína pode ser uma das causas de zumbido. Muitas vezes basta uma semana de abstinência para que o chiado ou apito sumam ou diminuam o volume. Aprendi isso na palestra realizada aqui no Rio pelo Instituto Ganz Sanchez, da Dr. Tanit, reconhecida hoje como a melhor especialista no assunto do Brasil. A palestra fez parte da Campanha Nacional de Alerta ao Zumbido. Ao contrário do que se imagina, o zumbido é muito comum. E antigo. Van Gogh teria cortado a orelha por isso e Beethoven, em carta ao irmão, escreveu que seus ouvidos "apitavam dia e noite".

Hoje, cerca de 17% das pessoas no mundo sofrem do mal, o que representa mais do que asma, gota, cegueira ou Alzheimer, por exemplo. No Brasil, fazendo as contas, isso quer dizer que 28 milhões de pessoas tem zumbido!

Várias causas de zumbido já são conhecidas e algumas são até fáceis de tratar, como o abuso de cafeína (mais do que três xícaras pequenas por dia), de doces e alimentos gordurosos. Outras causas comuns são exposição a sons altos, otites, labirintites, envelhecimento, diabetes, pressão alta, doenças do coração, da tireóide, problemas emocionais. Uma única pessoa pode, portanto, ter várias causas para o zumbido, e é preciso atacar em todas as frentes.

Há vários tratamentos para o zumbido e é importante procurar um otorrino de confiança. E para evitar que ele se manifeste é preciso controlar o estresse com atividades físicas e relaxantes como... ioga e meditação. Bingo! Juro que foi o folder explicativo que disse isso e não a iogue aqui, crianças. Mas lendo o livro da Dra. Tanit, Quem disse que zumbido não tem cura?, tive a certeza definitiva que tenho mesmo um pezinho 39 na India:

Surpresos com o baixo índice de queixas de zumbido no país, os médicos resolveram averiguar. Vai que a cúrcuma, além de prevenir Alzheimer, também evita o zumbido, devem ter pensado. Depois de pesquisas e entrevistas, perceberam que muitos indianos têm, sim, zumbido. Mas eles acreditam ser o zuim um sinal de que os deuses estão dentro da pessoa, conversando com a sua alma.Portanto, ele deixa de ser um incômodo para se tornar uma benção. E benção não incomoda à noite nem angustia a vida.

Há! Como o meu papo interno não sumiu completamente com a abstinência de cafeína, vou levar fé nessa tese. Fico com os deuses.

Boa noite, crianças. Apreciem o silêncio enquanto ainda é tempo.

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