sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

No escuro

O Carnaval começou mal. Com o sinistro assassinato de Fred Pinheiro, nosso cenário cultural entrou alguns passos na penumbra. Diretor, iluminador, operador de luz e co-fundador do grupo de teatro Nós do Morro, Fred foi responsável pela iluminação de simplesmente todos os espetáculos encenados pela companhia, que já completou 20 anos. Também foi mentor do projeto de formação de técnicos da área.

Tive o prazer de conhecê-lo e entrevistá-lo para a realização do livro Nós do Morro 20 anos, lançado no ano passado. No casarão do Nós, no Vidigal, Fred explicou sua opção pela iluminação alternativa. O que antes era uma necessidade causada pela falta de recursos da companhia que insistia em acreditar na arte em plena favela, naquele momento, em que o grupo comemorava sua mais do que reconhecida ascensão, o alternativo era pura escolha. Trabalharam com farol de carro, lanterna, vela, candelabros. Era uma aposta na qualidade da iluminação nem muito aberta nem muito clara, numa linguagem de qualidade independente de equipamentos caros e luminescências exóticas. Tal posicionamento sempre escorregou com graça para o cenário, o figurino, o elenco, a direção, para a composição do espetáculo como um todo.

Era um resultado da persistente crença na arte. “Você pode ter toda a estrutura que o Nós do Morro tem em outro lugar, com outras pessoas, mas se essas pessoas não acreditarem que aquilo vai dar certo, não dará. É preciso acreditar no sonho”, ele me disse.

Continuo acreditando no sonho. Mas tenho pesadelos de vez em quando.

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