quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Nós e os outros

Jill Taylor é neurocientista. Sempre senti um certo arrepio ao ler essa palavra, “neurocientista”. Porque, pensem bem, quem fala de um cérebro é sempre um...cérebro! Com as mesmas limitações, parcialidades e percepções enquadradas no espaço-tempo do cérebro analisado. Então o que posso pensar sobre o fora está, eureca, sempre dentro. Donde se palpita, ao menos aqui nos limites da minha patota interna, que a neurociência está mais para a ficção do que para a ciência, com a diferença que essa ficção pode ser muito objetiva e pontual. Uma historia muito bem contada, com muito estilo aliás, mas que não é capaz de explicar para uma célula o que é a dor funda da angústia no peito nem o azul sombrio da depressão, muito menos a suavidade brilhante e colorida da euforia.

Sim, um neurocientista explica usando termos químicos, e ouvimos falar sobre receptores de serotonina e sinapses nervosas. Mas, gente, vai explicar isso para a molécula! Vai sentir isso na alma! Vai convencer Rimbaud e sua célebre frase, “Eu sou um outro”! E Foucault, gente? “O ser humano é o que há de ser construído”, escreveu o sujeito. O equipamento humano, ele lembrava, é também uma construção filosófica. Como dormir com essa, crianças?

Bom, Jill Taylor conseguiu dar esse passo agregador e revolucionário. Deu um gigantesco pulo, emocionou-se e passou pelo grande abismo entre ciência e subjetividade motivada a passar suas descobertas adiante. Seu relato é científico até a medula mas também indubitavelmente humano. É simplesmente o depoimento que resume mais fielmente tudo o que ando pensando e sentindo sobre o mundo e a vida, esses pequenos detalhes que vamos deixando sempre para depois.
Não percam a oportunidade de assistir. Reservem um tempinho. Garanto que vale a pena.
Paz a todos.


TED pt_BR] Jill Taylor: Um derrame de lucidez (parte 1/3)
http://www.youtube.com/watch?v=ur7MsKQU0vk

Um comentário:

Barbara disse...

Esse video eh genial! Eu adoro a parte que ela "comeca a se sentir parte do universo, que ela esta se expandindo... epa! perai! eu preciso conseguir discar um numero no telefone!" Ela sabe que essa sensacao tao transcendental eh so o derrame acontecendo, e isso eh muito estranho.

Alias, vc ja viu tambem uma palestra com o Ken Livingtone (acho) sobre educacao? Eh super famosa tambem, deve estar nas mais assistidas.

beijos