quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Por trás da entrevista (e do Jabuti)


A história desse livro começou há dez anos. Os livros são assim, crianças, eles têm vida longa. Eu estava recém-formada, tinha 23 anos e ingressava no mestrado da UFRJ. Comunicação e cultura. Escola de comunicação. ECO, para os íntimos. Era um grande salto. O projeto era continuar remexendo na monografia feita na graduação, já voltada para a entrevista jornalística. Procurei por livros de pesquisa relacionados ao tema como quem procura agulha num palheiro. Da primeira vez que entrei na biblioteca levei pra casa alguns milhares de fungos de mofo que detonaram a última grande crise de asma de todos os tempos. Eram tempos difíceis, aqueles.
Até que escolhi minha orientadora. Eu era sua aluna em um dos cursos cujo nome nunca vou me lembrar (Tópicos culturais da pós-modernidade ou coisa parecida... todos os nomes, pra mim, eram muito parecidos, todos queriam dizer algo muito complexo, hermético e cheio de entrelinhas, algo como “volte pra casa, pirralha, isso aqui não é pra você”). Mas, uau, essa professora falava português! E eu não precisava, durante a aula, anotar as palavras que não entendia para procurá-las depois no dicionário, recurso absolutamente fundamental nas aulas de análise de discurso, por exemplo. Eu mal podia acreditar. Finalmente um ser humano inteligível na minha seara.
Segurei nela como uma criança se pendura na barra da saia da mãe. Era ela, Heloisa Buarque de Hollanda, quem me acompanharia pacientemente por mais de um ano de lenga-lengas típicas de orientandos, provavelmente as criaturas mais chatas do universo. Inseguros, carentes, indecisos, sempre à beira de um colapso, um surto ou um suicídio. Eu não cheguei a ser isso tudo e até recebi elogios pelo meu suposto auto-controle, mas devo ter enchido um pouco o saquinho. Bom, ao menos eu já quase não me agüentava. Então eis que, quando surjo com a idéia de entrevistar entrevistadores como uma saída para driblar a rarefeita teoria e pesquisa encontrada sobre o assunto, a orientadora revela sua outra personalidade, a de editora, e me diz ótimo, siga em frente. “Mas faz pensando em um livro”.
Foi essa a benção. Está aí. Suas palavras pegam. É como promessa de mãe, como uma sentença do bem, como uma reza forte. “Vou fazer até novena pra você ganhar”, estava escrito no email que respondia a notícia da indicação ao Jabuti. Depois dessa, estou levando a maior fé.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Estamos" levando a maior fé!
Dia 23 está chegando...
Celia