segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Perto do chão

Nesse final de semana fui ao cinema. NYCC, ícone brega do faroeste. Noite de uma sexta-feira super povoada e abafada, pré-temporal. O programa de índio se justificava porque o filme escolhido tem, no time de roteiristas, uma grande amiga. Passei pelo corredor acarpetado do cinema, numa visão de Las Vegas tropical, e reparei em vários adolescentes sentados no chão de pernas cruzadas. Tão familiar aquela cena...sentar como índio no chão, em rodinha de amigos, com um pacote de biscoitos na mão, mochilas jogadas num canto. Tão adolescente, tão...tão eu quando adolescente, gente!

Ao final do corredor eu já tinha viajado no tempo e lembrado de mim mesma, estudante de comunicação da PUC, sentada de pernas cruzadas no chão com as costas apoiadas em um dos pilotis. Era a hora sagrada de jogar um pouco de conversa fora, combinar o final de semana, marcar o grupo de estudos. Naquela época não existia celular, crianças, e a gente conseguia combinar tudo direitinho, uma façanha.

Naquela hora do sentar de pernas cruzadas, breve respiro antes do estágio no Centro, a vida corrida parecia parar. Quando me formei, me dei conta de que sentiria muitas saudades daquele encontro diário. Claro que eu continuaria encontrando com os meus amigos, mas nunca seria a mesma coisa. Aquela reunião, sagrada, era a certeza da amizade sem muito esforço. Era estar lá, encontrar as pessoas certas e ponto. Sem agendas atribuladas, emails de encontra-não-encontra, mensagens de texto desmarcando horários. Sem maridos, filhos, chefes, empregadas, ou qualquer outro ente capaz de mudar a agenda.

Aquele encontro era garantido, zero estresse. E ainda perto do chão, pura reminiscência da infância. Depois que a gente cresce de verdade, o chão fica cada vez mais longe.

Deve ser por isso que gosto tanto da posição de lótus.

2 comentários:

Anônimo disse...

deu uma saudade...do meu tempo de "chão".Mas,gosto mais do savasana.bjs

Carla Mühlhaus disse...

Também adoro! Faço todo dia antes do banho, me dá a maior paz. É verdade que às vezes acabo cochilando...rs