quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Brasileiros e nem tão anônimos assim

E não é que a convocação às letras surtiu efeito?
Gabriela Gonçalves, de Vitória, mandou quase uma autobiografia, oito páginas carregadas de reflexão e coragem, e escreveu assim no email que trazia em anexo trechos da sua vida:

“Estou escrevendo há horas, não fique completamente satisfeita, mas fiz um rascunho dos meus 27 anos. Legal isso, chorei em vários trechos, relembrei fatos e filosofei comigo. Se a história não valer a pena, vai valer a experiência vivida hoje, só posso agradecer pela oportunidade.”

Eu é que agradeço, gente! Foi bonito demais ver brotar uma história assim de pronto, no impulso dos dedos correndo pelo teclado. O resumo da vida de Gabriela, hoje grande executiva e autora de blog, é o primeiro texto do baú. Está guardado pelo Reciclando Mentes com todo o carinho e cuidado.
Para quem ainda não sabe, o instituto recém criado é pautado no construcionismo social, conjunto variado de contribuições teóricas que tem ganhado espaço na psicologia nas últimas décadas, inicialmente na psicologia social mas tendo se espalhado também para outros campos como o da psicoterapia. Seus principais autores afirmam que o construcionismo se articula em torno de quatro idéias centrais: a ênfase na especificidade cultural e histórica das formas de conhecermos o mundo; o reconhecimento da primazia dos relacionamentos na produção e sustentação do conhecimento; a interligação entre conhecimento e ação; e a valorização de uma postura crítica e reflexiva.
A primeira das quatro idéias foca a atenção no contexto, na nossa janela de mundo, na nossa bossa. A segunda, muito importante, fala da importância de se olhar com calma e fundo para o outro, prática que, numa sociedade cada vez mais individualista, parece infelizmente estar fora de moda. A intenção do projeto é justamente resgatar esse olhar e assim trabalhar pela redução da violência, levando em conta as outras duas premissas, que basicamente dizem que não basta saber: é preciso pensar sobre o saber para depois agir.
Na prática, isso significa formar gestores de ONG em terapia narrativa e outras ferramentas capazes de transformar histórias sociais. No coração, isso quer dizer parar de pensar que nada tem jeito, deixar de lado a casca do doente e olhar a doença por outros ângulos, com gana de tirá-la do foco e dar espaço à vida. Quer dizer também, no final da linha, evitar o bombardeio de helicópteros.

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