quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Money money

Então você respira fundo, relê pela décima nona vez, confere as informações pela vigésima nona, colore todo o documento com energias positivas (rosa de amor para que ele seja bem recebido pelo destinatário), fecha os olhos e, com o dedo trêmulo e um pouco suado, aperta a tecla enter.
O que saiu da caixa postal num segundo tenso, esperançoso e irremediável não foi um capítulo de livro nem um texto de encomenda. Foi, finalmente, um orçamento de gente grande. Pela primeira vez na vida, você cobrou o que realmente gostaria de receber por um trabalho, o que de fato é justo que você tenha em mãos em troca, ora bolas, do seu rebolado. Mas o que fazer com o frio na barriga que dá depois?
É aí que a via crucis começa. A gastrite que andava quieta piora a cada dia que passa sem uma resposta do outro lado da máquina. Você tenta ficar zen, você medita, você vira de cabeça pra baixo, toma passiflorine (recomendo, queridos, a tarja é transparente mas juro que funciona). No entanto você não é de ferro. E a espera te deixa loooouca.
Do que se conclui que esperar, essa arte dos motoristas, como diria o Aravind Adiga (companheiro fiel nas horas de angústia), também é aptidão básica e fundamental para um escritor freelancer, esse bicho sinistro que vive debaixo do solo conversando com as minhocas. A terra (fértil, espera-se), fica lá, sendo mexida e remexida, revolta, aguada e adubada, mesmo que nem uma folhinha apareça no andar de cima. Não sabiam dessa? É a boa, velha e, ok, um pouco piegas metáfora do bambu. É que o bambu, antes de mostrar o nariz, cresce pra baixo, para firmar a base. Só depois é que ele desponta acima do solo, e assim engana-se quem, nessa hora, diz “Até que enfim”. Trabalho da pesada já estava sendo feito antes. Não é bonito, crianças? O que seria da carteira vazia sem consolos como esse?
Boa sorte pra vocês também.

p.s. Citei aí em cima o Aravind Adiga mas o fato é que ainda não posso falar sobre The White Tiger. Minha respiração continua curta e ofegante e temo um ataque cardíaco.

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