quinta-feira, 4 de março de 2010

De um dia para o outro

Escrever blog é meio perigoso. O texto sobe tão rápido para a rede que muitas vezes chega impulsivo, dado a arrependimentos. Lembro que na época da faculdade, em priscas eras, uma professora de técnicas de redação dizia ser muito importante deixar o texto dormir. De um dia para o outro, muita coisa muda. Você pode escrever algo que considera brilhante à noite e, na manhã seguinte, se envergonhar de um dia ter pensado possuir alguma intimidade com as palavras.Ela tinha razão, a professora. O problema é que hoje, em termos de produção criativa, ninguém mais tem tempo de dormir. Deixar o texto de molho de um dia para o outro é luxo para poucos.
E por que estou falando tudo isso? Porque, graças a Deus, ainda exercito esse luxo. O texto aí embaixo, por exemplo, foi escrito há séculos. Topei com ele por acaso nos meus arquivos e achei que, finalmente, ele merecia algum crédito. Saído de um longo coma, ele representa uma época que, ufa, já passou. Viva a liberdade. Viva os blogs.

"Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se."
Sêneca

Libertem-se, meninos.


Bananeira não

É duro escrever por encomenda, a verdade é essa. Principalmente se a encomenda for institucional, e não me perguntem o que é isso. Seguir um roteiro, um projeto ou qualquer outra fôrma pré-estabelecida pelo seu big boss é como tentar plantar bananeira algemado. Você tenta usar seu corpitcho, seu gingado, seus reflexos e até mesmo aquilo que chamam de criatividade, mas os braços não estão livres. Então você se estabaca. Cai de cara no chão. Seu texto volta cheio de senões e ressalvas, porque a proposta não está sendo cumprida. Não é que eles, os big bosses, não queiram que você encontre outras perspectivas de criação. Sim, eles querem algo ousado, sim, eles querem algo diferente, sim, eles querem um texto com “diferencial”. Mas onde já se viu plantar bananeira pra isso? Nananina-não. É preciso seguir o roteiro. É o que você já tinha entendido mas não queria compreender: eles querem algo criativo na língua deles. E o dicionário deles é bem diferente do seu.
Então você brocha. Repensa a vida. Cogita mandar o big boss pra puta que pariu (desculpem, crianças). Chega a pensar em largar tudo e, como diria Tom Wolfe, gigante do New Journalism, jogar tudo para o alto, alugar uma cabana e se entregar a ele, ao Grande Romance. E, com alguma sorte, retornar triunfante, transformado, vingado até.
Bem, tem o leite das crianças, você se lembra. Ou a ração do papagaio. Tem o dentista, o carro que vive mais na oficina do que na sua garagem, o supermercado. Whatever. Siga o seu big boss. Diga amém e guarde as bananeiras para mais tarde.

Um comentário:

Quarto de Vestir disse...

Adorei e, agora como blogueira, concordo!!!
Bjs,
Fernanda