domingo, 8 de junho de 2008

A off broadway é aqui

Carla – Como surgiu a idéia do Nós do Morro?
Guti Fraga– Eu trabalhava com a Marilia (Pêra) e estava em Nova Iorque, onde ela fazia um espetáculo. Lá tive o grande boom da minha vida. Todo mundo ia pra Broadway e eu queria ir pra off off, queria ir no Brooklin, queria ver o blues na rua, igual ao samba daqui, eu tinha essa coisa de identidade, já tinha muitos anos de Vidigal e precisava ver a negada de lá. E aí vi coisas como uma sala mínima onde rolava um espetáculo e 10 pessoas assistindo, mas com uma qualidade impecável em luz, figurino, tudo. Falei: “Cara, é isso que eu quero”. Tinha aquela confusão ainda de Brasil, de teatro amador ser ruim. E era isso que eu queria, queria fazer a Off Broadway no Vidigal. Na volta, no avião, perguntei para o Fred (Pinheiro) se ele toparia me dar apoio técnico se eu fundasse um projeto no Vidigal. Quando cheguei aqui fui conversando com as pessoas, fui fechando.
O mais difícil foi ter de falar para a Marilia que eu não ia mais trabalhar com ela. Foi horrível, um dos momentos mais difíceis da minha vida. E aí fundei o projeto, chamei os amigos, chamei o Paulo, que hoje é nosso dramaturgo mas que fazia ainda o segundo grau e editava o meu jornal mural na época. Chamei o Paulo pra ele tentar caminhar, pra encontrar uma carpintaria de dramaturgia teatral, essa coisa toda. Mesmo sem saber, eu tinha bolado na minha cabeça como é que eu ia atingir a comunidade, ia trabalhar com alguma coisa que falasse da comunidade, e aí já tinham pintado algumas coisas filosóficas que me envolveriam: eu não queria simplesmente montar um grupo de teatro, mas um grupo de teatro com filosofia de vida, isso é o que me conduzia, obviamente, um grupo de teatro com os amigos, que eu tinha vários, tinha pessoas profissionais que podiam entrar nessa, então era uma coisa bem direcionada.
E eu acho que só tive coragem de fazer isso, na verdade, porque a Marília falava que eu era capaz, a Marília é que botava dentro de mim que eu tinha competência. Porque o pobre que não tem auto-estima (não sei nem falar muito sobre auto-estima porque hoje essa palavra ficou muito corriqueira) não tem certeza que ele é bom, e é muito complicado você não ter essa afirmação. Então eu ter a afirmação dela que eu era legal, que eu conhecia da parada, que eu fazia uma direção de cena, que eu era um bom ator, que eu estava me desenvolvendo como ator, que eu tinha capacidade disso, que eu tinha capacidade daquilo, foi ela que me deu isso. Não posso negar isso nunca, tanto que eu brinco, eu falo que ela é a avó do Nós do Morro, de tanta paixão que eu tenho por ela, por ela ter me dado isso, essa força. Foi assim que a gente começou o nosso trabalho.

That´s all, folks. Quem quiser mais que compre o livro, logo logo ele pinta por aí. Enquanto isso, não deixem de assistir Machado 3x4, adaptação livre do conto O Alienista, de Machado de Assis, espetáculo que o Nós do Morro estréia nessa sexta-feira, no Teatro Ipanema. Eu vou.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu também vou...

Anônimo disse...

Ops, quem vai é a Celia