segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Zen pedregulhos



Do outro lado da janela a Avenida das Américas se movimentava em ritmo frenético, faróis cortando rápido a hora do rush noturno. Cartazes publicitários de um centro comercial se elevavam acima dos carros, numa briga visual silenciosa. Sensação de estar em LA, no alto de um hotel, olhando a metrópole muda rugir lá embaixo. Do lado de dentro da janela, belo contraste: escutava barulhinho de chuva e água corrente. Estava prestes a fazer a melhor massagem de todos os tempos. Deixei quilos de pedras na maca. De repente, a vida era bela de novo.

Vivo dizendo para o meu marido, um roteirista estressado e um tanto caótico, o quanto é importante buscar a nossa paz interna. Parece piegas isso, eu sei, mas não há nada de mais importante na vida. Verdade é que a gente sabe disso quando nasce e depois passa a vida inteira desaprendendo.

Faço ioga há cinco anos e é incrível como, além de adquirir uma força muscular até então insuspeitada (quem acha que na ioga ninguém rala devia experimentar uma das minhas aulas), aprendi a ligar o power off: basta uma musiquinha dessas de cds vendidos no Mundo Verde para eu viajar para o centro da Terra.

Só que, com o tempo, precisamos sair da toca e levar esse estado de espírito para a superfície. E aí a coisa pega. São tantos obstáculos... o caixa mal humorado do banco, a diarista espaçosa, o papagaio que grita e assusta o pobre do vizinho que acabou de se mudar, o supermercado que insiste em continuar existindo. Como ser zen com tudo isso, seus neurônios se perguntam.

Há! Aí é que está! Simplesmente não sendo. A não ser que se mude para um mosteiro, é realmente sobre-humano manter-se calmo e sereno em todos os momentos da vida, principalmente da vida nas grandes metrópoles. O que se deve aprender, além de manter a classe e não arrancar os cabelos, é claro (seus e dos outros), é voltar ao estado de calma mais facilmente. É ligar o power off, mas sem precisar de artifícios como cds do Mundo Verde. Como fazer isso é outra história.

Respirando, por exemplo. Ou mudando naturalmente sua maneira de ver os problemas.

É comum a gente ouvir que os problemas servem para que aprendamos alguma coisa. Papinho. Problemas são problemas, ponto. É claro que você, tendo que passar por eles e sair bem do outro lado do túnel, vai aprender alguma coisa. Mas o aprendizado não ameniza o fato de que os problemas, caramba, são problemas! Problemas! Problemas! Não há nada de feio nesse nome, fale sem medo, não é palavrão!

Foucault já disse que habitamos um mundo constituído pela morte: morte do pensamento que teme a loucura, morte da ação que teme a delinqüência, morte do organismo apavorado pela doença. O homem tornou-se, enfim, um ser definido pelo negativo. Falha, fracasso, morte, falta. Flâmulas castradoras que esteiam o mundo moderno. Por isso mesmo, talvez, queremos sempre empurrar essas palavrinhas desagradáveis para debaixo do tapete, como se elas fizessem feio para as visitas.

Well, well, elas não fazem. Ao menos não quando as visitas ainda carregam algo de humano dentro de si. Como a paz, por exemplo.

Até a próxima. Mandem suas cartas. O consultório sentimental da blogueira zen funciona de segunda a quinta. Sexta, agora, é dia de massagem.

4 comentários:

Ana Karina de Montreuil disse...

Concordo com o papo de que todo mundo acha que praticar yoga é sentar e não fazer nada rs.
Eu tambem as vezes fico surpresa com o que meu corpo faz nas minhas praticas.
Adorei o texto(como sempre),mas será que da para você liberar o indereço dessa massagem???
Prometo que te empresto cds que você não vai achar no Mundo verde rssrsr
Bjus

Quarto de Vestir disse...

Acho que preciso urgentemente fazer ioga! Mas será que além de fazer bem pra cabeça tb faz bem para o corpo mesmo? Sei não... rsrsrsrs!
bjs

Carla Mühlhaus disse...

Como assim se ioga faz bem para o corpo???
Isso é a mesma coisa que perguntar se beber água faz bem para a saúde!!! :)

bjs

celia disse...

Já pensou em levar seu marido para a yoga? Pense nisso...rs Bjs
Celia