sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Poesia ruiva

Um pouco de Sylvia Plath pra vocês:

Herr Deus, Herr Lúcifer
Cuidado.
Cuidado.

Saída das cinzas
Me levanto com o meu cabelo ruivo
E devoro homens como o ar.

Sorry, guys, mas em inglês é ainda melhor:

Herr God, Herr Lucifer,
Beware
Beware.

Ou of the ash
I rise with my red hair
And I eat men like air.

(Lady Lazarus 4)

Pra quem não sabe, Sylvia Plath foi um escritora americana que teve o descuido de se suicidar logo depois da publicação do seu romance A redoma de vidro. Tinha apenas 30 anos e depois disso os críticos se interessaram mais pela sua vida trágica do que pela sua obra. Mas os poemas que escreveu no último ano de vida resultaram num marco da poesia contemporânea, Ariel , publicado pelo seu marido infiel dois anos depois. Hoje se sabe que ele havia retirado, da publicação metodicamente organizada por Plath, poesias consideradas “pessoalmente ofensivas”. A intrusão foi descoberta anos mais tarde e o livro, felizmente, reeditado.
Ela era tão poderosa que influenciou até mesmo Hilda Hilst, a mais poderosa das mulheres no meu ideário. Hilst costumava falar da “maldição de Sylvia Plath” e dizia que seus editores esperavam ela morrer para valorizar a sua obra. Por sorte boa parte da sua coleção foi reeditada antes disso.
São muito bobas, às vezes, as razões que nos trazem alguma identificação com um poema. Lady Lazarus acima me pegou por três bobaginhas: uma é o uso do Herr, o equivalente ao Mr. em alemão. Dá a Deus e Lucifer, igualmente, um tratamento com tintas graves ligeiramente nazis, o que me soa ousadíssimo e surpreendente. Depois gosto do melódico Beware, beware, que também é algo irônico, um dedo em riste e um olho encristado em direção a algum incauto. O último e terceiro motivo bobo é o cabelo vermelho. Só porque, durante a faculdade, eu podia dizer que era ruiva. Henna vermelha da boa, natural, dessas que não existem mais. Adorava ser ruiva. Era uma transgressão de leve, uma maneira de fazer as mechas falarem o que sua dona não conseguia. Hoje sou loura e vivo ameaçando virar ruiva de novo, o que deixa o meu marido muito tenso.
Acho ainda que, na versão original da poesia, a última frase tem mais o sentido de comer como o fogo, e não como o ar. Ela devora homens como a labareda que sobe alimentada pelo ar. O cabelo ruivo levanta e devora os homens como numa chama. Tenho a impressão de que o sentido é esse, ou ao menos foi o que imaginei, mas eu, hein, quem sou eu pra me meter.

P.s Peguei mais um copidesque. Entre um projeto secreto e outro meio secreto, é o mínimo que posso fazer para entreter vocês. E também o máximo que posso fazer para descansar um pouco a cuca entre um e outro.
Cuidado com as ruivas, meninos.

Nenhum comentário: