sábado, 14 de fevereiro de 2009

Maha o quê?

Eu disse que o pior de mandar um orçamento decente era esperar pela resposta? Não, bobinhos. Você pode receber um ok e depois ficar esperando pelo pontapé inicial da coisa toda com a mesma ansiedade. Mas como nada em Bruzundanga acontece antes do Rei Momo, o negócio é manter o foco no que interessa. E o que interessa, ultimamente, é justamente conseguir manter o foco em qualquer coisa que seja. Então mais uma vez fui procurar inspiração nos indianos, que estou nessa bem antes de O caminho das Índias. Ando até gostando da novela, diga-se, ligeira impressão aqui de que Gloria Perez leu Adiga e Theroux e depois sapecou, é claro, alguma purpurina – afinal de contas ninguém merece o Ganges sem maquiagem.
Bom, mas desta vez ataquei logo o Mahabharata (a pronúncia é Mahabhárata), o grande épico indiano que por muito tempo foi a bíblia dos hindus. É claro que (ainda) não sou louca e tratei de arrumar uma versão adaptada literariamente por William Buck, que dedicou toda a vida a aproximar as mais de cinco mil páginas do original aos leitores mortais. A adaptação de Buck é pura melodia, uma delícia de ler apesar da total impossibilidade de guardar todos os nomes esquisitos de personagens que nascem em peixes ou em vasos de barro dividindo espaço com cem (cem!) irmãos. Do que se conclui que a criatividade é mesmo divina. E abundante.
E foi assim, na gloriosa companhia de Saraswati, a deusa das palavras e da escrita, que recebi uma lição:

Arjuna aprendia com o mestre Drona a manejar o arco e flecha. Filho do deus Indra, Arjuna mostrava talento especial para o combate. Certo dia, Drona uniu todos os seus alunos, colocou um pássaro de pano num galho a alguns metros de distância, mandou que todos se posicionassem e, arco e flecha esticados, derrubassem a cabeça do pássaro-alvo.
Quando Yudhishthira preparou-se para o lance, Drona lhe perguntou: “O que você vê?”
“A árvore e o pássaro, o arco e a flecha, e você”, respondeu o estudante. “Abaixe a arma e dê um passo para o lado”, disse o mestre. Em seguida chamou Aswatthaman e recebeu a mesma resposta. Duryodhana e seus irmãos, Bhima e os gêmeos Pandavas disseram o mesmo. Nenhum deles foi autorizado a disparar uma só flecha.
Então foi a vez de Arjuna. “Mire na cabeça do pássaro e atire quando eu disser”, falou Drona. Quando o arco de Arjuna já estava tão tensionado que formava a figura de um círculo, Drona perguntou o que ele via. “Um pássaro”. “Descreva esse pássaro”, pediu o mestre.
“Não posso, eu só vejo o seu pescoço”.
Nesse exato segundo, Drona mandou que Arjuna soltasse a flecha e a pequena cabeça de pano caiu ao chão.

Isso é ter foco. O resto, crianças, é pura dispersão.
Desliguem a televisão e só liguem de novo para ver a novela de amanhã. Jaya! Victory!

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